O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Registros imortais — F. C. Xavier e outros médiuns do Grupo Meimei — Autores diversos


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Dolorosa confissão

4ª reunião | 25 de outubro de 1956.


Presentes: Arnaldo Rocha, Francisco Teixeira de Carvalho, Elza Vieira, Antônio Cordeiro Albuquerque, Francisco Gonçalves, Geni Pena Xavier, Francisco Cândido Xavier, Edmundo Fontenele, Edite Malaquias Xavier, Áurea Gonçalves, Gonçalves Pereira, Zínia Orsine Pereira, Laura Nogueira Lima, Geraldo Benício Rocha e Waldemar Silva.

Comunicação recebida pelo médium Geraldo Benício Rocha.


Louvado seja Deus, que permite seja minha voz ouvida numa escola de companheiros do Evangelho!

Há mais de meio século, nas terras de Minas Gerais, arvorei o pendão de João Batista, ( † ) trazendo no coração muita fé e muita alegria, mas também muito orgulho e muita vaidade.

Ao invés de alicerçar-lhe a casa na divisa que fiz inscrever “fora da caridade não há salvação”, ( † ) pautando, orientando, dirigindo os nossos atos naquela humildade característica do padroeiro que erigíramos para a nossa casa, fizemos espoucar fogos, ouvir bandas de música, envergamos cartolas e atendemos a todas as exigências de uma vida fictícia de uma sociedade vazia de sentimento e balda de amor.

Longe de crescer no coração das criaturas, que, ávidas, procuravam naquela casa as semente do consolo e da evangelização, crescia nela o orgulho, a desilusão e a obsessão. Levamos a nossa cruz cheia de flores, cheia de luzes fátuas, mas vazia de sentimento, escura das luzes do amor, sem a florescência da fraternidade e do perdão.

O estigma enraizou-se profundamente, vibrando fortes golpes nas leis de harmonia e de fraternidade, e desencadeou-se guerra surda contra nós, contra a casa, contra a instituição que deveria crescer, deveria florescer e amparar a todos aqueles que esperavam por nosso concurso nas terras de Minas.

O orgulho e a vaidade ensandeceram-nos, através de elogios e honrarias mentirosas. Levamos as explanações espiríticas para todos os lugares onde a alta sociedade dominava, mas esquecemos de conduzi-la aos lugares onde a dor campeava. E carreávamos a nossa palavra para todas as tribunas floridas e deixávamos de enxugar as lágrimas dos órfãos desamparados, dos velhos sofredores e das mães aflitas e famintas.

Os anos passaram. A misericórdia do Senhor nos levou para outras plagas para que sentíssemos melhor, para que ouvíssemos melhor as orientações dos nossos amigos dedicados, dos nossos sábios protetores.

Sempre o orgulho, sempre a vaidade, sempre o desejo das honrarias humanas, sempre o anseio de que o nosso nome figurasse no frontispício de obras literárias!… E assim foi até que a velhice nos bateu às portas do corpo que já se ia alquebrando…

Rompemos com todos os companheiros que podiam nos auxiliar, aos quais devíamos respeito, solidariedade, fraternidade e compreensão. E a morte nos surpreendeu, encontrando-nos vazios de quanto havíamos prometido ao Senhor.

É muito longa a minha história. O meu nome aureolou-se na propaganda espírita com luz imerecida. A cultura que o Senhor me proporcionou, as possibilidades que enfeixei nas minhas mãos e a destruição dessas divinas possibilidades arrojaram-me num báratro profundo de trevas. Sinto-me vazio, perdido no vácuo, como se alguém solapasse a base que havia de me sustentar, porque, na realidade, ela não foi criada, não tive amor, não tive sentimento de fraternidade, não exemplifiquei o perdão, mas apenas estulta vaidade. Desejei apenas que meu nome aparecesse… Então a morte, a divina morte, veio obrigar-me a retratar-me ante a própria consciência. E semelhante ao balão sem comando, ao dirigível desorientado no turbilhão da vida, ouvindo choros e imprecações, lamentações e gritos de socorro, me encontrei perdido num casarão da Rua Curitiba…

Senti as angústias das acusações do clero impiedoso, a perseguição dos sofredores não evangelizados, a dor dos sofrimentos não atendidos, a dilaceração das almas não consoladas, o desespero dos irmãos não orientados…

Náufrago do amor, desesperado comigo mesmo, fugi como Judas, à procura de um cadinho que me reformasse os sentimentos. Louco, através de uma reencarnação para que eu pudesse ressarcir os erros do passado, fui recolhido, no sofrimento que extravasava a minha alma, nesta casa que é a nossa casa, que é a vossa casa. E de longos e infindáveis anos aqui me encontro de mãos estendidas numa súplica de amor, de auxílio e de esperança para que o cadinho da reencarnação venha reorganizar-me as forças espirituais, o desejo de vencer humildemente, de engrandecer-me pela caridade e pelo amor no anonimato bendito.

Vós me recebestes aqui, anonimamente, porque nem a coragem de citar meu nome eu tive.

Assemelhando-me ao obsessor fanatizado, que na verdade em nada era diferente, tentei impor os meus pontos de vista doutrinários na organização amorosamente dirigida, fraternalmente orientada, cristãmente querida, respeitada e harmonizada, e hoje a graça do Senhor me descerra as portas da fraternidade para que eu faça um esforço de destruir o orgulho que ensombrou a minha passagem pela Terra.

Eu venho saudar os meus amigos, eu venho implorar aos meus irmãos aquela prece fraterna, aquela ajuda indispensável para que eu retire dos meus olhos as vendas dolorosas da vaidade e do orgulho.

Irmãos queridos, o vosso auxílio, o vosso amparo para que no choque biológico da reencarnação eu me sinta fortificado, engrandecido dentro do anonimato e esquecimento justo.

Desejava alguma cousa mais explanar, mas a comoção, no entanto, me levaria a prejudicar a organização mediúnica que me acolhe. A todos um abraço fraterno, com minha súplica de amparo.

Vosso companheiro,


A. J. C. I.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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