1 O reino da vida, além da morte, não é domicílio do milagre.
2 Passa o corpo, em trânsito para a natureza inferior que lhe atrai os componentes, entretanto, a alma continua na posição evolutiva em que se encontra.
3 Cada inteligência apenas consegue alcançar a periferia do círculo de valores e imagens dos quais se faz o centro gerador.
4 Ninguém pode viver em situação que ainda não concebe.
5 Dentro da nossa capacidade de autoprojeção, erguem-se os nossos limites.
6 Em suma, cada ser apenas atinge a vida, até onde possa chegar a onda do pensamento que lhe é próprio.
7 A mente primitivista de um mono, transposto o limiar da morte, continua presa aos interesses da furna que lhe consolidou os hábitos instintivos.
8 O índio desencarnado dificilmente ultrapassa o âmbito da floresta que lhe acariciou a existência.
9 Assim também, na vastíssima fauna social das nações, cada criatura dita civilizada, além do sepulcro, circunscreve-se ao círculo das concepções que, mentalmente, pode abranger.
10 A residência da alma permanece situada no manancial de seus próprios pensamentos.
11 Estamos naturalmente ligados às nossas criações.
Demoramo-nos onde supomos o centro de nossos interesses.
12 Facilmente explicável, assim, a continuidade dos nossos hábitos e tendências, além da morte.
13 A escravidão ou a liberdade residem no imo de nosso próprio ser.
14 Corre a fonte, sob a emanação de vapores da sua própria corrente.
15 Vive a árvore rodeada pelos fluidos sutis que ela mesma exterioriza, através das folhas e das resinas que lhe pendem dos galhos e do tronco.
16 Permanece o charco debaixo da atmosfera pestilencial que ele mesmo alimenta, e brilha o jardim, sob as vagas do perfume que produz.
17 Assim também a Terra, com o seu corpo ciclópico, arrasta consigo, na infinita paisagem cósmica, o ambiente espiritual de seus filhos.
18 Atravessado o grande umbral do túmulo, o homem deseducado prossegue reclamando aprimoramento.
19 A criatura viciada continua exigindo satisfação aos apetites baixos.
20 O cérebro desvairado, entre indagações descabidas, não foge, de imediato, ao poço de obscuridades em que se submergiu.
21 E a alma de boa vontade encontra mil recursos para adiantar-se na senda evolutiva, amparando o próximo e descobrindo na felicidade dos outros a própria felicidade.
22 Em razão das leis que nos governam a vida, nem sempre o mensageiro que regressa do país da morte procede de Planos superiores e nem a mediunidade será sinônimo de sublimação.
23 Determinadas inteligências desencarnadas se comunicam com determinados instrumentos mediúnicos.
24 Os habitantes de outras Esferas buscam no mundo aqueles com os quais simpatizam e a mente encarnada aceita a visita das entidades com as quais se afina.
25 A necessidade do Evangelho, portanto, como estatuto de edificação moral dos fenômenos espíritas, é impositivo inadiável. Com a Boa Nova, no mundo abençoado e fértil da nossa Doutrina de luz e amor, possuímos a estrada real para a nossa romagem de elevação.
Emmanuel
[1] [O Livro dos Espíritos, 68-70]