1 Tenho em mãos sua consulta,
Minha prezada Larissa,
Você procura por nós,
Informes sobre a preguiça.
2 Preguiça mesmo no Além,
É uma sombra malfazeja,
Que o nosso espírito abraça,
Contra si próprio onde esteja.
3 É treva de obsessão,
Tão forte a í quanto aqui,
Moléstia do pensamento
Que a pessoa esconde em si.
4 A preguiça escuta o verbo
De quem procura ajudar,
Aprova, aceita, agradece,
Depois se põe a queixar.
5 Fala que anseia servir,
Dia a dia, hora por hora,
Que o trabalho é sempre a trilha
Por onde a vida melhora.
6 Afirma que a vida é luta,
Conhece o próprio dever,
Mas apresenta as razões
Porque não pode atender.
7 Preguiça não evolui,
Diz ela: — Porque não tem,
Palavra de voz amiga
Nem proteção de ninguém.
8 As lágrimas que carrega
Só ela as vê como são,
Tem problemas que não cessam,
Tem família em provação.
9 Traz a saúde imperfeita
Embora reze com fé,
Suporta a cabeça fraca,
Carrega fogo no pé.
10 Tem cólica, batedeira,
Dor no fígado e no baço,
De dia, tudo é tristeza,
De noite, tudo é cansaço.
11 Sente aflição e azedume,
Sofre a queda dos cabelos,
Caminha de perna bamba,
Tem dores nos tornozelos.
12 Padece angústia constante,
Vê fel por todos os lados,
Alega a perseguição
De Espíritos atrasados.
13 Quando está caindo chuva
Sofre zelos naturais,
Quando o calor aparece
Diz que o calor é demais.
14 Não se aguenta com vizinhos
Que estão sempre contra ela,
Em casa nunca dispõe
De apoio da parentela.
15 Preguiça, prezada irmã,
É sempre uma cousa assim:
Um sofrimento parado
Numa doença sem fim.
16 Preguiça, antiga moléstia,
É praga na criatura,
Recebe muito remédio
Mas só serviço é que cura.
Cornélio Pires
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