O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Vida além da vida — Mensagens familiares de Lineu de Paula Leão Jr.


Esclarecimentos


O ACIDENTE

Na manhã de 12 de julho de 1985, quando completava 27 anos de idade, o engenheiro Lineu de Paula Leão Júnior, que na véspera havia dirigido sua camioneta por 860 quilômetros, viajando de Ituverava (SP) a Campo Grande (MS), dirigia-se para o centro comercial desta última cidade, através de sua avenida principal (com duas vias de tráfego e largo canteiro central) quando, em um dos seus principais cruzamentos, com o carro parado, aguardando o sinal verde, acabou sendo alboroado pela traseira por um velho caminhão FNM. Este, desde que havia entrado na avenida, estava sem o funcionamento do cardã (a cruzeta não foi achada), o que demonstra o precário estado de sua conservação. Sem também a corrente obrigatória que seguraria o eixo do cardã, esta peça começou a bater no asfalto e a ricochetear, de tal modo que inutilizou os canos dos freios e deu início às primeiras fagulhas de incêndio.

Utilizando uma via de tráfego proibida a caminhões, só o veterano motorista deve saber porque preferiu descer o acentuado declive da avenida, tendo certeza (tal o “rush” do momento) que o enorme caminhão vazio que dirigia só poderia parar utilizando como amortecedor um carro pequeno. O lógico seria guiar o veículo para o canteiro central, onde as árvores o parariam, sem perigo para ninguém.

Três quarteirões abaixo, realmente, motivou um dos maiores acidentes de trânsito da capital do Mato Grosso do Sul, com 10 veículos envolvidos. Apenas Júnior morreu. Carbonizado, segundo o atestado de óbito.

A dor instalou-se na família enlutada e em muitos corações o desespero e o sofrimento fizeram seus ninhos.


A FAMÍLIA


Júnior, solteiro, era filho de Lineu de Paula Leão e Elza Telles Faleiros Leão. Ambos aposentados: ele, como ex-Deputado à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; ela, como professora do magistério oficial daquele Estado. Dedicam-se atualmente à agropecuária em propriedades agrícolas localizadas nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Em Janeiro de 1985 mudaram seu domicílio da capital de São Paulo para Campo Grande, por ser esta cidade, geograficamente, ponto central em relação às suas atividades. E, também, porque em Campo Grande, pelo mesmo motivo, já residia a filha, Sandra Maria, casada com o Dr. Saturnino Fernandes, possuidores de um casal de filhos, de 6 e 3 anos.

O pai Lineu; foi criado em lar tradicionalmente espírita, eis que seus progenitores, Aristides de Paula Leão e Alayde de Paula Silveira, praticavam, enquanto vivos, o kardecismo, sendo que Aristides, por mais de três decênios foi presidente do Centro Espírita “Fé, Esperança e Caridade”, de Ituverava (SP). Lineu, como a maioria dos homens, distanciou-se de sua religião, na ânsia da conquista de bens materiais. Jamais tentou passar aos filhos, Júnior e Sandra, sua crença.

A mãe, Elza, formou-se professora em escola de freiras e praticava o catolicismo, ainda que concordasse com temas básicos da teoria espírita, mormente o da reencarnação.

Seus filhos, com liberdade de optarem pela religião que quisessem, frequentaram o curso ginasial em educandários católicos.


O ACIDENTADO


Lineu de Paula Leão Júnior nasceu em Ituverava (SP), em 12 de julho de 1958. Cursou o ginasial no Arquidiocesano e o colegial no Objetivo, ambos em São Paulo. Formou-se engenheiro civil em Belo Horizonte.

Há um ano antes do acidente, praticava com sucesso a sojicultura e a pecuária em imóveis seus e ajudava seu pai na administração das propriedades deste.

Em carta de 15 de outubro de 1985, dirigida à Câmara Municipal de Ituverava (SP), em agradecimento a homenagem que a mesma prestara à memória de Júnior, seus pais lhe traçaram o perfil:

“Modesto e humilde a mais não poder; jovial, honesto e sincero, simbolizava sempre a alma reta, do povo ituveravense, ao qual, sempre proclamava, com alto e bom som, tinha a satisfação de pertencer. Filho boníssimo e carinhoso, tinha sempre nos lábios o sorriso franco e uma palavra de amizade aos que dele se acercavam.”

Dentre seus livros, seus pais encontraram inúmeras obras espíritas, dentro as quais “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec. Souberam ainda que Júnior, quando em Ituverava, frequentava, em companhia de sua namorada, o Centro Espírita do qual seu avô Aristides fora presidente.


APÓS O ACIDENTE


Como uma mortalha, o sofrimento cobriu todos os sentimentos dos pais de Júnior, tão inesperada e violenta foi sua morte, que o colheu no esplendor da vida, quando começava a colher o fruto de seus estudos e de seu trabalho.

O sofrimento, nas personalidades bem formadas, faz com que o amor se sobreponha à revolta e nos conduz ou nos retorna a Deus. E quando retornamos aos estreitos caminhos que nos conduzem ao Ser Supremo, observamos, com Léon Denis, que “a tristeza, o sofrimento, fazem-nos ver, ouvir, sentir mil coisas, delicadas ou fortes, que o homem feliz ou o homem vulgar não podem perceber”.

Mostra-nos o sofrimento pela perda de um ente querido, que as conclusões parapsicológicas apenas estão confirmando os princípios da Ciência Espírita. Assim, as faculdades paranormais ou psi; a natureza extra-física da mente e do pensamento; os fenômenos téta, agêneres, a mecânica quântica da consciência, a psigama ou psicapa (mediunidade inteligente e de efeitos físicos) e outros, vêm sendo proclamados pelo Espiritismo desde sua codificação.

O sofrimento e o desespero não conduziram os pais de Júnior à revolta e à vingança. Fizeram-nos, sim retornar, humildes, à religião. E levaram-nos a Chico Xavier.

 

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER


A humildade, a brandura, a honestidade transparente, a alegria na dor, a resignação no sofrimento do grande médium levaram às suas almas os primeiros lenitivos. Suas mentes começaram a sair do tumulto em que se encontravam.

A simples presença de Francisco Xavier tranquiliza; ela como que harmoniza as mentes presentes em pensamentos de fraternidade e amor; expulsa do ambiente, como em passe de mágica, os pensamentos mesquinhos ou falsos.

Pobres ou ricos; cultos ou analfabetos; pretos ou brancos; poderosos ou humildes, todos, diante da presença física daquele homem, sentem-se iguais, como iguais devem ser todos os filhos de Deus.

Ao ouvir suas palestras e suas respostas aos múltiplos problemas que lhe são expostos, mais o admiramos tal a tranquilidade que advém de suas palavras.

Os ambientes humildes de sua residência e de sua casa de preces recendem paz e transmitem serenidade.

Que é um homem bom, simples e modesto, tudo o indica. Mas deve ser também um homem culto, ainda que sem ostentar láureas acadêmicas. Senão, como dissecar tantos e complexos temas com a habilidade do mais exímio cirurgião? Senão, como comentar conceitos de “A Grande Síntese”, de Pietro Ubaldi, à frente de seu autor, como nos conta o Prof. Clóvis Tavares em seu livro “Trinta Anos com Chico Xavier”?

 

UM DIA ANTES DA PRIMEIRA MENSAGEM


Os pais de Júnior sabiam que suas preces poderiam ser efetuadas em qualquer ambiente. Contudo, as ondas do fogo que consumiram o corpo físico do filho querido, comumente brotavam em seus corações, incendiavam suas mentes e turvavam suas vistas. Por mais que corressem em suas faces, silenciosas e tristes, eram poucas suas lágrimas para abrandarem o fogo do sofrimento e da saudade.

A paz que emana de Chico Xavier e dos ambientes em que ele se encontra, todavia, fazia com que as preces que pronunciavam em sua casa ou em seu centro, como que os aproximavam mais de Deus e do filho que partira tão cedo.

Na sexta visita ao “Grupo Espírita da Prece”, de Chico Xavier, dia 1.11.1985, os pais de Júnior observaram que uma senhora da mesa diretora dos trabalhos os observava constantemente.

Posteriormente, esta senhora dirigiu-se à Dª Elza, perguntando-lhe:

“—Seu filho desencarnou recentemente?”

Diante da resposta afirmativa, continuou:

“— Ele parecia consigo. Apenas o rosto era mais fino e comprido. Sorriso largo, com os bonitos dentes superiores se mostrando todos, à frente, não?”

Surpresa, novamente Elza confirmou os dizeres da interlocutora e mostrou-lhe um retrato recente do filho, no qual, por defeito fotográfico, Júnior estava mais moreno que na realidade era.

“— Este mesmo. Mas bem mais claro”, disse a senhora.

Os pais de Júnior se admiraram e perguntaram-lhe se havia conhecido seu filho e onde ela o havia visto.

“— Não o conheci quando em vida. Mas, durante os trabalhos desta noite, não pude deixar de observar aquele rapaz ao lado de vocês, sorrindo. E, quando a senhora chorava, lágrimas também desciam dos olhos dele.”

Citada senhora, Dª Guiomar Albaneze, diretora do “Centro Espírita Perseverança”, de São Paulo, e de outras obras sociais daquela Capital, com seus dizeres, animou os pais do falecido, pois se ela, médium vidente, observara Júnior ao lado deles seria porque ele estaria próximo a lhes transmitir algo.

Realmente, na madrugada do dia seguinte, 2.11.1985, pela mediunidade assombrosa de Chico Xavier, Júnior transmitiu a seus pais sua primeira mensagem, 3 meses e 20 dias após sua morte.

 

AS MENSAGENS


Na primeira mensagem, de 2.11.1985, Júnior explica os fatos ao acidente; descreve o seu desenlace, o novo ambiente em que se encontra e, acalmando os pais, traça o procedimento que julga correto para o futuro. É uma comunicação que demonstra as atribulações que atravessam os Espíritos de todos que foram envolvidos pelos fatos narrados, inclusive o do comunicante.

A segunda missiva (1.3.1986) já espelha o que Júnior foi na vida terrena: um jovem intimamente alegre, calmo, caridoso e, principalmente, modesto.

A terceira (4.7.1986) reflete a preocupação do filho com a saúde do pai. Ensina a respeito da proteção dos Espíritos no ambiente hospitalar e, principalmente, sobre o poder da prece.

Na quarta (28.9.1986), Júnior discorre sobre atos e fatos familiares. Nota-se ainda seu apego às coisas terrenas.

A quinta epístola, recebida na véspera dos finados de 1986, é dedicada aos “mortos-vivos”. Doutrinariamente, é elucidativa; literariamente, é poética.

A sexta mensagem (14.2.1987) é uma verdadeira lição de tolerância religiosa.

Na carta de 3.5.1987 — sétima — há a força do estímulo e do entusiasmo.

Na madrugada do dia que marcava o segundo ano do acidente que vitimou Júnior (12.7.1987), ele deu sua oitava mensagem. Já com o espírito mais estabilizado, recorda as minúcias do evento, complementando então a primeira missiva. É um hino de louvor à resignação e aos desígnios da providência divina. “Se formos fazer a listagem dos benefícios que recebemos nesses dois anos, todas as nossas dores ficarão para trás”, resume ele.


Beatriz Galves

Lineu de Paula Leão e Elza Telles Faleiros Leão

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir