87ª reunião | 10 de julho de 1958.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Geni Pena Xavier, Francisco Teixeira de Carvalho, Geraldo Benício Rocha, Hélio Coscarelli, Eunice Cerqueira, Gil de Lima, Zínia Orsine Pereira e Waldemar Silva.
Comunicação recebida pela médium Zínia Orsine Pereira.
A minha vida aqui, depois de tão prolongados e profundos padecimentos, eu considero como uma verdadeira bênção divina. Todavia, por causa de minha grande perturbação, nada posso dizer de novo, a não ser a dura experiência que adquiri à custa de muitas lágrimas.
Fui mulher e muito orgulhosa, como quase todo ente humano, vaidosa e convencida, e mais ainda por ter sido favorecida pela beleza física, pela posição social invejável e por meus pais, que toleravam, pacientemente, todos os meus caprichos, por mais desmedidos que fossem.
Tornei-me uma rainha déspota e não me incomodava com os sacrifícios dos meus vassalos. Alegre e feliz, satisfeita em todos os meus menores desejos, vivi 25 anos.
Mas de repente, como tudo acaba na vida, a minha também modificou-se. Uma horrível enfermidade dominou-me o corpo, como eu sabia dominar àqueles que me amavam tanto.
Vi-me coberta de pústulas e tão deformada que eu mesma não me reconhecia no espelho. Achei que era uma ingratidão, um absurdo, uma verdadeira injustiça, e desesperada, em um acesso de raiva, matei-me.
Quando acordei, estava presa numa cova tão estreita, e o meu corpo tão inchado que forçava a terra a expandir para ceder-lhe um espaço maior. E à proporção que isso se dava, vermes terríveis e famintos enchiam o espaço vazio na ânsia de devorarem o meu corpo, que não terminava nunca.
Louca de medo, gritava, gritava, e a minha voz não era ouvida por ninguém.
Nem sei ao certo quantos anos, ou quantos séculos, vivi esse sofrimento — talvez uma eternidade.
Sentindo a minha resistência se esgotar, lembrei-me de Deus, a quem eu havia desprezado na minha felicidade e, soluçando, pedi-Lhe que me matasse de verdade, pois eu ainda continuava viva e sofrendo muito.
Assim fui trazida aqui e fiquei aliviada daqueles vermes que me devoravam. Vocês me informaram que eu havia matado meu corpo, mas que minha alma estava viva. E eu estou sem rumo agora, não sei o que fazer. Receosa do meu futuro, arrependida, quero ser escrava daqueles de quem eu fui rainha. Eu peço proteção, e que todos me auxiliem para que eu não volte mais para aquela cova tão escura e tão estreita!
Tenham dó de mim, desta infeliz!
Maria Tereza de Barros
[1] Mensagem originalmente sem título, o que foi feito para a composição do presente volume.