22/01/1947
1 Meu caro Roberto, Deus o proteja, multiplicando bênçãos de paz e luz em seus caminhos.
2 Reiterando hoje as minhas felicitações, depois da sua vinda de Lavras, quero abraçá-lo, em espírito, desejando muita prosperidade ao seu futuro de homem de bem. n
3 Sei que você lutou muitíssimo por não desmerecer a confiança do lar e presto ao seu coração a homenagem afetuosa de avô, que se revê no neto muito querido, anelando-lhe brilhante porvir. Reconheço que muitas realizações lhe faltam ao título definitivo, na esfera profissional, entretanto, a fase vencida representa muito esforço e enorme labor com perseverança e boa vontade. Meus “parabéns” à sua edificação de 1946.
4 Apesar de estarmos juntos vastas vezes, faço questão de escrever-lhe estas linhas, portadoras de minha alegria e de minha confiança em seu trabalho. Em muitas ocasiões seu cérebro jovem indaga, com justificadas razões, sobre os problemas da vida e da morte. Você desejaria possuir mais confiança, mais certeza. Mormente, fora de casa, experimenta seu coração o assédio das forças desintegrantes da fé. Isso, porém, é natural. A perfeita certeza da eternidade, quanto ao homem e à vida, constitui edifício sublime demais para erguer-se espontaneamente, sem paciente aplicação dos interessados. E você está iniciando a luta e reconstituindo a paisagem do pretérito amparado pela nobre ambição de vencer com o bem, com a sinceridade e com o serviço digno.
5 Muitas experiências conhecerá qualquer criatura antes de alcançar o castelo da confiança absoluta e tranquila. Além disso, os círculos universitários da Terra não contribuem para que a mente juvenil se fortaleça no domínio da espiritualidade superior. Exercendo guerra declarada à religião, ainda mesmo quando os colégios obedeçam à orientação evangélica, qual acontece no instituto lavrense, a verdade é que o material didático é sempre antirreligioso, agravando-se a situação pela intolerância das autoridades dogmáticas que, comumente, dirigem o serviço escolar. Mas a existência, com os seus problemas e serviços difíceis, consolidará em você a certeza ambicionada.
6 Expressando-me assim quero apenas salientar que, de qualquer modo, nos entenderemos como bons amigos. Presentemente, em se preparando seu espírito para novas arremetidas nos setores da preparação necessária, peço-lhe muita ponderação e serenidade.
7 Em seus deveres diários, em seus abençoados afazeres comuns, não se esqueça daquele provérbio oriental que determina: “Se caíres sete vezes, levanta-te oito”. Efetivamente, o chão que os homens pisam ainda é de lutas ásperas dentro de si próprios.
8 Não poderá você escapar à condição de todos, entretanto, não se esqueça da prudência e da observação. Não é o servidor afoito que resolve fundamentalmente as questões do trabalho. É justamente aquele que gasta minutos pensando antes da ação. Assim também a vida.
9 Não solucionaremos problema algum precipitando-nos no caminho. Mas meditando e agindo, examinando e trabalhando, atingiremos a culminância almejada.
10 Não perca o tempo de estudar para que o tempo de aplicar lhe seja propício. Você está situado num programa muito extenso em relação ao novo projeto a ser levado a efeito no Rio.
11 Abençoe a possibilidade de preparar-se, de aprender e aprimorar-se. Um homem que conhece o valor dos minutos está fadado a realizar grandes coisas. E em se preparando intelectualmente, organize também as suas possibilidades sentimentais, disciplinando-as.
12 Não deseje construir a casa de seu destino começando a edificação pelo teto. Primeiramente, examine a terra, verificando se o solo é suscetível de suportar os alicerces de suas idealizações.
13 A previdência não é uma utopia no caminho da vida. É farol de saída para que a chegada se faça normal.
14 Estamos diante de um mundo convulsionado. Cada um de nós, mesmo em se falando dos desencarnados, é célula do imenso organismo mundial. É indispensável muito equilíbrio dentro de nossas funções para não sermos deslocados.
15 Transferindo-se para o Rio, busque encontrar em seus avós, prestimosos, a continuidade da amorosa vigilância de Rômulo e Maria. O carinho, para ser construtivo, não pode separar-se da advertência. Sabe você que a água simples é sempre útil e preciosa, mas se transborda, sem condicionar-se à disciplina das vias naturais, forma pântanos de consequências imprevisíveis.
16 Nesse particular, você encontrará em nosso amigo General Aurélio e em D. Júlia a ternura edificante, o amor zeloso e o auxílio eficiente que seu espírito necessita. Por agora, talvez, não possa você compreender as minhas impertinências afetivas. Todavia, o tempo é um leiloeiro cujo martelo não repousa.
17 Dia virá em que você entenderá totalmente os imperativos da verdadeira proteção à juventude. Aliás, meu filho, assevero-lhe que a minha confiança em sua conduta de moço bem orientado prossegue firme. É confiança que aumenta sempre pelas suas tendências nobres e pelo seu idealismo superior.
18 Relativamente ao seu “vestibular”, nada posso dizer. Vamos ao trabalho. Em qualquer circunstância de serviço, encontrará você a justa contribuição do Alto.
19 Receba o meu grande abraço de “parabéns” e que Deus nos proteja a todos. Continue no seu esforço de ascensão e chegaremos tranquilos ao cume desejado.
20 Abraçando-o, pois, com muita alegria no presente e com muita esperança em seu futuro, sou o vovô e velho amigo,
A. Joviano
[1] Nota da organizadora: Roberto concluiu, em 1940, em Lavras, Minas Gerais, o curso de 2º grau. Foi, em seguida, para o Rio de Janeiro, a fim de candidatar-se ao curso na Escola Nacional de Medicina Veterinária da Universidade Rural.