49ª reunião | 3 de outubro de 1957.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Geni Pena Xavier, Francisco Gonçalves, Laura Nogueira Lima, Francisco Teixeira de Carvalho, Geraldo Benício Rocha, Antônio Inácio de Melo, Lucília Xavier Silva, Aderbal Nogueira Lima, Francisco Cândido Xavier, Zínia Orsine Pereira, Áurea Gonçalves, Waldemar Silva e Santinônimo Vieira Machado.
Comunicação recebida pela médium Zínia Orsine Pereira.
O médico que visa, antes de tudo, o seu bem-estar, as vantagens monetárias e a sua posição social é apenas um médico, mas se ele, compenetrado da sua missão divina, busca no enfermo as raízes do seu mal, amparando-o, orientando-o, ele é um médico e, mais ainda, um missionário.
O que direi eu agora, beneficiado como fui pelos dirigentes desta casa, que me acolheram, curaram as minhas chagas, secaram-me as lágrimas e guiaram os meus primeiros passos para o caminho do bem?
Homem orgulhoso que fui, envaidecido com a grande fortuna que me foi deixada por meu pai, julguei-me superior, humilhava a todos e repetia sempre: “Posso pagar! E, portanto, exigir também!” Construí um trono de vaidade e de lisonjas para mim, e nele assentei-me comodamente, desprezando os soluços e os gemidos dos que me cercavam.
Como uma advertência ao meu grande erro, perdi quase momentaneamente tudo o que possuía e sem compreender a lição desesperei-me, revoltado contra o próprio Deus, esquecendo-me de que os maiores tesouros — a minha família e a minha saúde — Ele me havia conservado.
Não compreendia a vida sem o dinheiro, sem o ouro. Xingava, reclamava, chorava, espalhando a tristeza, o medo, e a tirania em meu derredor. Preparava, revoltado, a minha fuga da vida, mas de modo que deixasse alguém como responsável pela minha morte, resguardando, assim, a minha reputação de homem honesto e fino que sempre me julguei.
Mas, lamentavelmente, muito tarde reconheci a ajuda que tive quando caí gravemente enfermo, paralítico, impedido, portanto, de executar o meu nefando projeto. Não soube agradecer a Deus aquela doença, que poderia ter sido o princípio da minha regeneração. Exasperei-me mais e mais até que a morte me colheu. Mas o orgulho e a revolta seguiram-me, acompanharam-me até depois do túmulo.
Só eu sei o que sofri e sofro ainda! Agora, estou vencido, cansado, e sem forças para lutar! Ontem, rico de dinheiro e de orgulho, hoje, mendigo de paz e de luz, a implorar um pouco de misericórdia e de um abrigo onde possa esconder a minha dor e a minha vergonha. Porque agora reconheço o meu fracasso. A doença é, muitas vezes, um barco de salvação que nos leva a porto seguro, mas se nos revoltamos contra o timoneiro desse barco, ele soçobrará por certo, levando-nos para os abismos, nas maiores profundidades da amargura.
Estou aqui com vocês e o meu desabafo é o sinal do meu profundo arrependimento, embora muito tardio. Se, porém, o meu exemplo servir de advertência a alguém, já será um grande benefício para mim, e é isso o que desejo sinceramente.
José Mendes