O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Volta Bocage… — Manuel M. B. du Bocage


Soneto IX

3-12-1946

1 Que o menestrel ditoso não consiga
Exaltar o esplendor que a morte vela;
Cale meu ser as maravilhas dela,
Rude madrasta! Mãe piedosa e amiga!


2 Sua destra de sol horrenda e bela,
A emergir do albornoz de treva antiga,
Traz a foice que indômita castiga,
Fere, humilha, golpeia e desmantela.


3 De Têmis implacável, que não dorme,
Anjo e monstro, prossegue, sem repouso,
Duro alfanje a brandir no campo enorme.


4 Ao seu olhar sublime e doloroso,
À frente de seu gládio multiforme,
Reconforta-se a dor, padece o gozo.


Mel. Mª de Barbosa du Bocage


Continua considerando o tema da morte, cujas maravilhas confessa o poeta ser incapaz de decantar. O genial vate aproveita o tema para mais um dos seus contrastes, como: “rude madrasta, mãe piedosa e amiga”, “destra de sol horrenda e bela”, “olhar sublime e doloroso”. A todos a Parca vigilante olha com inflexível justiça, que eleva a dor e pune o gozo material: premia o bem, castiga o mal.

Note-se a semelhança entre os dois últimos versos do segundo quarteto com os seguintes, também os dois últimos, da 51ª estrofe do Canto III, de “Os Lusíadas”:


  “Mas o de Luso, arnês, couraça e malha
Rompe, corta, desfaz, abola e talha.


E, outrossim: compondo soneto, ainda aqui na Terra, no qual se refere às olorosas palmas do Bem e aos cardos aculeíferos do Mal, o mesmo gigante poeta nos dá viva demonstração da sua crença num Ente Supremo. Eis esse soneto:


Os milhões de áureos lustres coruscantes
Que estão da azul abóbada pendendo:
O Sol, e a que ilumina o trono horrendo
Dessa que amima os ávidos amantes:


As vastíssimas ondas arrogantes,
Serras de espuma contra os céus erguendo,
A leda fonte humilde o chão lambendo,
Lourejando as searas flutuantes:


O vil mosquito, a próvida formiga,
A rama chocalheira, o tronco mudo,
Tudo, que há Deus a confessar me obriga.


E para crer num braço, autor de tudo,
Que recompensa os bons, que os maus castiga,
Não só da fé, mas da razão me ajudo.


Mel. Mª de Barbosa du Bocage


L. C. Porto Carreiro Neto


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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