86ª reunião | 3 de julho de 1958.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Francisco Gonçalves, Geni Pena Xavier, Áurea Gonçalves, Francisco Teixeira de Carvalho, Geraldo Benício Rocha, Antônio Inácio de Melo, Gil de Lima, Hélio Coscarelli, Francisco Cândido Xavier, Zínia Orsine Pereira e Waldemar Silva.
Comunicação recebida pela médium Zínia Orsine Pereira.
Meus amigos, Jesus nos abençoe.
As atribuições que aí na Terra executamos, tão ao saber nosso, visam quase sempre o bem-estar do nosso corpo e são bem diversas à frente das necessidades do Espírito. Defrontamo-nos aqui com as nossas mais pequeninas faltas e o que nos parecia insignificante cresce aos olhos da alma e nos faz, às vezes, chorar de arrependimento e de vergonha.
É que os Espíritos saídos da infância e da juventude, e que, portanto, maiores responsabilidades acumulam, se comprometem a jamais faltar com os comezinhos deveres da caridade, embora muitas vezes se vejam cercados de incompreensão e dolorosos problemas. E a quebra desse compromisso lhes acarreta sérios contratempos.
Entretanto, meus caros irmãos, se temos lutas acerbas a enfrentar, deparamo-nos também com entretenimentos, horas de lazer, de verdadeiro reconforto espiritual. Temos nossas palestras com os amigos daí e daqui, o que muito nos encanta e nos alegra.
Contou-me, há dias passados, um amigo vindo da Terra bem antes de mim, um fato que, com a sua permissão, vos relato agora, apenas para lembrete daqueles que se dizem espíritas.
Frequentava o nosso irmão um lar amigo, onde era recebido sempre com as mais exuberantes provas de carinho e confiança. A certa altura, porém, premido por influências menos sãs, intoxicado por excesso de amor próprio, que, tardiamente, reconheceu, melindrou-se, pôs em dúvida aquela amizade tão santa, emitiu conceito desabonador ao chefe daquele lar e afastou-se, ressentido. Reclamações, desculpas, mas com um pouco de tolerância e boa vontade tudo em breve foi esquecido, porém menos para ele que, ao desencarnar algum tempo depois, reconheceu o seu erro e sentiu-se ligado ao peso do remorso. Sem forças para se libertar, e sem meios para poder fazer compreender o seu arrependimento, permaneceu em luta até que, por mercê de Deus, lhe foi dada uma oportunidade de se penitenciar, desatando, assim, a algema que ele mesmo forjara com excesso de personalismo. O meu amigo sorriu tristemente e acrescentou: “Bem vê, Cícero, que esse fato parece banal para muita gente, porém, menos para mim, que duas vezes na semana dirigia uma sessão espírita, onde eu lia e comentava o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
E daí por diante tenho tido o máximo cuidado em não julgar o meu próximo, e compreendi a grandeza daquela afirmativa: “Orai e vigiai para não cairdes em tentação”. ( † )
Calou-se o meu amigo e eu continuei a meditar sobre a grande responsabilidade que o conhecimento do Evangelho nos traz. Por hoje, meus amigos, eu me despeço deixando-vos aqui, como sempre, agradecido, o meu coração sincero e fraterno.
Cícero Pereira
[1] Mensagem originalmente sem título, o que foi feito para a composição do presente volume.