Aos 21 de março de 1980, em via pública de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, onde exercia a nobre função de Promotor Público, o Dr. Manoel de Oliveira Gomes perdeu a vida física, ao ser atingido, pelas costas, por um disparo de arma de fogo.
Ao partir para o Mundo Maior, Dr. Manoel deixou a esposa, D. Arilene, e um filhinho de 7 meses de idade.
Três anos se passaram…
Em fevereiro de 1983, na cidade de Uberaba, D. Arilene reencontrou-se com o inesquecível companheiro ao receber, pelo lápis mediúnico de Chico Xavier, confortadora carta de sua autoria, portadora de preciosas informações para seu coração, além de várias frases em inglês, que o casal habitualmente usava em bilhetinhos íntimos.
Relatando este feliz e abençoado reencontro, D. Arilene assim redigiu seu depoimento, integrante de expressiva carta, datada de 08/07/1983, a nós dirigida:
“Prezado Sr. Hércio,
Deus nos abençoe.
“Continua ainda em mim a mesma alegria e satisfação do dia em que a mensagem do meu querido Manoel chegou em minhas mãos. Dia este que veio transformar toda minha vida.
“Foi na madrugada de 19 de fevereiro de 1983, em reunião no Grupo Espírita da Prece, na cidade de Uberaba, onde o nosso querido e amado Chico, na sua incansável jornada, foi o intermediário, com a permissão de Jesus, de mais um intercâmbio do mundo espiritual com o físico. Por meio de suas abençoadas mãos trouxe a mim a presença viva e serena do meu querido “Léle”. n
“Que esta possa levar a outras pessoas a fé, o amor, o conforto e que, por seu intermédio, desperte em seus corações o desejo de uma renovação.
“Sr. Hércio, agradeço-lhe de coração o interesse em incluir esta mensagem em mais um dos belos livros de cartas psicografadas pelo nosso querido Chico Xavier, a quem devo muito. Aqui continuarei sempre pedindo a Deus que cubra este médium de bênçãos, mais e mais, e que ele possa, por mais tempo, amenizar corações amargurados e aflitos.
“Eis os dados que o senhor solicitou: (…)
“Um abraço fraternal,
Arilene.”
CARTA DE MANOEL DE OLIVEIRA
“
E aqui me encontro, para rogar-lhe paciência e fé no Poder Supremo que nos rege os destinos.
”
1 Darling, n
God bless us. n
2 Estou presente aqui nestas folhas simples tanto quanto me sinto cada vez mais vivo em sua memória.
3 Venho pedir-lhe calma e coragem. O servidor da justiça não deve temer, nem tremer. Por isso mesmo, porque não me seria possível alterar os autos de um processo que se formara na base da realidade, tive o prêmio dos projéteis que me surpreenderam na rua.
4 Mas eu sei que você é forte e que nosso querido filho n encontra em seu coração o apoio duplo de que sou agora metade.
5 Não desejo rememorar o acontecimento fulminativo que me retirou do corpo.
Foi um verdadeiro despojamento qual se me visse sob ordens determinativas para mudança de casa. 6 Não consegui pensar. O corpo caiu de vez, à maneira de tronco arrasado por lâmina oculta.
7 E adormeci sem querer, sonhando que voltava para casa. Beijava nosso filho e abraçava a você com a ênfase de quem superara um assalto; 8 mas, em seguida ao sonho de superfície, desci a um desmaio de profundidade do qual despertei, após uma parcela de tempo que ainda não sei precisar, despertando em companhia de bisavós queridos.
9 Meu primeiro impulso foi o de retomar o caminho para Três Lagoas no intuito de retomar a posição de esposo e pai junto à família.
10 Só, então, na euforia de quem se reconhecia livre depois de pesada ameaça, é que vim a saber que nossas vidas haviam sido desviadas do próprio curso, à feição do rio que se biparte.
11 No entanto, não alimentei qualquer dúvida. Se eu existia, você e nosso filhinho existiam igualmente em algum lugar, e o rio de nossas existências se rearticularia de novo no tempo chamado futuro. E aqui me encontro, com o nosso benfeitor José de Oliveira, n para rogar-lhe paciência e fé no Poder Supremo que nos rege os destinos.
12 Peço a você — mas peço com todo o meu coração não permita que o nosso pequeno se desenvolva com ideias de ressentimento e azedume na vida íntima.
13 Três Lagoas é uma cidade de amigos generosos. Ali temos afeições que integram a nossa felicidade e a nossa vida.
Aquela gente amiga e aquela terra dadivosa não possuem qualquer culpa naquilo que me aconteceu.
14 O Promotor é obrigado a promover a execução do que se lhe oferece na pauta da Justiça e o que me aconteceu surgiria em qualquer parte.
15 Estou aprendendo que a dívida caminha com o devedor, n e sendo meu o débito resgatado é nossa obrigação agradecer a Deus a possibilidade de havermos pago a conta que devo ter assumido na retaguarda das reencarnações.
16 Não fosse a saudade e tudo estaria bem; no entanto, confio em sua capacidade de trabalho e resistência.
Prossiga em seus estudos e auxilie ao nosso filhinho na formação do futuro.
17 Sei que você fará isso melhor do que eu mesmo…
Quando você se levantar a cada dia, recorde as palavras de meus pequenos recados: “I miss you…”n
18 E quando a noite venha, n para as nossas meditações em conjunto, sinta-me ao seu lado, repetindo: “Darling, I’m here”. n
19 Não estou esnobando. Você sabe disso.
É que nós dois tivemos uma felicidade toda única e tão grande que muitas vezes, precisava de dois idiomas a fim de manifestar-se.
20 Creio que estas minhas notas darão a você e ao nosso filhinho, tanto quanto aos nossos amigos, a convicção de que sou eu mesmo a escrever-lhe.
21 Estou liberto de qualquer amargura. Aprendi muito cedo que ninguém elimina a vida de alguém para sentir-se feliz, e por isso me reconforto ao reconhecer que não traímos a nossa consciência.
22 Darling, stay with God. You don’t stay alone because we are together for ever and ever. n
23 Nada de pranto. Coragem e confiança em Deus.
Beijos ao nosso filhinho, e para você todo o coração do seu
Léle.
Manoel de Oliveira Gomes
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 - Darling, God bless us. — A tradução desta frase, como das demais em inglês, colocada em nota de rodapé, foi feita pela D. Arilene, quando divulgou a carta mediúnica em impresso bem confeccionado. Ela explicou-nos: desde que se conheceram, cultivaram o hábito de dialogarem em inglês, em alguns momentos, especialmente na permuta de bilhetinhos. Assim, praticavam o estudo dessa língua e, quando necessário, tornavam o intercâmbio pessoal mais reservado. Esta é mais uma interessante manifestação da mediunidade poliglota ou de xenoglossia [do gr. xénos: “estrangeiro” + lossa: “língua (linguagem)”] de Chico Xavier. Mensagens em inglês ou em outros idiomas desconhecidos do médium (italiano, espanhol) integram os seguintes livros: Enciclopédia
de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, João Teixeira de Paula, Vol. II, p. 94; Trinta Anos com Chico Xavier, Clovis Tavares, IDE, Araras, SP, Cap. 13, p. 147; Entre Irmãos de Outras Terras, F. C. Xavier, W. Vieira, Espíritos Diversos, FEB, Rio, Segunda Parte; Claramente Vivos, F. C. Xavier, Elias Barbosa, Espíritos Diversos, IDE, Araras, SP, capítulos 3, 4, 19, 20, 21 e 22.
2 - Nosso querido filho — Guilherme Augusto Arão Gomes.
3 - Benfeitor José de Oliveira — Provavelmente, tio do Dr. Manoel.
4 - Estou aprendendo que a dívida caminha com o devedor (…) retaguarda das reencarnações. — Neste tópico, Dr. Manoel revela grande compreensão das Leis Divinas que regem a nossa evolução espiritual, através de reencarnações sucessivas.
5 - E quando a noite venha, para as nossas meditações em conjunto, sinta-me ao seu lado, repetindo: “Darling, I’m here”. — Os Espíritos influenciam em nossos pensamentos mais do que imaginamos, principalmente quando há sintonia mental, alicerçada em afinidade de sentimentos, como no presente caso. Todos somos médiuns, em maior ou menor grau, sendo a inspiração (intuição) a forma de mediunidade mais frequente. (Ver
O Livro dos Espíritos
, Questões 456 a 460, e
O Livro dos Médiuns
, Questão 182, ambos de Allan Kardec.)
6 - Léle — Era assim chamado pela esposa e alguns familiares.
Hércio Arantes
[1] “Querida, Deus nos abençoe.”
[2] “Sinto sua falta…”
[3] “Querida, estou aqui.”
[4] “Querida, fique com Deus. Você não está sozinha porque nós estamos juntos para sempre e sempre.”