1
A passagem do túmulo desata
Tanto a orgulhosos reis, como a pastores,
A Parca de mil dedos matadores
Da cólera medonha em fúria ingrata.
2
Não lhe valem à horrífica bagata
As riquezas e os dons encantadores,
Nem lágrimas, nem rogos, nem favores;
Nada lhe foge à sanha intimorata.
3
Ó Deus! Ó Céus! cruel destino humano,
Tremei, mortais, guardando vosso dia
No fraternal amor que obra sem dano.
4
Rasgam-se os véus de toda a soberbia
Ao vento do sinistro desengano,
Na amarga solidão da cova fria.
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Mel. Mª de Barbosa du Bocage
Recorda-nos que todos temos de deixar este planeta: orgulhosos, humildes, potentados, ricos, formosos. Não há fugir à morte; mas poderemos aguardar tranquilamente o instante de partir, alimentando o amor fraterno. Com este sentimento, a morte se nos transforma em amiga, em libertadora, em fonte de felicidades: não o “desengano”, nem a “amarga solidão” encontra o Espírito, ao transpor o limiar do Espaço, senão o prêmio da virtude e a companhia de amigos que o esperam de braços abertos. Vencemos, assim, a morte e o horror que geralmente nos causa seu espectro.
L. C. Porto Carreiro Neto