50ª reunião | 10 de outubro de 1957.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Francisco Teixeira de Carvalho, Geraldo Benício Rocha, Nélio Cerqueira Gonçalves, Antônio Inácio de Melo, Aderbal Nogueira Lima, Francisco Cândido Xavier, Zínia Orsine Pereira e Waldemar Silva.
Comunicação recebida pela médium Zínia Orsine Pereira.
Nossos pés, muitas vezes, nos conduzem a lugares impróprios, inundados pelo lodo das paixões destruidoras. Podem, também, ser o veículo do auxílio e do socorro para os que lá sofrem, sem forças para se levantar.
Se o nosso coração pulsa por um amor menos digno, capaz de levar o desequilíbrio e a intranquilidade ao próximo, poderá também, se melhor dirigido, levantar os que erram e choram, mergulhados na lama dos sentimentos embrutecedores.
Se os nossos olhos servem de escândalo e de instrumento à infelicidade alheia, será bem melhor que eles se volvam para dentro de nós mesmos, buscando, antes de tudo, as nossas múltiplas imperfeições.
Se a nossa língua se abisma na conspurcação dos fatos, agravando os males e ferindo o próximo, é bem mais útil e mais promissor que ela silencie quando não souber ainda ajudar. Que ela vibre apenas quando puder desculpar, socorrer e orar, buscando no Pai a iluminação para nós próprios e para os nossos companheiros de peregrinação, porque assim verifiquei o que temos em nós mesmos para corrermos em busca da dor ou da paz.
Outrora, quantas vezes feri, julguei, ofendi, sem saber que plantava dores e lágrimas, infortúnios para o meu pobre Espírito. E hoje aqui estou a pedir a Deus que na minha próxima vida aí na Terra eu sofra tudo que causei aos outros — meus olhos não tenham luz para que eles não possam transmitir ao meu cérebro e ao meu coração o desejo de ferir, de ofender, de maltratar alguém. Porque só depois que perdemos o nosso corpo físico sabemos aquilatar o seu grande valor e as sublimes oportunidades que perdemos.
Aprendi também aqui uma grande verdade: é que Deus não nos julga. Nós mesmos nos colocamos, compulsoriamente, nos lugares que nos reservaram os nossos pés, o nosso coração, os nossos olhos e, especialmente, a nossa língua.
Silencie, pois, aquele que não pode ainda compreender a ciência do verbo para que não sofra como eu! Cale-se aquele que não pode ser caridoso ainda! A revolta que alimentava por tudo que me cercava, a minha inconformação e rebeldia só me deixaram o doloroso ressaibo da amargura e da desilusão.
Carlos Dias