1
Pobre vate de vão merecimento,
Que viveste a esbanjar talento e rimas,
Foge ao sonho mendaz que desestimas,
Nem procures Harpias do Tormento.
2
Chora, Bocage, a perda que lamento
— O desprezo do tempo em vários climas,
Dura lembrança que também lastimas,
Na paz buscando imoto esquecimento.
3
O que é da Terra, clama, tudo passa:
Tanto a flor veludosa da Ventura,
Quanto o acerado acúleo da Desgraça.
4
De Citereia foge a formosura;
E enquanto o escrínio vil é dado à traça,
Os empíreos vergéis a alma procura!
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