68ª reunião | 27 de fevereiro de 1958.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Francisco Gonçalves, Laura Nogueira Lima, Geni Pena Xavier, Lucília Xavier Silva, Francisco Teixeira de Carvalho, Francisco Cândido Xavier, Antônio Inácio de Melo, Edite Malaquias Xavier, Gil de Lima, Aderbal Nogueira Lima, Zínia Orsine Pereira, Geraldo Benício Rocha e Waldemar Silva.
Comunicação recebida pelo médium Geraldo Benício Rocha.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
A morte surpreendeu-me em minha terra natal, não obstante não ser moço, mas ainda cheio de anelos.
Como todo pai ativo e trabalhador, desejava ver os meus filhos formados, porém a surpresa foi extraordinariamente desagradável, acrescida ainda de penosa lembrança de ver os meus filhos, minha esposa, meus amigos, discípulos, que eu julgava terem se esquecido do velho professor, derramarem lágrimas e levarem à beira do túmulo o testemunho de uma amizade, de uma admiração e de um respeito extraordinários!
Confundia-me essas manifestações, porque não compreendia que houvesse morrido!
Sentia dores, chorava, sentia que choravam por mim; me dirigia a todos e ninguém me reconhecia, ninguém me falava, então meu corpo enregelado desceu para a terra.
Enlouqueci e saí como um doente, gritando por socorro, misericórdia, Senhor, e caí de joelhos no velho adro da Matriz.
Orei com as forças e a fé de um cristão.
As portas se abriram novamente, de par em par, e cantei um Te Deum † pomposo, com músicas, com orquestra dirigida por velhos músicos que me receberam, e alguém me sussurrou que eu estava no Céu.
O ambiente festivo, sagrado, o respeito por aquela religião que eu embalara a alma durante toda a vida tranquilizou-me um pouco e permanecemos, assim, vários dias. No entanto, o coração da esposa e dos filhos, as lágrimas, a voz dos amigos por intermédio de preces pedindo que o Senhor me conservasse no Céu, me perturbavam como vento sacudindo a árvore no meio do campo. E pude fugir àquelas cerimônias, apesar de respeitáveis, mas extremamente pomposas, que não satisfaziam a minha alma inquieta, porque eu desejava consolação, eu desejava entendimento na minha situação como homem, como morto, como criatura, e não podia ver, sobretudo, a minha escola, os meus alunos dispersos, e nessa preocupação orei novamente.
Então um magneto poderoso atraiu-me a cidades desconhecidas. Passei novamente a ver discípulos que não mais me preocupava com eles.
Fui levado a uma assembleia semelhante a esta e vi, então, que a nova geração tinha conhecimentos que eu nunca supus. A alma não estava condenada aos Céus, ao Inferno, ao Purgatório. Havia uma sequência maravilhosa de vida exuberante de inteligência, de amor, de progresso, de entusiasmo em torno de tudo e de todas as coisas! E com alegria eu vi que eu fazia parte dos seres vivos e inteligentes da vida! Eu não era o fantoche, a alma inanimada, metamorfoseada no meio de uma igreja secular. Bela, respeitável embora, mas que não sentia as dores mesmo daqueles que eram fibra do meu próprio coração, daqueles que eram o sangue do meu sangue, daqueles que vibravam entrelaçados e harmoniosamente com a minha alma!…
Espantou-me, surpreendeu-me, que nessas assembleias respeitáveis clérigos nelas tomassem parte: D. Joaquim, D. Silvério, padre Caldeira e vários e respeitáveis amigos, juízes, militares, advogados, médicos, religiosas e velhos mestres de escola!
Aquela força continuava como que balouçando, ninando a minha alma, e os conhecimentos vinham, pouco a pouco, como alguém cansado que galgasse uma montanha e com o sopro da brisa fosse assenhorando-se de si mesmo.
Meu coração encontrou tranquilamente aquela paz, aquela harmonia de discernir, alegria de viver, o contentamento de saber que eu poderia ainda produzir, aprender, ensinar, chorar, rir e aconselhar.
Procurei os meus filhos, o ceticismo inquietante dominava-lhes a alma. Por maior entusiasmo que lhes falasse sobre a minha descoberta da nova ciência de viver, eles mantinham-se ignorantes, incrédulos da situação. Então veio-me à memória: “Quem é o meu pai? Quem é a minha mãe? E quem são os meus irmãos? Vós os conheceis?” ( † ) — palavras da Sagrada Escritura. E vi então nos velhos discípulos que eu ainda tinha-lhes um carinho como de meninos; criaturas cujas mentes desenvolveram-se grande e brilhantemente no setor das ciências psíquicas, e a nova filosofia empolgou-me a alma.
Louvado seja o Senhor! Os méritos não tive, mas a misericórdia de Deus premiou-me o esforço de bem servir à juventude da minha terra que a mim havia sido confiada. E as preces, as lembranças carinhosas, eram como que gotas de orvalho que iluminavam, acalentavam a minha alma cheia de dissabores.
Passei a ver então na assembleia a mão divina que me orientava para uma compreensão maior, para um mundo melhor, para um mundo diferente, de utilidade, de compreensão e de progresso para todas as criaturas humanas. Passei a fazer parte dessa assembleia — ela se interligava a outras assembleias na sucessão dos conhecimentos, na dilatação do meu Espírito, da minha visão e do meu entendimento.
E eis que aqui vim, ligado que estou a muitos desta casa. E é a primeira vez que vos falo como Espírito, não obstante ser membro integrante dos Espíritos do Senhor. E a minha alma se engrandece na grandeza do Senhor por louvar-lhe a misericórdia, a bondade e as bênçãos que nos concede.
Saúdo, pois, aos filhos de Deus, aos amigos que se congregam nessas assembleias, e agradeço-vos a hospitalidade. Aprenderei convosco, viverei os vossos problemas de iluminação e de discernimento, e naquilo que as minhas humildes possibilidades puderem estarei como o obreiro da última hora, construindo o pálio luminoso que nos amparará da ignorância constante!
Manoel da Silva Pinto