11/09/1946
1 Rômulo, meu f ilho, Deus abençoe a você, concedendo-nos a todos muita luz divina e paz interior.
2 Tenho estado incessantemente com você nos últimos dias. Senti-me feliz com as impressões novas que recolheu em casa. Como observou, meu filho, o trabalho espiritual não se interrompe. O velho pai e amigo de sempre pastoreia o rebanho familiar, além dos laços físicos. Um serviço enorme vem sendo feito. Não dê notícias dessas minhas palavras à Zina. n Seriam talvez ruídos exteriores prejudicando, de certo modo, a obra interna. Melhor que as impressões dela e das outras irmãs venham “de lá para “cá”. Você tem caminhado suficientemente no campo da ideia e suas observações poderiam não ser compreendidas de pronto, ao passo que elas, através da palavra, dirão a você em que zona de pensamento e verbo pode você cooperar com êxito.
3 Estou, como disse, contente, porque seu espírito de fraternidade pode penetrar uma porta, entendendo o serviço confortador que se vai realizando com a graça de Deus. Permita o nosso Pai de Infinita Bondade que a “lavoura” prossiga, encorajando-nos as esperanças.
4 Quanto às suas lutas de agora, compreendo-lhes a amplitude. É necessário, porém, que você não conceda importância à desarmonia. Sua posição é a do mordomo entre o Senhor e os servidores. De um lado, você é defrontado pelo seu governo; de outro, pelo público. Recordemos a lição evangélica que aconselha seja dada a capa quando alguém nos peça a camisa. No caso, contudo, nem uma nem outra pertencem a você, não regulando, assim, o dispositivo do texto sagrado para a situação. 5 Guarde, pois, a sua serenidade perante as decisões da autoridade superior e as reclamações dos incompreensivos. Falando com franqueza ao seu coração, esses adversários gratuitos de seu esforço, a rigor, não podem fazer mal algum ao seu campo individual, onde com a prece e a meditação poderá você conservar sempre o seu altar de paz e fé viva aberto ao exercício do bem. Entretanto, podem perturbar seu trabalho, objetivo deles no momento, para o que movem os cordéis e os fantoches políticos. 6 Nesse sentido, pois, é que convém vigiar, porquanto vivemos no Brasil uma hora incerta pela insegurança espiritual daqueles que nos governam os destinos políticos. Fazemos espiritualmente o que é possível, entretanto, é preciso reconhecer que o plano de seus serviços é material, exigindo forças materiais propriamente ditas. Não comento o caso nesse aspecto para criar receios em seu coração. Nada disso. Examino o fato para reafirmar que a luta é condição vital das boas obras à coletividade. 7 O sofrimento é tributo dos que efetivamente trabalham, como a perseguição e a calúnia são sempre, isto é, quase sempre, as homenagens que o mundo de carne presta ao mérito. Desse modo, desdobro-me nessas referências para senti-lo cada vez mais liberto dos resultados do seu trabalho. O primeiro impulso humano é o de garantirmos a nobreza de nossas realizações, tornando-as objeto do reconhecimento geral, no entanto, meu filho, qualquer algema, por mais brilhante, fere-nos as mãos e dilacera-nos o íntimo. 8 Creio que devemos agir com essa liberdade construtiva dos que não descreem da vitória final, considerando a justiça imanente à eternidade gloriosa. Estamos diante de um quadro com particularidades muito complexas, porquanto à frente de você, que se interessa pelo bem da comunidade, permanece a comunidade que não deseja esse bem. Todavia, é da revelação divina que o pior cego é o que não quer ver e o surdo mais desventurado, o que não deseja ouvir. Que fazer em semelhante alternativa? 9 Defenda o seu trabalho, articule os seus esforços, organize seus elementos, mas peço-lhe, com empenho: não sofra! É difícil proceder assim porque, para não sofrer, você precisaria não ter amado e nós sabemos que o seu coração está muito preso ao carinho por essa paisagem convertida em oficina de elevadas edificações. Mesmo assim, meu filho, rogo-lhe não coloque seu coração em poste do caminho ao alcance das flechas de caçadores da violência, que não sabem nem amar, nem sofrer. 10 Se você pudesse contar com uma administração de retaguarda, cônscia de suas responsabilidades e deveres, aconselhá-lo-ia a “lutar intensamente”, mas você sabe que, infelizmente, os bastidores administrativos estão cheios de palavras, palavras e palavras… Assim, aconselho-o a “lutar simplesmente”, em paz e serenidade, sem qualquer sentido paradoxal. “Lutar pacificamente” é privilégio dos cristãos e eu espero que você estime essa prerrogativa.
11 Prenda-se com mais propriedade ao santuário doméstico, aos seus trabalhos interiores, às suas alegrias novas. Por este velho mundo de criaturas velhas, as recapitulações se processarão violentas e rudes, ferozes e inesperadas, ainda por muitos e muitos anos. Há certos serviços na Terra que, em determinada altura, exigem muito desprendimento de nossa parte. Mantenhamo-nos, portanto, serenos. Que Jesus o abençoe e lhe conceda forças para vencer os inimigos chamados “primeiras impressões”.
12 Aí na Terra, a maioria das obrigações constitui-se de exercícios e ensaios para a Vida Maior, que é a do espírito imortal. Antigamente, era compreensível que você duelasse com fervor, entretanto, o câmbio da vida eterna é conhecido por seu coração e o valor real das coisas, pessoas e situações não representa engano para a sua alma. Haja o que houver, guarde a sua tranquilidade. Esconda o seu coração no coração do Cristo – essa é a fórmula de alguns amigos daqui, com a qual ainda não me senti abatido.
13 Felicito a você pelo trabalho mantido no Rio com relação à sua melhoria no campo do serviço público. Não esmoreça. Esse é um problema menos seu que do grupo familiar e pelo grupo familiar você deve continuar terçando as armas do esforço e da inteligência. Sigamos avante. Temos estado com todos os nossos queridos “ausentes”. Que Deus os auxilie e guarde a todos. Agora, despeço-me.
14 Sua saúde orgânica, apesar do embate forte, vai bem. Continue atento aos cuidados, cultivando as aplicações do magnetismo. É um trabalho admirável que você vai desempenhando e conquistando pouco a pouco.
15 Boa noite, meu filho. Que Deus conceda a você paz de espírito da qual decorrem as facilidades para a solução de todos os problemas da vida. São os votos do papai muito amigo de sempre,
A. Joviano
[1] Nota da organizadora: em referindo-se a Zina Joviano, irmã de Rômulo. Para maiores dados da família Joviano, sugerimos a leitura de Sementeira de luz (VINHA DE LUZ, 3. ed., 2008), Deus conosco (VINHA DE LUZ, 2. ed., 2008) e Militares no Além (VINHA DE LUZ, 2008).