64ª reunião | 30 de janeiro de 1958.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Francisco Gonçalves, Geni Pena Xavier, Laura Nogueira Lima, Lucília Xavier Silva, Francisco Teixeira de Carvalho, Edite Malaquias Xavier, Maria da Cruz, Neuza Rocha, Aderbal Nogueira Lima, Francisco Cândido Xavier, Geraldo Benício Rocha e Waldemar Silva.
Comunicação recebida pelo médium Geraldo Benício Rocha.
Deveria usar outra saudação, mas é tão profunda a emoção, a consternação que me envolve neste momento é tamanha, que não tenho coragem de usar as expressões usuais próprias, que há algum tempo, também como espírita, usei.
Dizia-me espírita através de dezenas, de centenas, de milênios mesmo. Tenho lutado pela aceitação do Evangelho e a bondade do Senhor me concedeu na última jornada o quanto lhe pedi para que pudesse, no seu santo nome, resgatar com amor, com carinho, com dedicação de profissional da medicina quanto de sofrimento eu havia infringido por sua causa àqueles que aceitavam a sua doutrina, a consolação da sua palavra, a exortação de sua fé.
Adquiri fortuna razoável, constituí família digna e respeitável. O campo das responsabilidades doutrinárias se dilataram e aceitei-as com a alegria de uma alma que começa a cumprir o seu dever. A missão na medicina chamava-me e apesar de já quase velho, abracei os estudos e fui feliz.
Projetei-me e quase tive nome. O orgulho, entretanto, cegou-me. Relatos do passado que me chegaram às mãos, relatos muito importantes, reminiscências de milênios, ao invés de transformarem a minha alma em pedra burilada, onde se pudesse escrever, onde se gravasse com caracteres de fogo para que não mais se apagasse a humildade, a fé e o amor, reavivaram com letras de fogo o orgulho, a vaidade e todos aqueles sentimentos que há quase mil anos me fizeram usar um chicote.
Compreendeis que seja natural que me fuja às expressões em que persegui os discípulos do Senhor.
Recusei as reminiscências que deviam conduzir-me para o bem. Fechei as portas do Evangelho que se abriam para a minha alma. Tentei discutir, negar a verdade, destruir, como se me fosse possível, o que vinha mostrar a pusilanimidade do meu proceder.
Encastelei-me na ciência adquirida, fugi de todos os companheiros que me abriam os braços no campo da fraternidade evangélica. Neguei todos os conhecimentos e todas as possibilidades dos títulos e da prática honesta (Deus seja louvado!) da medicina. Tornei-me mais rico. Tornei-me conhecido e dei, como se quisesse destruir todas as lembranças do passado, tudo quanto constituía ensinamentos do Evangelho. Fiz-me cego diante das luminosidades que o Senhor havia me concedido. Fiz-me surdo diante da sua voz, que me chamava novamente para o seu aprisco e para o seu coração.
Enfermidade veio — não senti a morte, porque tamanha era a dor do derrame que apenas as contrações musculares do meu organismo sentiu a vida, mas ela em si mesma havia sido fulminada.
Mas a misericórdia do Senhor não cessou. Fui recolhido por companheiros de outrora, que dirigem com o coração, com amor e com as lágrimas esta casa.
Prece de companheiros do passado milenário sustentaram-me e fui socorrido nesta casa por companheiros espezinhados e esquecidos, criticados, e aqui me encontro para receber mais antídotos para o meu Espírito, mais forças para o meu corpo para que volte cego, novamente, nesta Terra, para que volte a esmolar para adquirir a humildade, com um desejo imenso de saber, sem poder, todavia, testemunhar as grandezas de sabedoria, pois serei cego.
Eu estou comovido, senhores, não mais orgulho tenho. E a comoção é tamanha que as ideias se baralham, se confundem.
Quando falo do fenômeno da morte, sinto como se me comprimisse a cabeça, através do derrame que me levou. Sinto que a vista escurece, escurece, e na minha frente vejo a preparação de uma reencarnação.
Mas vim trazer aos companheiros que me ouvem, da Terra e do Espaço, o meu agradecimento, o meu saudar e a minha súplica de amparo.
Eu sou o Waldemar de Freitas.
Deus conosco!
Waldemar de Freitas