O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Retornaram contando — Familiares diversos


4

“É fácil morrer, mas não é fácil desencarnar”

“Meu filho Ivinho tinha 18 anos, era calmo, sem vícios e cursava o 1º ano de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais.

“No dia 26 de novembro de 1978, às 6 horas da manhã, ele dirigiu-se à Lagoa da Pampulha, de automóvel, em companhia de dois amigos, os irmãos Bernardo e Aguinaldo, para praticarem remo. Mas, eis que um motorista de ônibus avançou o sinal… e pronto! Começou a minha tristeza. Aguinaldo sobreviveu, Bernardo faleceu no local do acidente e Ivinho, após permanecer 48 horas em UTI, também faleceu.”


Assim, D. Neide de Barros Correia Menezes, residente em Belo Horizonte, MG, sintetizou seu doloroso drama, em carta a nós dirigida, quando lhe solicitamos autorização para divulgar as mensagens mediúnicas de seu filho Ivo, recentemente psicografadas por Chico Xavier.

E, nesta mesma carta, ela concluiu seu relato com estas palavras tão significativas:

“Só no Espiritismo encontrei a explicação para tudo, e através de Chico Xavier a esperança de outra vida.”


Após uma Primeira Carta de rápidas notícias, recebida na madrugada de 15 de maio de 1982, na qual prometia voltar a escrever numa próxima oportunidade, com maior disponibilidade de tempo, ele cumpriu a promessa e tem enviado elucidativas cartas aos seus pais — também úteis a todos nós, pelos ensinamentos de que são portadoras, — como veremos a seguir:




SEGUNDA CARTA n


Dizem que quem pratica aceitação adquire uma fortaleza invejável para superar todos os problemas.

1 Querida mãezinha Neide, estou a uni-la com o papai Adalberto n em meus votos a Deus por nossa felicidade.

2 Mãe, sei que você anda desejosa de notícias pormenorizadas, mas estou tendo dificuldades para isso. Não é preciso ser mágico para adivinhar quantas mães se acham aqui à procura dos filhos, o que me leva a ir escrevendo, pouco a pouco, as impressões que aspiro a fornecer.

3 Mamãe, é fácil morrer, mas não é fácil desencarnar. A pessoa continua tão profundamente ela própria que muita gente chega, por aqui, a não admitir haja deixado a roupa física para envergar outros trajes. É uma graça e uma lástima.

4 Amigos tenho encontrado e reencontrado quase que aos montes, mas a linguagem de quase todos eles é o idioma de quem ficou no quarto que não mais lhe pertence, nos familiares que talvez não mais conheça, nas camisas prioritárias, nos passeios habituais… 5 E temos de engolir o que digam, porque o fazem com tamanha sinceridade que se aprende a resguardar qualquer risinho de estranheza para depois. É neste ambiente que estou refazendo energias.

6 O Bernardo n e eu continuamos juntos. Saímos para remar e prosseguimos remando de outro modo. Fomos acolhidos pela vovó Maria Celeste, n que nada tem de avó. É uma jovem de grande beleza, com grande maturidade espiritual, situação muito rara naqueles que mostram rosto bonito. Acontece que ela já contou algum tempo através de recessão e por isso parou no tempo que julga seja o mais valioso para ela, no setor da apresentação. n

7 Quando acordei por aqui, recolhendo o amparo que ela me proporcionou com o meu avô Barros, n o nosso encontro foi um tanto inamistoso. Ambos se esforçavam por enquadrar-me no conhecimento da morte; e tanto eu quanto o Bernardo reagíamos contra.  8 A vovó Celeste, que não pôde deixar de rir francamente quando lhe declarei que estava mais vivo do que nunca, e que exigia meu barco e minha rede de volta a fim de regressarmos para a sua companhia e para a companhia de meu pai Adalberto, do Júnior e da Maria Ângela, n porque eu não encomendara morte nenhuma, e o que eu queria mesmo, além do retorno à família, era me casar e ser feliz.

9 Os nossos interlocutores se entreolharam com o sorriso de quem contava uma anedota infeliz com muita educação e não se fizeram intransigentes. Apenas disseram que conheceríamos a realidade por nós mesmos, e os dois se incumbiram de fazer do seu rapaz este moço acanhado e talvez rabugento que passei a ser.

10 Mamãe, ore por nós. Dizem que quem pratica aceitação adquire uma fortaleza invejável para superar todos os problemas. Preciso dessa ginástica. Não estou infeliz, mas ainda um tanto inconformado com aquele negócio de acidente, e mais de quarenta horas com os médicos a me fazerem a cabeça, como se eu estivesse entregue a uma turma de santos crentes. Foi um problema. Não estou de cabeça nova, mas estou em outro corpo. Veja lá se isso é compreensível…

11 Estou bem, e não hesito em comunicar-lhe que estou bem, mas, no íntimo, estou ainda um tanto bem mal, porque não me desvencilhei dos meus pensamentos possessivos em torno de tudo o que considerava de minha propriedade. De qualquer modo não se impressione; já sei que isso é comum por aqui. n 12 A morte do corpo, para a maioria dos que estão desencarnados, não se faz de modo violento, quanto à incorporação dela aos nossos conhecimentos usuais. A mudança para quem não curtiu cama ou velhice, enfeitada de enxaquecas há de ser lenta, e ainda estou nessa.

13 Perdoe-me haver escrito tanto sobre isso, mas estou diante de seu carinho, e nós ambos em família sempre tivemos assuntos tristes para fazer alegria e casos felizes para chorarmos. Que Deus me transforme para ser como devo ser.

14 Lembranças aos irmãos, e envolvendo o seu carinho de mãe com a bondade do papai Adalberto, deixa-lhe umas boas dúzias de beijos o seu filho, sempre seu,


Ivo n




NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 - Psicografada pelo médium Francisco C. Xavier, em reunião pública do GEP, Uberaba, a 30/10/1982.

2 - Papai Adalberto — Adalberto Guimarães Menezes.

3 - Bernardo — Bernardo Vieira Maciel.

4 - Vovó Maria Celeste — “Maria Celeste de Barros Correia, bisavó de Ivinho, desencarnada em 1955, era mais conhecida por Sinhá, o que me causou surpresa, pois nem o próprio Adalberto, nem mesmo o Ivinho sabiam o nome verdadeiro de minha avó”, escreveu-nos D. Neide.

5 - … Vovó Maria Celeste, que nada tem de avó. É uma jovem de grande beleza (…) parou no tempo que julga seja o mais valioso para ela, no setor da apresentação. — Este palpitante tema é perfeitamente esclarecido por André Luiz (Espírito) no Capítulo: “Linhas morfológicas dos desencarnados”, da Segunda Parte de seu livro Evolução em Dois Mundos, Francisco C. Xavier e W. Vieira, FEB, Rio.

6 - Avô Barros — Mário Barros, avô materno, desencarnado em Recife, PE, aos 19/06/1970.

7 - Júnior e Maria Ângela — Irmãos.

8 - Estou ainda um tanto bem mal, porque não me desvencilhei dos meus pensamentos possessivos em torno de tudo o que considerava de minha propriedade. (…) isso é comum por aqui. — Este, um dos ensinamentos mais preciosos de suas cartas, alertando-nos para os sérios prejuízos à alma liberta do jugo carnal, quando muito apegada aos bens materiais.

9 - Ivo — Ivo de Barros Correia Menezes, nasceu em Recife, a 01/01/1960 e desencarnou em Belo Horizonte, a 28/11/1978.




TERCEIRA CARTA n


Estamos melhorados, mas precisamos de reinstalação nos pensamentos novos e desalojar os antigos.

1 Querida mamãe Neide, o momento é de nosso diálogo. Penso no papai Adalberto e sinto-me abençoado pelos dois.

2 É muito difícil escrever de uma vida para outra.
O nosso Bernardo e eu ainda não estamos numa boa. A vovó Celeste e o vovô Mário Barros, com outros amigos, continuam a falar-nos pacientemente. 3 Aquela agressividade e aquele desapontamento, dos primeiros dias aqui, já passaram. Concluímos que não adiantava recalcitrar. A verdade é que não queríamos nada com aquelas ponderações dos avós amigos, sobre a morte que não havíamos encomendado.

4 Pusemos banca de malcriação, reclamamos, choramos e debatemos com os nossos benfeitores contrariando-lhes os pontos de vista, mas a verdade é um muro de pedra, contra a qual nada se pode fazer senão curvar a cabeça e aceitar os fatos na dureza com que se revelam.

5 O que é certo é que o Bernardo e eu saímos para “pescar e fomos ambos pescados”. Agora imagino que os peixes, se falassem, não se mostrariam muito resignados e nem felizes em se verem fora da água que lhes serve de moradia.  6 O companheiro e eu permutamos muitos comentários negativos, mas acabamos cedendo. Impossível atacar a realidade insofismável. Imagino que não somos os únicos por aqui, nestas condições. 7 Basta que se escute a maioria das pessoas na Terra sobre a questão em que nos vimos. Um questionário bem feito mostraria que cem por cento das criaturas de nosso conhecimento repudiariam a opção da morte, excetuando os loucos que se atiram aos propósitos do suicídio.

8 A vida pode estar cara, as feiras estarão inacessíveis, os preços de tudo vão enforcando muita gente e as dificuldades de vivência e sobrevivência se acumulam por toda parte, mas ninguém quer largar o chão do planeta, agarrando-se a ele com unhas e dentes. Como observa, querida mamãe Neide, seja em Recife ou em Belo Horizonte, n o negócio é o mesmo: viver e desfrutar a melhor parte da existência.

9 Que os céus aqui são maravilhosos, não duvide; que há muita gente boa interessada em nos auxiliar, pode estar certa; de que o estudo e o trabalho são vantagens para quem os deseje, permaneça convencida de que é assim mesmo; no entanto, o chamado mundo azul dos astronautas é o nosso mesmo.

10 Felizmente, já posso falar isso gracejando, porque não seria justo deixar o tempo correr e imitar a locomotiva que não muda de caminho e nem de direção. Estamos melhorados, mas precisamos de reinstalação nos pensamentos novos e desalojar os antigos.

11 De minha parte estou bem, mas ficaria mais contente se estivesse em sua companhia e na companhia de meu pai comprando alguma arenga com o Júnior ou com a Maria Ângela. De qualquer modo, fiquei ciente de que o seu carinho fez orações por nós pedindo para que fôssemos induzidos a aceitar a desencarnação, e pelo menos induzido já me encontro.

12 Para os exercícios da aceitação total me falta pouco, e já sei que vou ser promovido à condição de bom aluno destas verdades daqui, que não se compatibilizam com os hábitos que cultivamos. 13 Compreendo que meu pai lerá o que escrevo, e ficará naquela da dúvida luminosa do amor que se crê sonhando quando escuta a realidade sem desejá-la, mas você, mãezinha Neide, já sabe que estou com melhores pontos e por isso venho desejar-lhe aquele Dia das Mães recheado de flores e doces, tão de meu gosto para alegrá-la.

14 Estamos bem e isso começa a nos reconfortar. O Bernardo pensa na faixa de minhas ideias, à maneira do carbono amigo, mas eu queria que ele me advertisse, e acabasse brigando para que eu veja com mais segurança o que nos aconteceu e está acontecendo.

15 Aqui, mamãe, termino com as lembranças do vovô Mário.

16 Desejo muita tranquilidade e alegria ao papai Adalberto e aos irmãos queridos, e peço aos amigos que me possam fazer o favor de reconfortá-la, entregar-lhe o meu carinho e o meu reconhecimento de todos os dias.

17 Muitos beijos do seu filho e companheiro do coração,


Ivo




NOTAS


10 - Psicografada pelo médium F. C. Xavier, em reunião pública do GEP, Uberaba, na madrugada de 30/04/1983.

11 — Em Recife ou em Belo Horizonte — Nestas duas capitais residem a grande maioria de seus familiares.




QUARTA CARTA n


Aí é muito difícil deixar de vestir espiritualmente as ideias de alguns que outra cousa não desejam senão ver-nos no fogo. (…) Tenho, contudo, muito receio do jeitinho qual me sucedia aí mesmo.

1 Querida mãezinha Neide, a hora segue para as matinas, mas não me furto à necessidade de faze-la ciente, tanto quanto ao papai Adalberto, que vou melhor, mais flexível.

2 O Bernardo e eu concluímos que reagir contra a realidade seria o mesmo que tentar impedir o curso de um grande rio com um galho de avenca. A querida vovó Maria Celeste e o avô Barros nos convenceram.

3 Já sei que a vovó é minha querida bisa, entretanto, ela prefere que a chamemos por avó Maria Celeste. Isso é um encanto, quando a gente acredita por aí que os mais experimentados nas rodovias do tempo são criaturas apáticas e vencidas pelos janeiros. Bobagem. Os mais curtidos no tempo, aqui são vanguardeiros. Jovens refeitos. Fica encanecido quem quer ou quem ainda não tenha vencido as tentações.

4 Gradativamente vou conhecendo as peculiaridades do meu campo de ação e descubro que o íntimo da pessoa é que manda. Muito menino aqui está maduro para ensinar; no entanto, há muita gente adulta que se esconde em máscaras enrugadas e em cabelos brancos, com receio de acordar emoções negativas em matéria de sentimento. A verdade, mamãe Neide, é que a beleza não tem sexo. Não estou ferindo a moral de ninguém falando isso, porque os traumas afetivos ficam para quem os acalenta.

5 Se via aí no mundo a presença da Sabedoria Divina no rosto de uma criança ou no olhar de um doente, ignorando-lhes os sinais morfológicos, aqui me sensibiliza muito mais contatar com uma bisavó, iluminada de bondade, com a face de um anjo que se detivesse indefinidamente na fase juvenil.  6 Até que cheguei por aqui com aquelas ideias de brasileiro patropi, falando em propósito de casar para não amofinar, já possuo boas mudanças, já consigo ver nobres e lindas jovens sem fazer peraltice na cabeça.

7 Sei lá, querida mamãe Neide. A pessoa fora da casca física é outra cousa. O ambiente nos empolga e passamos a ser o reflexo dos outros que somam a maioria decidida a se fixar na sublimação.

8 Inegavelmente, o Bernardo e eu estamos longe da substância, mas já conseguimos o modo e o modo para nós dois representa grande conquista. Do parecer, passamos a ser, e nisso colocamos nossa esperança.

9 Agradeço ao papai Adalberto e aos irmãos queridos Maria Ângela e Júnior a atenção que me deram; leram as minhas notícias e reconheceram que sou eu mesmo quem escreve. Nossas alegrias aqui aumentam.

10 O time está enriquecido com a presença possível do tio João e do tio Ivo. n Os reencontros são felizes e graças a Deus todos estamos de boa consciência, o que não sei se aconteceria se o Bernardo e este seu filho ainda estivessem no mundo.  11 Aí é muito difícil deixar de vestir espiritualmente as ideias de alguns que outra cousa não desejam senão ver-nos no fogo. Entretanto, não estou reprovando a ninguém. 12 Tenho, contudo, muito receio do “jeitinho” qual me sucedia aí mesmo. A gente é apresentado a essa ou aquela pessoa, o tempo nos amarra uns aos outros e depois vem a proposta que nos faria despencar da tranquilidade. Quando se reage, vem logo a conversa do “jeitinho”. Hoje, me alegro de estar longe, conquanto a saudade dos pais, dos irmãos e dos amigos, tudo melhor e tudo melhorará. Tanto aí quanto aqui, e isso é um grande consolo.

13 Agradeço a você, querida mamãe Neide, por vir, atravessando distâncias na firme convicção de que o nosso diálogo não faltará. Muito grato por seu sacrifício, muito embora saiba que você dará o melhor dos sorrisos para repetir: “sacrifício nenhum, meu filho”.

14 Bernardo está bem e se recomenda com lembranças. E eu, reunindo com os fios da imaginação o papai Adalberto com você e com os irmãos, peço-lhe receber tudo o que haja de melhor no amor e no coração de seu filho,


Ivinho

Ivo de Barros Correia Menezes




NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


12 - Psicografada pelo médium F. C. Xavier, em reunião pública do GEP, Uberaba, na madrugada de 03/09/1983.

13 - Tio João e tio Ivo — Tios-avós maternos de Ivinho, desencarnados em 1978 e 1966, respectivamente.




QUINTA CARTA n


Ainda não me habituei a ser cidadão de dois mundos diferentes.

1 Querida mamãe Neide, receba com o papai Adalberto aquilo de melhor que eu seja capaz de sentir. (…)

2 A vovó Maria Celeste e o avô Mário Barros continuam nos esclarecendo, mas ainda tenho muitas indagações.

3 Francamente, pelo menos de minha parte não sei se estou em Belo Horizonte ou em Uberaba, no Plano físico ou no mundo de novas sensações, tudo porque ainda não me habituei a ser cidadão de dois mundos diferentes.  4 Continuo desencarnado e prossigo querendo casar-me e ser pai de família.

5 Estimo os avós que me favorecem aqui com os melhores ensejos de ser feliz, mas, no fundo de mim mesmo, o que desejo realmente será formar na juventude do meu tempo e adotar uma vida caseira, pródiga de bênçãos de paz. Mãe Neide, é que seu filho anda partido em dois, tamanho é o meu anseio de realizar-me na condição de homem. Se puder conduzir-me como devo, farei um recanto de luz e amor em meu benefício.

6 A vovó Maria Celeste não nos violenta. Apenas apela para o Bernardo e para mim, solicitando-nos esperanças. Obedeço, conquanto saiba que não há casamento entre homens e almas do mundo novo que passou a ser o nosso. Desejo, porém, confiar-lhe os meus pensamentos mais íntimos na certeza de que, assim agindo, reparto consigo a carga atual de minhas perguntas sem respostas.

7 Apesar de tudo vou muito bem, com aquela saudade simbolizando apenas um chapéu para atrapalhar. Peço-lhe que ore por mim ainda.

8 Preciso acomodar-me com a realidade, mas estou ainda sem jeito de colocar meu coração no figurino da obediência. (…)

9 Tudo vai indo bem. Se você encontrar algum tom de queixa em minhas palavras isso é cascata, porque estamos aqui na Vida Espiritual sustentados por nossos parentes, qual se fôssemos príncipes realizados nos menores desejos.

10 Peço à Maria Ângela e ao nosso caro Júnior receberem o meu grande abraço. Não precisam recear a minha presença. Já possuo bastante experiência para tentar isso. 11 Os vivos são os vivos e os mortos são os mortos. A regra apresenta mudanças apenas para o coração das mães que não se alteram.

12 Por tudo isso, mãezinha Neide, aqui estou com as minhas saudades e as minhas alegrias doando a você e ao papai Adalberto o coração contente do seu filho, sempre o seu,


Ivinho




NOTA


14 - Psicografada por F. C. Xavier, em reunião pública do GEP, na madrugada de 03/12/1983.




SEXTA CARTA n


Mas hoje, mamãe Neide, quero falar-lhe à vontade, sem a pretensão de me esconder.

1 Querida mãezinha Neide, abençoe-me.

2 A saudade nos marcou encontro e não houve obstáculo que se nos opusesse à alegria do grande abraço desta hora. Estou imaginando como se arranjará a Maria Ângela na data de hoje. Será que a vovó Ciaozita n está assumindo a direção do bolo à frente das visitas? Penso que o esquema de sua vinda foi organizado com segurança.

3 Falar de carência afetiva é apelido. O que nos acontece a mim e ao amigo Bernardo, é que não obstante o carinho de nossos entes queridos, a gente sente uma vontade louca de voltar para casa. 4 O condicionamento mental é um fato de que não se pode duvidar. A minha avó Celeste, o meu avô Mário nos adivinham os mais íntimos pensamentos e o remédio é fazermos uma cara feliz de agradecimento, sem hipocrisia, porque o reconhecimento, diante de tanto amor, é uma ocorrência natural.

5 Mas hoje, mamãe Neide, quero falar-lhe à vontade, sem a pretensão de me esconder. Sinto falta de meus sapatos, de minhas camisas que eu mesmo desarrumava, e queria estar com o nosso querido Júnior, desfrutando o contentamento de nossa casa feliz. 6 E depois, temos o seguinte: as suas preces por nossa transformação nos auxiliam com segurança; no entanto, peço a sua licença para lhe contar que a minha inquietação emotiva ainda não terminou. Não sei explicar; mas não me acostumo a essa história de despojamento do corpo que é o instrumento perfeito de sensações a fim de que estejamos estimulados a viver.

7 O tio Ivo é um companheiro notável, esclarecendo-nos que isso passará; entretanto, aquele desejo de passear com uma garota a tiracolo observando se ela nos serviria para um casamento futuro prevalece comigo.

8 Muitos rapazes se desligam com facilidade desses anseios. Tenho visto centenas que me participam estarem transfigurados pela religião e outros adotam exercícios de ioga com o objetivo de cortarem essas raízes da mocidade com o mundo. Outros muitos estão na mesma faixa em que Bernardo e eu respiramos.

9 Meu tio Ivo fala em amor entre os jovens, apenas usufruindo o magnetismo das mãos dadas e até já experimentei, mas a pequena não apresentava energias que atraíssem para longos diálogos sobre as maravilhas da vida por aqui. Fiz força e ela também; no entanto, nos separamos espontaneamente, porque não nos alimentávamos espiritualmente um ao outro.

10 Creio que meu caso é uma provação que apenas vencerei com o apoio do tempo. Meu tio faz longas explanações sobre o desprendimento entre os que se amam; no entanto, ele fala com preciosas elucidações e continuo na mesma.

11 Se estivesse aí faria vinte e cinco anos em janeiro próximo; um tempo lindo para se erguer um lar e criar filhos que eu pudesse colocar em seus braços de mãe e nos braços do papai Adalberto.

12 Creia que o assunto ficou tão fixo em mim que o meu avô Barros me disse que eu conseguiria o que desejo só mesmo numa nova reencarnação.  13 Mas isso é um assunto grave, porque não desejo assumir outra personalidade esquecendo os vínculos que me ligam ao seu querido coração. Com o auxílio de Deus, vencerei essa situação que lhe comunico, em confidência.

14 Mamãe Neide, por que será que o homem passa por este período de necessidade de integração com uma outra criatura no casamento? Sei lá… A minha avó Celeste considera fácil esta abstenção por aqui, porque nos afirma que, em nossa Esfera não há possibilidade de gravidez15 Mas com gravidez ou sem ela, eu queria uma companheira loura ou morena, que se parecesse com você, que me protegesse, que me conseguisse organizar os lugares para descanso, que eu pudesse beijar muitas vezes para compensá-la do carinho que me consagrasse.  16 A vovó Celeste me fala que isso é utopia de moço inexperiente e que, por aqui mesmo, conseguirei conquistar uma criatura que me venha complementar tantos sonhos.

17 Garanto a barra da disciplina, nada faço em contraposição ao que preciso fazer, mas mamãe Neide, você acha que seria pecado encontrar uma jovem para se casar comigo? De filhos, nem poderíamos pensar, mas eu a trataria por filha e ela faria o mesmo para comigo… Isso é o único problema que me esquenta a cuca, embora já consiga parecer um rapaz acomodado aos hábitos do lugar em que presentemente devo viver.

18 Mamãe, você acredita que um rapaz de mãos entrelaçadas com as mãos de uma jovem que, eu, porventura venha a amar solucionaria o meu problema? Conto-lhe tudo isso porque estava com muitas saudades de dialogar consigo. 19 Dizem por aqui que os pares certos trocam emoções criativas e maravilhosas no simples toque de mãos; no entanto, estou esperando esse milagre.

20 O Bernardo, que se me fez companheiro dedicado e atento, aprecia o caso da mesma forma que eu; no entanto, estamos seguindo os seus exemplos de paciência e conformação e estamos trabalhando ativamente.

21 Quem sabe? Talvez isso resolva. Ouvi dizer no mundo que muitos rapazes e moças se entregam aos remos e, com esse trabalho, decorrente de um nobre esporte, conseguem liberar o magnetismo do sexo. Para que você possa rir com seu filho, vou procurar uma embarcação que me sirva de exaustor de tantas inquietações acumuladas. Acontece, porém, que você se recorda que perdi o meu corpo quando me decidia ao serviço de pescar. Eu fico pensando, pensando…

22 Quanto ao mais, tudo segue bem. As nossas atitudes são corretas. O problema é o anseio que está por trás delas, porque vejo que por aqui preciso acostumar a uma vida sem muitas complexidades de sentimentos.  23 Estudo, compareço ao trabalho, atendo às instruções dos mentores que nos guiam, mas o traço forte do sexo prepondera. De quando em quando, sou arguido por esse ou aquele instrutor que me pergunta sorrindo se já estou livre de minhas ansiedades, mas não tenho coragem de mentir e já sei que vou receber um sermão amigo recheado de bons conselhos.

24 Enfim, esta é minha atualidade e não podia omitir o que sinto perante você, minha mãe, minha confidente e minha melhor amiga. Com o tempo vamos regularizar tudo isso. Esteja tranquila. 25 Refiro-me ao assunto, porquanto noto que a maioria dos jovens desencarnados que se comunicam dão uma volta no caso e passam por cima; no entanto, sei que a maioria deles está em posição semelhante à minha. Mas não há de ser nada. Acredito que vou entrar no cordão das mãos entrelaçadas e depois lhe darei notícias.

26 Envio parabéns à Maria Ângela e um grande abraço ao Júnior e ao papai Adalberto. Mãezinha Neide, não se preocupe com o que lhe transmito.  27 É que unindo as nossas orações por meu desligamento das sensações terrestres de que ainda tenho necessidade, estou certo de que vencerei. As mães podem tanto quanto os anjos de Deus e me entrego às suas preces.

28 Querida mãezinha Neide, não me esqueci do Dia das Mães. A minha rosa esteve em seu quarto. 29 Se alguém na família encontrar motivo para humor em minha situação, você não se impressione. Quem zombar de mim, um dia estará aqui, pedindo o apoio de alguma mulher que o auxilie. Isto é natureza criada por Deus, e de Deus virão os recursos para que estejamos em paz.

30 Muito apreço ao papai Adalberto e muito carinho a todos os nossos. E para você, querida mãezinha Neide, fica nesta noite de preces todo o coração de seu filho, que se considera cada vez mais seu,


Ivinho.




NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


15 - Psicografada por F. C. Xavier, em reunião pública do GEP, na noite de 26/05/1984.

16 - Vovó Ciaozita — Ciaozita Rabelo, avó materna.


Hércio Arantes


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir