O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Quando se pretende falar da Vida — Mensagens familiares de Roberto Muszkat


Quando se pretende falar da Vida

Este livro é despretensioso, pois o autor jamais foi um escritor, mas antes de tudo um sentimental.

Quando se pretende falar da vida, procuramos nos ater a fatos ocorridos conosco e que marcaram firme e duramente. O que eu acho importante, é a identificação de quem lê com o personagem do livro. Se eu conseguir transmitir esta ideia, terei atingido meu objetivo e, aí sim, pretensiosamente, acho que até conseguirei trazer um pouco de calor, consolo e mesmo alguma visão mais aceitável da vida.

Cansarei vocês um pouco, falando de mim, de minhas experiências, minhas alegrias e meus sofrimentos, fatos estes que me levaram a pegar no lápis.

Às vezes, queremos transbordar nossos sentimentos e não temos coragem, quem sabe chega até ser um egoísmo ou uma forma de se autodestruir.

Descobri que cada um de nós tem sempre algo de si para dar e o mais importante é saber como faze-lo. Posso dizer que sou um homem realizado. Constituí uma família grande, maravilhosa e ideal para um homem.

Aprendi, no entanto, que não somos donos de nada, tudo nos é emprestado por tempo indeterminado e cobrado sem aviso. Este é um ensinamento básico e temos que tomar consciência absoluta disto, pois é fundamental. Deus dá um fardo para cada um carregar e é importante sabermos carregar o nosso.



Nasci nos anos 1930 e sou filho de pais imigrantes poloneses, casados aqui no Brasil, numa então cidadezinha do interior paulista, chamada São Carlos.

Meu pai, homem trabalhador, conseguiu mercê de muito esforço chegar a uma boa posição econômica. Já com três filhos, todos homens, resolveu mudar se para São Paulo, para poder ficar perto dos filhos e para que estes pudessem cursar uma faculdade, coisa que na época só existia nas grandes capitais.

Mais um filho nasceu aqui em São Paulo e todos tiveram formação universitária. Somente eu cursei medicina e segui carreira. Todos os meus outros três irmãos trabalhavam com meu pai que, na ocasião, era um grande comerciante, estabelecido com uma grande firma de tapetes.

Fiz meu curso médico na Escola Paulista de Medicina e, antes de me formar, casei-me com uma mulher maravilhosa; aliás, foi o que de melhor aconteceu em minha vida.

Tivemos seis filhos, quatro homens e duas mulheres, todos constituindo estrelas brilhantes, dentro e fora do nosso lar.

Aprendemos a criá-los e a amá-los com todas as nossas forças e, claro, quais os pais que não fariam o mesmo? Cada filho sempre trouxe uma vontade maior para lutar, vencer e conseguir cada vez o melhor.

E os anos iam passando, eu e minha mulher curtindo os filhos, fazendo os melhores planos para o futuro de cada um, esquecendo que não éramos donos de nada e que se alguém nos deu todas estas alegrias, podia, também, um dia suprimi-las.

Escrevo isto com um sentimento muito forte e até de revolta, pois acredito que o faço como pai.

Meu pai, diga-se de passagem, um homem maravilhoso, humilde, simples, mas de caráter e personalidade firme, sempre atuante e presente em todas as ocasiões, nos abandonou muito cedo e isto trouxe, além da perda física e grande vazio em nossos corações, uma situação de desnorteamento no meio da família e a coisa foi ocorrendo de tal forma, que eu, médico, tive, numa determinada fase de minha vida, que me transformar em homem de negócios, para tentar acomodar uma situação financeira de vulto muito grande. Foi mais uma dura experiência na escola da vida, onde não existem férias.

Consegui, graças a meu pensamento altamente positivo, e com auxílio de minha mulher e filhos, ultrapassar mais esta barreira.



Tentei em poucas linhas dar um perfil da minha pessoa e, também, da minha família.

Tudo estava se normalizando, os filhos já crescidos, criados num ambiente de muito amor e compreensão, quando se abateu sobre o meu lar, a maior tragédia da minha vida.

Deus levou, após 19 anos de amor, o meu querido e venerado filho Roberto, meu primogênito, aquele que me ensinou o primeiro sentimento de pai.

Quando se pretende falar da vida, nesta hora, esbarra-se com uma situação extremamente confusa, pois todos os valores deixam de existir, em função da ausência de um filho querido.

Revolta contra Deus, inveja de todas as família e de todos os que têm seus adorados filhos.

Parei, pensei; chorei, enfim, desânimo total para a vida.

Nesta hora, mesmo sabendo que não somos os únicos, sentimo-nos sós e carentes. É realmente necessária muita força para continuar lutando e onde buscá-la…

Hoje, acredito que cada um de nós tem um destino e um tempo certo para desempenhar suas funções no mundo terrestre. Alguns conseguem realizá-las em tempo mais ou menos curto.

É, enfim, a verdade que jamais conseguiremos compreender no mundo em que vivemos. Acho até que deve haver mais do que cinco sentidos, porém desconhecidos e pouco desenvolvidos.

Conhecemos, nesses momentos mais difíceis de nossas vidas, um destes homens ímpares, que encontra uma explicação fácil para tudo o que acontece, inclusive a morte, pois, sendo humilde, só entende uma linguagem, o amor. Este homem, Chico Xavier na intimidade, tem nos dado muito calor e até consolo.

Através dele, temos recebido algumas notícias daquilo que chamamos de Além, do nosso querido Roberto.



Aqui; inicia-se uma etapa nova e diferente da minha vida.

Passei a sentir como que um chamado, ou até uma ordem, da parte de meu filho Roberto, pedindo que eu ajudasse aos pais necessitados e que passam pelo mesmo tipo de acontecimento.

Como é difícil, mas, confesso que chega a ser até um calmante, quando consigo desempenhar esta função, pois, acho que sendo um pedido de um filho e que, não podendo fazer por ele o que o mundo material me daria condições de realizar, posso atende-lo dessa forma.

As mensagens por nós recebidas são mensagens de amor e elucidação, tentando nos mostrar um campo maior, quando se pretende falar da vida.

Quando se perde um ente querido e muito mais, um filho maravilhoso, começam a acontecer muitas coisas. Começamos a pensar mais, refletir mais e também sentir mais os fenômenos presentes e constantes que nos cercam, ou seja, começamos a dar valor às coisas que antes não nos importavam, ou melhor, não nos preocupavam.

Quando procuramos o Chico Xavier, claro que fomos atrás de uma mensagem, mas, querem saber, achávamos realmente que iríamos sentir nosso filho de alguma forma, fosse ela através do Chico ou de nós mesmos, o que nos parecia até mais provável, pois temos, nesta fase, desenvolvido muito mais sentidos nossos, que estavam em algum canto do nosso cérebro, inertes.

Mas, sem dúvida alguma que o contato e conhecimento do homem Chico Xavier foi de valia incontestável, pois, é através de exemplos de homens como ele que conseguimos força para enfrentar e compreender um pouco da vida.

O meu raciocínio de pai; é claro que difere do meu raciocínio de homem e mesmo fazendo ponderações, as mais razoáveis e estudadas, não consegui explicar os fenômenos que estavam acontecendo.

Senti sensações reais da presença de meu filho e quando naquele agosto aconteceu a primeira mensagem de Roberto, eu confesso que já a pressentia e muita coisa lá escrita vinha de encontro aos meus sentimentos.

Se fosse um teatro, era o melhor que já assisti e se não, era uma dessas mentiras que fazem bem à gente. Foi dos presentes até então recebidos, o mais esperado.

Tomados por grande emoção, resolvemos tipografar a mensagem e distribuí-la a todo ser humano que tivesse passado por igual problema, e isso foi tão espontâneo, como se fosse uma ordem de meu filho.



Meu querido filho, como você me faz falta… Sabe Roberto, por incrível que pareça, você é o único que consegue me dar forças e orientar me, nas horas mais difíceis. Olhando para o seu retrato, tenho a sensação da sua presença e fico imaginando como seria bom… Caio novamente na realidade dura da vida. Você está longe, meu filho, e eu também… (Desculpe-me, Roberto, pois sinto que o nosso sofrimento é igual).

Gostaria de escrever uma carta longa e interminável para você, meu querido, mas não sei para onde endereçá-la, então a remeto para algum lugar do meu cérebro e coração, onde eu sei que você sempre estará.

Sabe, Rô, continuo no meu trabalho aqui na Clínica que você tanto queria e ajudou a fazer. Sabe, filho, toda vez que pego num bisturi; ou examino um paciente, penso em você fazendo o mesmo e isto tem me ajudado muito.

Acredito em uma nova vida e tenho certeza de que um dia estaremos juntos novamente e acho até que poderei Ter resposta sua através de alguma mensagem, a respeito destes meus pensamentos. Sei que o amei muito e, agora, muito mais e isto até parece ironia paradoxal da vida. Assim como você fez com que me sentisse um revoltado, fez, também, com que eu compreendesse muitas coisas, embora eu sinta no meu coração uma inconformidade para o resto de minha vida.

Dezenove anos de amor, seguidos de infinita dor nos transformaram nos dois maiores amigos que o mundo já produziu e nem mesmo a morte poderá quebrar este elo.

Tenho pensado em você, todos os minutos de minha vida. Ouço nossas músicas e vejo você, penso em você, gravando em nossa sala com todo aquele aparelho de som que você montou.

Sabe, Roberto, para mim você nunca morreu. Acho que cometi algum engano e você quis mostrar me as coisas certas da vida; confesso ser muito duro e difícil aceitar a nossa separação.

Não sei quanto tempo ela durará, mas tenho certeza de que um dia eu o encontrarei, meu filho, e então conversaremos sobre quantas coisas ficaram por se dizer.



Muita gente tem pedido que eu escreva e muita coisa tem acontecido após a morte de Roberto e que me deixou perplexo.

Hoje, 18 de junho de 1981, aconteceu um fato estranho. Estava atendendo um paciente, quando ele, olhando a foto de meu filho, falou:

— Belo moço, seu filho?

Imediatamente, respondi-lhe que era realmente belo e não só isso, sentia naquele mesmo instante que Roberto estava presente e que procurava dizer me algo.

Sabem, o paciente contou-me que não entendeu porque me fez a pergunta, mas, relatou-me que há três anos perdera um filho de sete anos.

Contei-lhe então que o belo moço, meu filho, havia morrido há pouco mais de dois anos e choramos juntos.

Curioso como se forma uma corrente convergente e forte entre os pais que perdem filhos. Quem sabe seja mesmo uma mensagem que eles nos mandam, para dizer-nos que estão sempre próximos.

Roberto, meu filho, olhando para você, sinto aquele nó e logo procuro me recompor, lembrando-me de quantas vezes eu lhe chamava a atenção para que um homem deve sempre procurar superar suas deficiências, sejam elas quais sejam. Isso, eu também procuro fazer comigo.

Sempre invoco a sua orientação, quando me defronto com problemas, e, sabe de uma coisa, sempre consigo encontrar um caminho.

Pensando desta forma é que eu me ponho a escrever e, algum dia, isto servirá para algum coração, sofrido como o meu, poder também encontrar um caminho. Tudo isto que estou relatando tem acontecido e aos poucos quero chegar à conclusão de que a vida não pode terminar simplesmente com a morte.

A morte deve ser considerada como continuação da vida. O plano delas é que deve ser diferente, pois a matéria [como a conhecemos] deixa de existir para dar lugar à parte espiritual.

O problema é sempre o mesmo, qualquer que seja o caminho, chegamos sempre a encruzilhadas difíceis. Há horas e momentos em nossas vidas em que devemos tomar decisões e estas, às vezes, vão refletir sobremaneira em nossos destinos.



Hoje estou mais próximo a Deus, pelo menos um pouquinho, pois estou voando para Nova York em companhia de meu amigo Jaime.

O barulho das turbinas ensurdece nossos ouvidos, mas algo de importante ocorre quando nossa mente se eleva ao Plano Espiritual, parece uma leveza de pensamento e as palavras parecem sair de uma forma rápida e até impensada, mas há no fundo um sentimento grande, procurando revelar que todos nós temos momentos em que nos deprimimos por sentimentos e lembranças passadas.

Nessas horas é que devemos nos aprumar e sentir fortes, para poder enfrentar o que vem pela frente.

Quando se pretende falar da vida, muitas vezes, nos defrontamos com fatos passados que nos levam à infância, juventude, enfim, a épocas em que mais sentíamos do que pensávamos e, então, tudo era mais fácil. Isto deve estar relacionado com o que chamamos de responsabilidade e até apego à vida.

Procuro confiar em Deus, mas confesso que sigo ainda muito revoltado para aceitá-Lo como dono uno e absoluto de tudo.

Não sinto sono, o voo segue tranquilo e converso com Jaiminho. Ele é filho de um grande amigo e eu o estou acompanhando a Boston, onde deverá ser submetido a uma intervenção cirúrgica em seu cérebro.

Jaiminho, jovem maravilhoso, foi quem transportou meu filho Roberto ao Pronto Socorro no dia de sua morte. Ficamos mais unidos desde então e, vejam como são as coisas, lá estava eu nas alturas, levando Jaime para um tratamento.

Eu dizia a ele que iria atravessar por fase difícil de sua vida, que devia faze-lo de forma consciente e que sairia vitorioso, pois sentia nele força e bastante espiritualidade.

Achei nesse momento que eu estava falando por meu filho Roberto que, sem dúvida, estava ali presente. É muito bom que agente possa sentir isso.

Hora de descansar um pouco, o avião está jogando muito e, por incrível que pareça, senti medo, mas logo tranquilizei-me com a lembrança de meu filho Roberto e consegui conciliar o sono, por algumas horas.



Não consegui ainda sonhar com Roberto desde que ele se foi, mas sinto cada vez mais a sua presença, quer pelos atos que pratico, quer nas soluções de problemas difíceis, onde invoco a sua ajuda e encontro logo soluções.

Sinto que a vida não pode, pura e simplesmente, terminar com a morte; a parte física e material sim, mas e o resto… tudo aquilo que se plantou pode ser truncado de maneira tão abrupta? Creio que não e faço este pensamento todos os dias, achando que meu filho deve estar melhor do que eu. Isso me ajuda em meu caminho.

Vou expor aqui uma série de mensagens e recados rápidos, transmitidos por Roberto, através do Chico Xavier e tenho certeza de que muitos pais serão beneficiados com a leitura dos mesmos. Procurarei explicar as mensagens na medida em que forem se sucedendo.

Muita coisa lá transcrita, só diz respeito a mim, pai, aos irmãos, à mãe, enfim à família, mas de difícil contestação.



Estou em Águas de Lindoia, um sol lindo toma conta do céu azul. Crianças gritam e brincam no jardim em frente ao Hotel. De repente, ouço um trotar de cavalos. Tenho a impressão de que a qualquer momento, Roberto possa aparecer galopando com um cavalo fogoso, como costumava fazer.

Meus filhos, quando crianças, passavam temporadas de férias neste local maravilhoso, que tantas recordações me trazem.

Penso em Roberto como uma chama viva e ardente dentro do meu coração. Neste momento, sofro, choro, mas encontro na imagem dele forças para continuar lutando.



Começamos a receber as mensagens de Roberto a partir de agosto de 1979, na cidade de Uberaba, em Minas Gerais.

As primeiras eram de elucidação à família, procurando confortá-la e mostrando que a vida tem realmente pontos indecifráveis.

Acho que as primeiras mensagens que os pais recebem, têm um texto mais ou menos semelhante, diferindo logicamente nos nomes de familiares mencionados.

Vimos, desde a morte de Roberto, comemorando o seu aniversário em Uberaba, junto às famílias do bairro mais pobre da cidade. Por vezes, juntam-se mais de 1.000 pessoas, entre crianças e adultos.

Fazemos neste dia farta distribuição de mantimentos, roupas e brinquedos. Há uma participação geral de toda a minha família e também de um círculo de amigos.

Recebemos nessas ocasiões lindas mensagens de Roberto que vêm ao encontro de nossos pensamentos, não só agradecendo a homenagem que lhe prestamos, mas, também, como resposta a muita coisa que desejamos saber.

Costumo também passar o meu aniversário em Uberaba e, nessa ocasião, sempre vou sozinho.

Tenho nessas oportunidades recebido mensagens que não podem deixar margem de dúvidas quanto à sua autenticidade. Vocês poderão lê-las e tirar inclusive suas próprias conclusões.

Só para ilustrar, numa delas ele agradece a minha presença e faz menção ao pai, como seu herói; faz um desenho ilustrativo onde carinhosamente recorda a mãe e todos os seus irmãos, coisa que costumava fazer quando pequeno, ainda na escola primária.

Recordo-me até de uma composição sua, já no ginásio, cujo título era: “Meu pai, meu herói de todos os dias”. Não se pode contestar, pois o Chico não tinha conhecimento do fato que eu somente relembrei após a leitura da mensagem.


David Muszkat

São Paulo, 11 de agosto de 1983.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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