13/10/1948
1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz e bem-estar aos corações.
2 Hoje é possível conversarmos um pouco mais detidamente sobre o problema que nos preocupa. Não será culto à dor, nem precisamos disso. Estamos em pleno clima de vida eterna. Dificuldades do reino carnal passam compulsoriamente para o nosso entendimento da atualidade ao campo secundário da vida.
3 Referimo-nos à saúde do nosso amigo General Aurélio para reafirmar-lhes os nossos votos de êxito no “empreendimento espiritual” do reerguimento de suas forças. Não estamos alheios ao tratamento e creiam vocês que muito me comovem os pensamentos de confiança que me dirigem. Esperamos prosseguir no serviço de manutenção de suas energias por mais tempo, entretanto, vocês façam quanto estiver ao alcance por assistir o nosso querido enfermo. Nada, porém, de notas menos alegres. Contentamento e bom-ânimo hão de ser nossa senha junto de seu espírito valoroso.
4 Recordar-se-ão de que no início de 1948 designamos a concessão de mais tempo ao nosso estimado enfermo por importante dádiva recebida. O estado orgânico do General era bastante precário, em vésperas da viagem que levaram a efeito à América do Norte. Todavia, as circunstâncias difíceis daqueles dias de outubro de 1947 eram tantas que todos nós, os amigos dele, impetramos o favor a quem de direito e, graças a Deus, o assunto foi adiado, com a felicidade de sua vinda pessoal neste ano ao lar da filha predileta, que tanto bem lhe conduz à esfera íntima. E ainda agora, quando não nos era mais possível evitar o desequilíbrio circulatório, nova bênção solicitamos – a bênção de se lhe conservar intacto, tanto quanto possível, o mecanismo da razão. 5 O fenômeno interessou diversos centros cerebrais, mas até agora, com o auxílio do Alto, o seu santuário de compreensão e raciocínio edificantes não foi alterado. Não obstante em dificuldades naturais nas primeiras horas, o que era justo, diante do fenômeno insólito, a sua lucidez tem sido preservada. Assiste, conosco, a renovação espiritual, benéfica e proveitosa. Suas meditações são claras e firmes. É razoável que o cansaço lhe assinale a demora em determinada zona de pensamento, contudo, vem lucrando expressivamente nestes dias de “silêncio interior”, em que procura a voz espiritual dos entes amados que o precederam na grande viagem e a encontra, não obstante indeciso, pelas imprecisões do conflito entre o espírito fortalecido e o corpo abatido.
6 Tenho estado frequentemente ao seu lado e anoto-lhe com sincera satisfação o processo iluminativo. Nossos amigos se esforçam por restituir-lhe os “dons físicos”, porque entendemos aqui, na pauta de nossas experiências presentes, que o fruto quanto mais amadurecido mais útil e mais belo à mesa da espiritualidade divina. Todavia, prestando-se-lhe, embora, toda a assistência possível, estejamos habilitados a auxiliá-lo em qualquer emergência nova.
7 A questão das visitas foi muito bem resolvida. Nada lhe falta. As dedicações sublimes que ele semeou permanecem selecionadas junto ao seu coração. Eu sou agora dos que acreditam na eficácia de um bom decreto doméstico contra visitação sem utilidade prática para todos os irmãos e amigos que se demoram incomodados no corpo doente. A peça em reparação dentro de uma oficina respeitável dispensa olhos curiosos, porque não reclama senão socorro de quem pode mobilizá-lo, a benefício do reajustamento próprio.
8 Com grande satisfação vejo o grande número de amizades de que o General dispõe em nosso plano. Como é belo, meus filhos, servirmos neste mundo a alguma causa digna! Servir por amor ao trabalho e ao bem! Vejo nos dias que correm que a equação do problema salvacionista depende 95% das forças, atitudes e trabalhos que exteriorizamos de dentro para fora, reservando-se apenas 5% às possibilidades da crença titular que esposamos de fora para dentro. A conduta e o caráter permanecem acima da confissão religiosa. Os irmãos da Cruz dos Militares trocam dias para auxiliar o nosso doente. n Não é possível saber, de momento, quem chega, se um oficial ou um soldado. A fraternidade dos que volvem a amparar o amigo fiel é, sinceramente, admirável! As organizações humanas, realmente, como as almas encarnadas, guardam uma estrutura visível e outra invisível.
9 Como observam, tudo vai bem e, se for possível, se Deus permitir, o nosso intento é de que o nosso companheiro de luta, admirável na sua lealdade, permaneça mais tempo aí, restaurando-se-lhe as energias através de todos os meios ao alcance de nossas possibilidades. As vibrações daqui funcionam muito bem em favor dele.
10 Quanto às suas impressões, meu caro Rômulo, impressões da viagem última em que reparou tanta movimentação de pessoas e tanto distúrbio na orientação espiritual delas, acredite que a alteração é mais nossa que do mundo. A fermentação da massa é semelhante à do formigueiro, em muitos característicos. O que é tem sido há muitos séculos. Quando nos diferenciamos, contudo, o quadro se modifica. Quem permanece no vale costuma observar os vizinhos ombro a ombro, sem grande raio de visão, mas quem alcance eminência, ainda que reduzida, vê mais longe, não só os vizinhos, mas a planície vasta, de cima para baixo, espantando-se com a situação da paisagem. 11 Esse é o caminho da ascensão. Os tímidos voltam à estação de origem, os comodistas descansam no ponto alcançado, mas os fortes prosseguem subindo, mormente quando se ajustam ao pensamento daquele que se elevou até a cruz. Não é de admirar, portanto, a diferença de vibrações que você encontra presentemente nos climas vários que visita, atendendo às injunções do seu cargo representativo. Essa diferença crescerá com o seu crescimento espiritual. Isso é uma fatalidade que nos ocorre a todos.
12 Continuem atentos para com os problemas de saúde. Preservemos o tesouro da vida terrestre para enriquecê-lo com mais vasta expressão de trabalho.
Boa noite para todos, com os meus votos sinceros de alegria, paz e luz.
Desejando-lhes bênçãos mil, com a claridade do Cristo a brilhar entre nós, abraça-os muito afetuosamente o papai muito amigo de sempre,
A. Joviano
[1] Nota da organizadora: General Aurélio foi, como se deduz das mensagens colecionadas no livro Militares no Além (VINHA DE LUZ, 2008) provedor da Irmandade da Santa Cruz dos Militares por vários anos. Para maiores dados históricos da instituição mencionada, sugerimos a leitura da referida obra e dos livros Sementeira de luz (VINHA DE LUZ, 3. ed., 2008) e Deus conosco (VINHA DE LUZ, 2.ed. 2008), todos psicografados por Francisco Cândido Xavier. A título de informação, vovô Aurélio desencarnou em 11 de novembro de 1952, no Rio de Janeiro, aos 83 anos.
