19/06/1946
1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz aos corações, refundindo-lhes, em cada dia, as forças necessárias para a luta.
2 Ontem, estávamos juntos observando as belezas da palavra divina com o nosso amigo João de Deus. n Consagrava a noite às lembranças de Célia, entretanto, pelo coração, portas adentro d’alma, e muito feliz por não havermos organizado qualquer serviço de recordação convencional. n Se assim procedêssemos, teríamos perturbado o seu trabalho divino, convocando-lhe o espírito à volta, ao regresso a zonas de há muito transformadas. Não que as nossas preces lhe fossem desagradáveis. Ela sentiria o doce perfume de nossas reminiscências e associar-se-ia aos nossos votos, comungando conosco. A medida, contudo, circunscreveria a sua ação nos Planos mais altos e talvez fosse início a trabalho de adoração pessoal que deveremos evitar, em favor dela e a benefício nosso. 3 Não seria, por exemplo, o 14 de dezembro, em que nos congregamos numa festa íntima de aniversário familiar pelo prazer de conversar, reconfortando o coração, a relembrarmos cenas de agora mesmo, com os fluidos de nossa experiência do minuto que passa. n Retrocederíamos indebitamente no tempo e provocaríamos possivelmente lembranças que não devem chegar à tona, pelo menos presentemente. 4 Daí a nossa satisfação pelo fato de havermos recordado o dia, trabalhando com o Evangelho do mestre Divino. Recebemos grandes luzes. Prestamos à nossa heroína a melhor homenagem que lhe poderia calar no espírito – o aproveitamento de seu exemplo de serviço e perseverança no Senhor, convictos de que, seguindo-lhe o padrão superior, chegaremos um dia a beijar-lhe as mãos abnegadas e puras. Agradeço, desse modo, a vocês pela abstenção. Foi altamente benéfica e demonstrou a compreensão maior que nos felicita agora o campo íntimo.
5 Considero admirável a lucidez do trabalho que efetuaram. As condições apresentadas a João de Deus foram as melhores. Que Jesus ajude a vocês em todos os dias da vida para que consigam o “espelho sereno” da confiança e da fé, refletindo as imagens sublimes da escola mais alta. Por agora, é difícil entenderem toda a extensão e toda a grandeza que residem no esforço que levam a efeito. Dia virá, porém, no qual observarão, surpresos, a solidez e a sublimidade das árvores espirituais que estão plantando.
6 Na Terra, meus filhos, não é fácil analisar o caráter divino de tarefas dessa ordem, todavia, não podemos esquecer que vocês permanecem transitoriamente numa “esfera de argila”. Com isso não pretendemos menosprezar os patrimônios valiosos que o mundo carnal nos oferece aos propósitos evolutivos e redentores e sim demonstrar-lhes o valor de uma realização qual a que se consagram, no presente, com alicerces na gloriosa eternidade. Que o divino Orientador nos ajude em tudo a todos, de modo a não desmerecermos as bênçãos já recebidas e recolhidas.
7 Rômulo, você pode usar elementos antigripais com a regularidade possível, durante uns quatro a cinco dias: Gelseminum, Ipecacuanha, Lachesis e Eupatorium. É conselho do nosso clínico daqui, que estou transmitindo. Em sua viagem, não se esqueça desses bons companheiros.
8 Quanto ao Roberto, agora que estamos em pleno “parlamento doméstico”, reporto-me ao que escrevi a ele na reunião última. Estamos convictos de que o meu neto saberá aproveitar os meses que nos restam para a edificação do bom trabalho de construção do seu futuro. Combinemos sólido programa de coragem, boa vontade, bom-ânimo e sincera esperança. Você e Maria escreverão frequentemente a ele, recordando-lhe o nosso compromisso destas férias e Roberto, como nosso mensageiro — em edificação do futuro — responderá fornecendo o noticiário particularizado do que for ocorrendo. 9 Se você, Roberto, necessitar de “explicadores”, se surgir qualquer dificuldade, mesmo pequenina, dentro das semanas que se desdobrarão de julho em diante, fale tudo com o papai e com a mamãe, sem timidez, sem reservas. Precisamos aproveitar a oportunidade e creio, como velho vovô, que você deve confiar tanto em nós quanto confiamos em você. Um filhinho a estudar, a preparar-se para a vida, é um “campo sublime em que os pais capitalizam as suas melhores e mais belas esperanças” e você é um campo que responde à nossa confiança, ao nosso grande amor. 10 De minha parte, o que desejo é vê-lo a crescer espiritualmente sempre mais, a destacar-se na esfera estudantil, pelo valor próprio, pela persistência nos propósitos mais elevados e pela assimilação do que edifica o caráter e purifica os sentimentos. Deus o abençoe sempre. E esteja certo de que meu pensamento esperançoso está ao seu lado, regozijando-se com as suas vitórias, que são nossas, nos círculos da vida, onde respiramos o clima da mútua confiança pelos tesouros de amor que trazemos de muito longe.
11 Maria, você, igualmente, minha filha, lute contra os resfriados. Não reparem minha velha insistência nessa questão de defesa contra a gripe. É que o valor do equilíbrio físico é muito maior que podemos avaliar, quando nos encontramos aí no mundo. E, além disso, a melhor medicina é a que prevê porque provendo medicação nem sempre sabemos calcular resultados, enquanto que prevendo as situações podemos evitar numerosos perigos.
12 Agora, de alma em prece pela felicidade de vocês todos, despeço-me feliz. Possa a nossa tranquilidade evolar-se daqui, na qualidade de emissária de nosso mundo afetivo, alcançando todos aqueles que amamos e que ainda se mantêm distantes da legítima compreensão da vida em Cristo Jesus, e possa o pão espiritual que nos alimenta hoje ser repartido também com eles, em tempos próximos, para que despertem e vivam na abundância das graças divinas. É o que peço, meus filhos, àqueles que nos dirigem de uma Vida Maior, porque, sinceramente, é muito triste reparar o tempo que se perde na vida do corpo, através de ilusões e desilusões, dificuldades e facilidades, sem aproveitamento. Ensine-lhes o Senhor a valer-se das bênçãos como vem acontecendo sob este teto consagrado ao ideal do trabalho e do bem, e sentir-nos-emos muito felizes.
13 Boa noite. Que a paz divina seja a lâmpada permanente do coração de vocês todos, aí na Terra, para que a razão esteja sempre enriquecida de valores eternos a serviço do verdadeiro progresso dos meus filhos queridos para a vida permanente. São os votos do papai que lhes deixa carinhoso e apertado abraço,
A. Joviano
[1] Nota da organizadora: João de Deus Macário foi padre na paróquia de Vila Nova de Lima. Nasceu em 4 de janeiro de 1852 e desencarnou em 12 de dezembro de 1912. Orientou os trabalhos mediúnicos com a utilização da prancheta no culto do Evangelho no lar que o casal Joviano realizou, sempre às terças-feiras, de 1936 a 1959, em Pedro Leopoldo | MG, e no Rio de Janeiro. Fonte: Deus conosco (VINHA DE LUZ, 2. ed., 2008).
[2] Nota da organizadora: Em referindo-se ao dia 18 de junho, data em que se comemora o “Dia de Célia” — Célia Lucius —, personagem do romance 50 anos depois [v. No horto de Célia], psicografado por Francisco Cândido Xavier, ditado pelo espírito de Emmanuel (FEB, 1940).
[3] Nota da organizadora: Em referindo-se à data de sua desencarnação, 14 de dezembro, ocorrida no ano de 1934.