1 José da Silva Machado
Tinha um filho, o Vicentinho,
Que se mantinha empregado
No lojista Souza Pinho.
2 Embora aos doze de idade,
Corria em todos os lados;
Era chamado na firma
O menino dos recados.
3 Um dia, lavando vidros,
Viu, perto, uma ratazana,
Com o susto ficou tremendo…
Quebrou seis pratos de porcelana.
4 Souza Pinho enfurecido,
Vendo os cacos sem proveito,
Agarrou o rapazinho
E deu-lhe um soco no peito.
5 Levado a casa paterna,
A mãezinha Lina Lia,
Verificou assustada
O sangue que lhe vertia.
6 O pai foi chamado às pressas,
Levou o filho ao hospital;
Disse o médico após o exame:
— Nosso pequeno está mal…
7 Passadas duas semanas
De esperança e desconforto,
Perante os pais desolados,
Vicentinho estava morto…
8 Souza Pinho a desculpar-se
Falou com grande desvelo,
Machado, porém, no quarto
Recusou-se a recebê-lo.
9 Ao sair clamou: — Esse Pinho
É uma cobra e vou matá-la,
Ninguém queira me mudar,
Para isso, tenho a sala.
10 Falou em processo e contenda,
— Essa cobra, vou picá-la…
A esposa apenas responde:
— Não sei o que você fala…
11 — E sente, meu caro Zé,
Pondere os conselhos meus…
Nossos filhos não são nossos ,
Nossos filhos são de Deus.
12 — E ouça querido: A morte,
Acentuou a mulher,
A morte devolve a Deus,
Aquele que Deus quiser!…
13 — Não pense em processo ou crime.
Deus sabe o nosso pesar…
Tudo passa neste mundo,
Nossa dor há de passar!…
14 Dois anos após, veio um moço
Que abraçou Machado e Lina
E disse-lhes: — Meus amigos,
Vim dizer-lhes simplesmente:
— Eis a grande novidade,
Souza Pinho, o meu patrão,
Faleceu hoje de angina…
Jair Presente
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