O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vida além da vida — Mensagens familiares de Lineu de Paula Leão Jr.


Introdução

Era uma tarde chuvosa, logo após o retorno de nossas férias passadas em Mato Grosso, de onde voltei deslumbrada com o verdadeiro “oceano” de soja que lá, e pela maior parte do percurso, pudemos apreciar, quando fui chamada a conhecer os pais de Lineuzinho.

Mais uma dessas “coincidências” que sempre nos ocorrem e nos confirmam a lei da harmonia da vida! Um casal entusiasmado com as experiências vividas após o desencarne de seu filho, e repletos de planos de trabalho, seguindo a orientação dele, para o futuro.

Este jovem afirma e torna a afirmar a importância do cultivo da soja para minimizar as dificuldades de alimentação contemporâneas e do futuro, quando este rico vegetal será utilizado através de recursos ainda mais desenvolvidos.

Para a maioria dos pais, seus filhos são sempre portadores de excelentes qualidades morais. Mas, repetir isto, no caso de Lineu Jr., não é suficiente. É preciso que se ilustre uma afirmativa que poderá parecer ôca, relatando alguns dos fatos contados por seus pais com tanto carinho e empolgação naquela tarde.

Quando pequeno, teve cachorros, pássaros, carneiros, gatos, tartarugas, etc. como muitas crianças; porém se a mãe adquirisse um frango caipira vivo, ele se tornava galo pois Júnior não permitia a sua morte.

Certa vez, conta Dona Elza, trouxeram da fazenda para a residência em São Paulo um carneiro que seria sacrificado no Natal próximo. O animal acabou sendo criado no jardim pois Júnior não deixava matá-lo.

Contaram-nos que Júnior era alto, magro, um tanto desengonçado, incapaz de vestir-se para mostrar o que não era, e nem mesmo aquilo que era.

Constantemente Dona Elza pedia que substituísse uma camisa, colocasse uma cinta ou trocasse os sapatos. Quando não estava com pressa, obedecia sorrindo:
— Ora “muié”, está bom assim, não estou vestido e calçado?

Não raro, vindo da fazenda, tomava banho, trocava roupas limpas e calçava os sapatos sujos com os quais acabara de chegar. Outras vezes, vindo da cidade, chegava à fazenda e começava a trabalhar, esquecendo-se de trocar os sapatos de cromo pela botas de serviço.

“Certa feita, diz o pai, cheguei em sua propriedade agrícola e fui encontrá-lo acompanhando a colheita de soja em cima de uma colheitadeira, sujo, alegre, risonho e… portanto um relógio Rolex caríssimo que lhe havíamos oferecido anos antes.”

Lineu Jr. recebia de seus pais uma mesada atualizada para manter-se em Belo Horizonte durante o período de faculdade. Porém, sempre que vinha para casa, nas férias, estava magro e com as roupas puídas pelo uso. Sua mãe comprava-lhe novas indumentárias e o pai reclamava, achando que se alimentava mal.

Como será que ele gastaria sua mesada para estar tão magro e mal vestido?

Bem, uns seis meses após o desencarne, eles o descobriram.

Por três vezes um jovem havia procurado Dr. Lineu em sua residência de Campo Grande, porém não o encontrara nem deixou nome e endereço, afirmava ser colega de faculdade de Júnior e queria estar pessoalmente com seu pai.

Afinal, quando encontraram-se, ele explicou: formara-se na mesma turma de Lineuzinho, e residia agora em uma cidade do interior, exercendo sua profissão com sucesso. Procurou Dr. Lineu não só para conhecê-lo como para pagar uma dívida que contraíra com Júnior.

“— Seu filho, disse o jovem a Dr. Lineu” era homem de extrema bondade. No último semestre da faculdade perdi meu avô, que ajudava a me sustentar. Eu trabalhava de manhã, frequentava a faculdade à tarde e estudava à noite na pensão. Com a perda de meu avô, vi-me obrigado a parar os estudos, pois o que ganhava não dava para todas as despesas. Resolvi trancar a matrícula e trabalhar o dia todo, a fim de capitalizar-me e terminar o curso no semestre seguinte. Estava triste, pensando se não haveria outra solução, quando seu filho chegou perto de mim e, com seu eterno sorriso, perguntou:
— Problemas? Quem sabe posso ajudar?

Confiei nele e contei-lhe meu drama. Ele ficou sério alguns instantes mas, logo depois, sorrindo novamente, disse:

— Ora, não seria o fim do mundo você terminar o curso no próximo semestre e não neste. Mas, quem sabe? Apertemos os cintos e eu poderei emprestar-lhe um pouco de minha mesada. Mais tarde você me paga.

Assim fez nos cinco meses seguintes. Ao término do curso, com emprego já assegurado, perguntei-lhe quanto haveria de lhe pagar, se iria cobrar juros, etc. Ele sorriu, bateu-me nas costas e disse:
— Amigo, tudo é fato passado. Esqueça. Vá em frente, pois sei que você está de casamento marcado.”


De outra vez, conversando com uma senhora, esposa de um oficial do exército, e sua filha., que conheceram Lineu Jr. e vieram demonstrar solidariedade pela dor vivida, o assunto encaminhou-se para a possível vingança que poderiam executar contra o motorista do FNM. Dr. Lineu confessou que este era um sentimento que procurava expelir, mas sempre retornava, acenando com o corpo carbonizado de seu filho. Só o tempo e as preces e, principalmente, a compreensão dos fatos foram dissolvendo os sentimentos de ódio e vingança.

Naquele momento porém, em que a senhora falava em vingança, sentiu que maus pensamentos afluíam ao cérebro. A jovem, que pouco dissera até então, observou:
— Se Júnior saiu ao pai, não creio que o senhor tomará qualquer providência de vingança. Ele era bom demais para se deixar dominar por um sentimento deste tipo…

Os empregados tinham-no como patrão, mas não o temiam. Eram seus amigos. Certa ocasião, ao chegar em uma de suas fazendas, o capataz explicou que Júnior estava na vila próxima, resolvendo certos assuntos e, sentindo a pressa de seu pai, disse:
— Se houver pressa, não carece o senhor ficar. Júnior resolve tudo…

Na verdade; Dr. Lineu sentiu que eles preferiam trabalhar o quanto se fizesse necessário para que tudo corresse bem a fim de que a administração de seu filho não pudesse sofrer críticas.

Quando do preparo da terra para o plantio de soja, em que o atraso pode significar uma má colheita, um dos tratoristas sentiu-se mal, na hora do revezamento. À meia-noite Júnior foi acordado pela voz alta do capataz que achava que o cronograma não poderia ser alterado pelo mal estar de um tratorista. Lineu Jr. levantou-se, colocou-se a par da situação, mandou o empregado repousar sem colocar em dúvida sua palavra, tomou a direção do trator e acompanhou os demais trabalhadores para a lavoura.

Até hoje, todos aqueles que com ele trabalharam naquela noite lembram-se da figura magra do patrão, dirigindo um trator pela noite adentro, com a poeira envolvendo-os a todos, enquanto a madrugada lançava suas luzes cinzentas no alvorecer. Seu gesto encerrou a discussão sem ninguém sentir-se ofendido, fez com que o serviço não se atrasasse e impôs a todos a marca generosa de sua personalidade.

Ele organizou o time de futebol dos servidores. Forneceu camisas, bolas, mandou construir o campo e, o mais importante (Dr. Lineu pasmou!) substituía algum jogador caso isto fosse necessário. Logo ele, que nunca jogara ou apreciara futebol!

Júnior era apaixonado, além da leitura e da música, por motos e carros. Aos 14 anos, fez uma aposta com seu pai a respeito de suas notas no ginásio. O pai achou que seria impossível a vitória do filho pois só faltavam 2 meses para o final do ano letivo. Mas foi assim que ele ganhou sua primeira moto.

Júnior cresceu e a moto tornou-se pequena demais para suas longas pernas; porém seu pai sempre o desestimulava em adquirir outra. Até que, dois meses antes de seu acidente, decidiu-se por comprá-la.

Veio a São Paulo, comprou-a e nela, saiu em viagem, para tormento maior de seus pais que, nos últimos tempos, sentiam forte angústia. Telefonaram para cada localidade em que Lineuzinho esteve, após sua passagem, para certificarem-se de que tudo ia bem. De São Paulo, visitou amigos pelo interior de Minas, foi a Viçosa visitar a namorada, passou por Belo Horizonte e foi à casa da avó, em Ituverava. De lá, na Quarta-feira, telefonou ao pai para combinarem o dia em que comemorariam seu 27.º aniversário. A data seria na sexta-feira mas a festa seria no sábado. Disse ao pai pelo telefone:
— Muito perigoso, papai, não creio que faça novas viagens em moto. Experimentei e não gostei devido ao menosprezo dos motoristas para com os motoqueiros. O senhor tinha razão, moto só para espairecer de vez em quando.

Colocou a moto na traseira de sua Pampa e seguiu na manhã seguinte para Campo Grande. No dia seguinte, sexta-feira, antes de sair para ir ao banco, despediu-se da mãe, dizendo:
— Papai virá hoje para meu aniversário. Não era isto que Dona Elza havia entendido, a festa seria no dia seguinte e resolveu então não acompanhá-lo ao banco, para fazer um almoço adequado à data. Ocorreu então o acidente fatal.

O carinho com que Lineuzinho envolve seus pais e demais familiares continua se fazendo presente, quer seja em sonho, quer seja “marcando presença”, movimentando seu aparelho de barbear que ficara na fazenda para que sua mãe tivesse confirmadas as sensações de sua presença, ou mudando o canal de televisão, que seu pai estava assistindo, para um programa de rock. Música que seu pai quase nunca ouve mas ele, sempre que podia, ouvia.

Suas mensagens, esclarecendo dúvidas de seus familiares, trazem certeza e ensinamentos para muitos, como no caso de sua querida avó Joana, que sempre tivera muito medo de morrer e agora encontra-se plenamente confiante de que a vida é sempre vida, seja aqui, como nós no Plano físico a conhecemos, ou no além, comumente chamado de reino dos “mortos”.

Na certeza de que este é mais um Novo Companheiro a caminho da luz, despeço-me carinhosamente,


Beatriz Galves

São Paulo, fevereiro de 1988.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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