1 Você deseja saber
Meu caro Joaquim Monforte,
Dentre os assuntos de herança,
O que há depois da morte.
2 Respondendo a sua carta
Cumpro apenas um dever;
Herança dá muita encrenca,
Você nem queira saber.
3 Decerto que há muita gente,
Caminhando ao nosso lado,
Que sabe usar com Jesus
Os bens de qualquer legado.
4 Entretanto, em muitos casos,
Nos passos de muitas vidas,
Heranças trazem problemas
Às pessoas mais queridas.
5 Amparo que você queira
Fazer, em verdade sã,
Auxílio, bênção, favor,
Não deixe para amanhã.
6 Nosso Téo deixou ao genro
A fazenda Carolina,
O moço inexperiente
Descambou na jogatina.
7 Tanta injúria de inventário
Recebeu Nhô Chico Bentes
Que se fez obsessor
De todos os seus parentes.
8 Nhá Nicota ajuntou casas
Em favor da própria filha;
Viu a filha envenenada
Numa questão de partilha.
9 Nhô Tino deixou aos filhos,
A fazenda da Tronqueira
E os rapazes sem trabalho
Caíram na bebedeira.
10 Calina legou à filha
Todas as lojas de um prédio:
A moça largou o estudo,
Depois matou-se de tédio.
11 Teotônio legou milhões
Para o bisneto Tadeu;
Ao vê-lo abusar de drogas
O coitado enlouqueceu.
12 Nicão viu tantas loucuras
Na viúva Dona Criste,
Que deseja ir para o inferno,
Mas o inferno não existe.
13 Joaninha ao achar as filhas,
Em sombra, gozo e moleza,
Hoje pede vida nova
Afundada na pobreza.
14 Se você tem para dar
Não exija condição,
Dê trabalho e caridade,
Paz, amor e educação.
15 Bendita seja a pessoa
Que recebendo uma herança,
Sabe espalhar benefício,
Conforto, luz e esperança.
16 No entanto, muito legado
É mero apoio ilusório,
Há muito desencarnado
Que enlouqueceu no cartório.
Cornélio Pires
|