1 O momento de morrer
É uma tela iluminada
Que recorda o alvorecer
Na hora da madrugada.
2 O verbo não elucida
Por mais brilhe, cante, exorte,
Toda a morte que há na vida,
Toda a vida que há na morte.
3 Quem andou nas próprias dores,
Servindo e amando ao sofrê-las,
Vê na morte o fim do dia
Todo enfeitado de estrelas.
4 Ante a morte, frente a frente,
Senti uma cousa assim:
Triste saudade pungente
Numa alegria sem fim.
5 Cegueira será na Terra
Talvez uma grande cruz,
No entanto, é o caminho certo
Para a vitória da luz.
6 A quem ama, serve e espera
O corpo é divina grade;
Morte é a chave que se ajusta
À porta da liberdade.
7 A morte me lembra agora
Um sábio cirurgião
Que altera tudo por fora
Mas não muda o coração.
8 Cego, no instante do adeus,
Exclamei, voltando à luz:
— Louvado sejas, meu Deus!
Bendito sejas, Jesus!
Sebastião Lasneau
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