03|10|1945
1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita saúde e paz espiritual.
2 Antes de tudo, quero dizer-lhes que, precedendo a nossa prece da noite, já nos reunimos aqui, em caráter extraordinário, enviando um voto de reconhecimento, paz e amor ao grande missionário que foi Allan Kardec. O três de outubro recorda-lhe o reingresso na carne, com especial mandato do Mestre, e que ele cumpriu fervorosamente, consagrando-se à doutrina consoladora e construtiva, de que foi o codificador. Agora em que vocês recebem a vibração de minhas humildes palavras, colheremos o pensamento amigo e grato de vocês, associando-o aos nossos para que, entrelaçados, possam constituir nossa lembrança afetuosa e agradecida ao inesquecível organizador da “batalha contra a morte”.
3 Feita a preliminar, passo a recordar igualmente, meus filhos, o três de outubro de três lustros passados. Lembremo-nos, observemos a luta da vida e guardemos no coração a experiência que ficou. Não temos comentário algum, no que se refere ao setor da coletividade. Relativamente a este, temos dito o bastante em cartas passadas. Desejo apenas rememorar a sua vitória individual naquelas horas difíceis. Agora compreendo melhor o porquê. Há problemas cuja solução só pode ser recebida pela alma depois da passagem do corpo físico. Acontecimentos e situações existem que somente o amanhã pode explicar com as minudências que desejamos. Um marco de libertação assinalou você, não resistindo à violência. n Um grande ponto escuro do pretérito foi lavado pela sua serenidade no aceite da vontade de Deus. No momento da prova, bem sei que o seu espírito, no santuário mais íntimo do ser, reagia contra a rudeza dos que o feriam sem causa, entretanto, a lição veio de sua disciplina emotiva a impor silêncio ao verbo e tranquilidade às mãos.
4 Rômulo, meu filho, o caminho do mundo é largo e longo! Você deve vangloriar-se de haver entregado os adversários gratuitos a essa estrada vastíssima da experiência. E ainda hoje, voltando em espírito ao passado, abençoe àqueles homens truculentos e ingratos. O fel dos que fornecem fel é muito mais amargoso. Como vemos, a maldade não impediu a continuidade de sua tarefa, tarefa escolhida por você mesmo, antes da reencarnação presente, perante a grande e divina natureza terrestre. 5 Por mais que se afaste você da paisagem que o cerca no quadro geral das coisas mais simples, sentirá sempre a sedução desse campo de lutas, onde você procura entender o animal, a água, a árvore do caminho… Esses elementos terão para o seu coração uma linguagem que outros não ouvem. É a linguagem da resposta à sua dedicação permanente. Acompanhá-lo-ão sempre, até que finde os seus compromissos presentes e ainda após eles seguirão você com carinho, oferecendo-lhe os seus segredos, porque para o trabalhador fiel nunca há extinção de trabalho na casa infinita de Deus. 6 É a linha de luta traçada por nós, meu filho. Comigo, é a escola cheia de crianças “novas” e “velhas”. Ainda hoje essa escola permanece dentro de mim, ofertando-me novos mapas de realização. Você com o campo, e eu em companhia dela, temos recebido bons impulsos ministrados pelos maus. No entanto, creia que a nossa riqueza espiritual reside na capacidade de entender a pobreza dos que nos perseguem gratuitamente, proporcionando-lhes recursos para que se enriqueçam também, através de nossa serenidade e testemunhos de serviço. Que Jesus santifique o seu trabalho e conceda à sua mente a luminosa coroa da alegria pela obrigação bem cumprida.
7 Quanto a dificuldades comuns do caminho edificante da experiência humana, é preciso compreender que a pedrada é sempre oferecida à laranjeira coberta de frutos e que os vermes só comparecem onde efetivamente exista substância palpável para o seu único serviço de devotamento. Árvores vazias e terrenos infecundos não sofrem assédios de forças destruidoras. O deserto é o deserto. Por isso mesmo, todo obreiro sincero aguarde os assaltos. Isso é quase uma fatalidade no ambiente humano, onde a aprendizagem das leis divinas é de curso muito lento entre as criaturas. A alegria de sua consciência é um prêmio que decreto algum da Terra pode proporcionar. Seja, pois, feliz e continue cooperando no bem com todas as forças de seu coração.
8 Hoje vieram aqui dois amigos: o Virgílio Machado e o Sócrates Alvim. n Estão presentes e fazem orações conosco, desejando-lhes felicidade e paz.
9 A irmã Engrácia também veio e agradece o esforço de Maria, n dizendo-lhe que ela e outros cooperadores estão colaborando em favor de D. Júlia para que as tempestades não lhe façam vergar o ânimo e para que o seu coração sensível esteja forte diante das provas purificadoras do mundo (não convém dar à D. Júlia ciência desse carinho mais direto, poderia causar-lhe preocupação).
10 Felizmente, tudo vai indo bem no curso de nossos trabalhos, porque prevalece neles a vontade de Jesus e não a nossa. Convém continuarem todos com cuidado no que se relaciona com a gripe e com os resfriados. Um dos piores inimigos da saúde humana é o vento pelas frestas das costelas, assevera um amigo daqui e dou-lhe plena razão.
11 Agora, meus filhos, devo despedir-me. Não sem dizer-lhes que estamos trabalhando pelo Roberto.
12 Que o divino Mestre nos abençoe a todos. E que a paz dele possa estar sempre com vocês é o desejo ardente do papai que não os esquece e que lhes deixa um abraço afetuoso,
A. Joviano
[1] Nota da organizadora: Cumpre esclarecer que, com a vitória da Revolução de 1930, Rômulo, como todos os funcionários que ocupavam cargos de chefia no governo anterior, foram destituídos e presos. Leon Renault, casado com Nhanhá, sobrinha de Arthur Joviano, e seu filho Abgar Renault, atendendo solicitação das respectivas esposas, a quem Maria recorrera, em momento de angústia, conseguiram sua libertação.
[2] Nota da organizadora: Vovô referia-se a dois amigos que passaram à Espiritualidade.
[3] Nota da organizadora: Refere-se à transcrição de trabalhos para o sistema Braille. [Vide nota no cap. 131]