A partida inesperada de Silvana Maria Bertoni, com 25 anos de idade, para o Mais Além, vitimada em acidente automobilístico na Marginal Pinheiros da Capital paulista, deixou sua família traumatizada.
E não poderia ser diferente, pois Silvaninha — assim chamada pelos seus — era carinhosa, afável e muito unida aos familiares mais íntimos: os pais, Dr. Olavo Bertoni e D. Wilma Montesano Bertoni, e a irmã, Luciana Maria Bertoni, residentes em São Paulo. “Ela só nos deu alegrias”, contou-nos, emocionado, Dr. Olavo, resumindo com esta frase a personalidade admirável de sua filha.
Contudo, aos 30 de julho de 1983, quinze dias antes de completar um ano da dolorosa ocorrência, Silvaninha, Espírito, voltou a se comunicar com os entes queridos que deixou na Terra, redigindo confortadora e elucidativa carta pela mediunidade de Chico Xavier.
Mostrando-se equilibrada e bem adaptada à Vida Maior, conseguiu transmitir, nessa mensagem, muita esperança e fé aos seus familiares, juntamente com preciosas informações, contando sua experiência no processo desencarnatório; a posterior e prolongada luta íntima para aceitar o novo ambiente; e desfazendo sentimentos de culpa de sua irmã Luciana, que dirigia o automóvel no momento do acidente fatal.
Ao afirmar: “espero que Luciana aceite o que me aconteceu por uma provação que, decerto, me esperava com endereço exato”, ela afastou qualquer ideia motivadora de complexo de culpa e revelou-se consciente da Lei de Causa e Efeito (ou Cármica) — reflexo da Justiça e Misericórdia de Deus, que se cumpre no desenrolar de nossas reencarnações.
Eis a afetuosa carta de Silvaninha:
PRIMEIRA CARTA n
1 Querido papai Olavo e querida mãezinha Wilma, abençoem-me.
2 Estou surpreendida com a possibilidade de exprimir com lápis e papel o meu assombro diante da transformação que me ocorreu.
3 Antes de tudo quero dizer à nossa querida Luciana que não temos lugar para sentimentos de culpa, nem ela e nem eu. Estávamos ambas em movimentação irrepreensível no trânsito e admirava a perícia da querida irmã ao descartar-se dos veículos que nos cercavam, quando a batida me alvejou de repente.
4 Creio que não pensei em mim, tanto quanto na irmã querida que sempre me protegeu carinhosamente. Meu desejo de expressar-lhe o meu apoio, caso estivesse ferida, era grande; no entanto, uma força compulsiva me dobrava a cabeça e não consegui manejar o meu corpo como ansiava fazer. 5 Escutei vozes que manifestavam espanto ou pediam providências, mas, dentro de mim o pensamento era uma lâmpada que se apagava, sem que eu pudesse fazer algo para impedir aquela cessação de vida mental que me afligia. 6 Caí num sono compulsivo qual se alguém me houvesse imposto elevada carga de sedativos e não soube mais coisa alguma acerca de mim própria, até que, naturalmente espantada, despertei sob as atenções de uma senhora que me convidava a nomeá-la por vovó Cândida. n
7 A penetração no complicado problema de meu regresso de improviso à Vida Espiritual passou a aborrecer-me. Gastei tempo para aceitar-me dentro do novo contexto de experiência a que fora conduzida e chorei imaginando o trabalho e o sacrifício que lhes teria dado. 8 Imaginar que a nossa Luciana estivesse sofrendo por minha causa me transtornava de todo e não descansei até que a vovó Cândida e a outra avó que se me apresentou com extrema bondade, a avó Maria Bertoni, n me favorecessem com a minha volta à casa.
9 Fitar as lágrimas de Luciana, e sentir em mim a dor do papai Olavo e da mãezinha Wilma, foi para mim um suplício, que só a oração conseguiu atenuar.
10 Agora, mais calma, venho pedir à querida irmã que não se preocupe por mim. Sei que ambas estávamos agindo cautelosamente e a nossa querida Luciana foi e continua sendo a nossa melhor chauffeure [motorista]. Não desejo que a irmãzinha renuncie ao prazer do volante e espero que Luciana aceite o que me aconteceu por uma provação que, decerto, me esperava com endereço exato.
11 Deus não nos abandona e peço à querida irmã sustentar-se na fé viva em Deus, com que sempre nos harmonizávamos com a vida.
12 Querida Luciana, não me ponha distante; estamos juntas como sempre e sentir-me-ei novamente feliz ao sabê-la positivamente livre de recordações amargas que não encontram razão de ser.
13 Querida irmã, venho beijá-la com o carinho e a gratidão de todos os dias, pedindo-lhe para viver e confiar na Divina Providência que nos dirige as vidas e caminhos.
14 O nosso hoje é muito melhor que o nosso ontem e o nosso amanhã brilhará com mais alegria no céu de nossas esperanças.
15 Mamãe Wilma, se não houvesse saudade, este é o momento em que tomaria por marco de minha nova felicidade, mas venceremos a saudade com a nossa confiança em Deus. Mãezinha Wilma, minha avó Cândida tudo tem feito por alegrar-me e sei que a sua bondade me auxiliará a ser agradecida.
16 Perdoem-me se finalizo.
Ficaria contente se me fosse possível materializar o meu sorriso de paz e esperança a fim de reconfortá-los, mas sem recursos para superar as leis que nos regem, contento-me em beijar a querida irmã com o enternecimento de todas as horas e envolvo os pais queridos na ternura imensa que me vai no coração.
17 À querida mamãe Wilma e ao querido papai Olavo, rogando nos abençoem, muito carinho e muita saudade nos beijos da filha sempre reconhecida,
Silvaninha
Silvana Maria Bertoni. n
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 - Carta psicografada por Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do GEP, Uberaba, Minas.
2 - Vovó Cândida — Cândida Rossi Sarto, bisavó materna, desencarnada em 20/06/1959.
3 - Avó Maria Bertoni — Maria Faria Bertoni, bisavó paterna, desencarnada há muitos anos.
4 - Silvana Maria Bertoni — Nasceu em São Paulo, Capital, a 10/10/1956. Cursou a Faculdade Mackenzie, onde se diplomou em Ciências Exatas (Matemática Computadorizada) em 1980. Ao sofrer o acidente automobilístico de 14/08/1982, foi hospitalizada com trauma craniano, e não suportando graves complicações, desencarnou no dia seguinte.
“
Cada vez que estendem as mãos em auxílio de alguém é a mim que endereçam maior amparo.
”
1 Querido papai Olavo e querida mãezinha Wilma, recebam todo o meu carinho com a nossa querida Luciana.
2 Venho até aqui, com a noninha Maria Bertoni, para confirmar-lhes que a paz está em meu coração, depois que os vi libertos daquele sofrimento que nos oprimia a todos.
3 Quero dizer à nossa Luciana que o carro acidentado está muito longe de nós. Tenho procurado acompanhar a irmãzinha em suas atividades e regozijo-me com a esperança e a tranquilidade que lhe habitam agora a alma querida.
4 Felizmente, de meu lado, tudo vai seguindo pelo melhor.
5 O bisavô Montesano n veio a nós, auxiliando-me igualmente.
6 Agora, peço a Deus unicamente os conserve felizes.
7 Papai Olavo e mãezinha Wilma, agradeço-lhes a beneficência em minha lembrança. n Cada vez que estendem as mãos em auxílio de alguém, é a mim que endereçam maior amparo. 8 Com as bênçãos de bondade que semeiam silenciosamente em meu nome, sinto-me cada vez mais abastecida de forças para trabalhar e agradeço-a Deus os pais queridos e a querida irmã que me deu, e rogo-lhes receber todo o meu reconhecimento.
9 Querido papai Olavo, peço a Jesus pelo restabelecimento de sua saúde e deixo à querida mãezinha Wilma e à nossa querida Luciana todo o meu carinho de sempre.
10 Pais queridos, recebam com a irmã abençoada que está crescendo cada vez mais em meu coração, todo o respeitoso amor da filha e irmã sempre agradecida.
Silvaninha.
Silvana Maria Bertoni.
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
5 - Carta psicografada por Francisco C. Xavier, em reunião pública do GEP, Uberaba, a 13/04/1984.
6 - Bisavô Montesano — Rafael Montesano, bisavô materno, desencarnado em 14/07/1930.
7 - Agradeço-lhes a beneficência em minha lembrança. (…) bênçãos de bondade que semeiam silenciosamente em meu nome — Ao abordar esta questão íntima, Silvaninha surpreendeu seus pais, demonstrando sua presença espiritual no seio familiar.
Hércio Arantes