O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Quando se pretende falar da Vida — Mensagens familiares de Roberto Muszkat


1

Mamãe, não chore mais. Estou bem!…

1 Querida mãezinha Sonia, a paz esteja em nós.

2 Enfim, algumas palavras. Tantos dias de ansiedade.

3 Mamãe, não chore mais. Estou bem. A vida na Terra apresenta pontos finais em quaisquer trechos.

4 As existências são como as páginas no livro do tempo. Algumas são curtas, tão curtas que terminam com pontos de interrogação. Será este o meu caso e tempo virá em que conheceremos com mais segurança as causas dos problemas graves que chegam de improviso.

5 Rogo-lhe calma. Idêntico pedido endereço ao papai David.
Não se culpe, querida mãezinha, por havermos escolhido o tempo favorável à intervenção de que me reconhecia necessitado. Se o seu coração querido opinasse contra, teria eu lutado para obter-lhe a aprovação. E conseguiria. O nosso amigo Dr. Rezende fez o máximo em meu benefício. n

6 Sinto muito haver deixado em família e no círculo dos amigos tantas opiniões contraditórias. Não pensem que um simples descongestionante das vias nasais me impusesse o desenlace. n

7 O corpo trazia o motor estragado. Corpo jovem; no entanto, me pareceu, quando compreendi a situação com mais clareza, que eu estava usando um instrumento, cujas cordas essenciais jaziam quase que inválidas.

8 Por aí, mãezinha, conquanto os avanços da Cardiologia, muita gente acredita que figura de atleta é documento de isenção para o ato final da experiência humana. Mas os enganos são muitos, nesse sentido. Coronárias como que se quebram ou se retraem num momento e a fibrilação do músculo-rei se faz acompanhar de imediato, com o despejo do dono ou usufrutuário da casa corpórea em que se vive na área dos homens.

9 Pois, foi o que sucedeu. Com intervenção ou sem intervenção, aquele foi o momento da ordem de regresso. Lamento que dúvidas pairassem no problema, no entanto, venho pedir-lhe serenidade e conformação.

10 Lembrem-se, o papai e seu carinho maternal, que temos o Ricardo, o Renato, a Rosana, a Rachel e o Moises por nossos queridos acompanhantes e espero que deixem de lado a tristeza negativa para facearmos a realidade com espírito de compreensão.

11 Minha transposição de Plano foi rápida. Um desmaio, um sono invencível, um tempo indefinido de quase inconsciência total com pesadelos que se referiam à separação e, depois, o despertar.

12 Despertar molhado de lágrimas porque me foi impossível não chorar com o sofrimento de seu carinho e com as lutas e perguntas de todos de nossa casa e de nossa família.

13 A princípio, julguei houvesse voltado ao hospital para qualquer corrigenda, entretanto, essa ilusão perdurou por tempo estreito. Em meio de enfermeiros e médicos que se mostravam amigos, reconheci a presença da vovó Rachel n que parecia desejar substituí-la junto de mim.

14 A vovó explicou-me com doçura as verdades novas a que procurei me adaptar. Naturalmente, a saudade de casa era um espinho cravado na raiz do sorriso de conformação que me via impelido a sustentar; e os dias se passaram.

15 Tenho ouvido as suas preces e as suas reflexões, especialmente as que a sua dedicação formula, recordando-me a presença. E posso dizer-lhe que a vida continua.

16 As limitações são muitas para o intercâmbio. Naturalmente, é compreensível que eu tenha prometido, por exemplo, ao vovô Moszek Aron n e a outros amigos dele que me acolheram, que escreveria sem criar qualquer quadro menos feliz. Estou aqui na condição do aluno que prometeu não chorar e nem lastimar-se na prova de competência e devo fazer isso da melhor maneira.

17 Estou procurando meios de retomar meus estudos, porquanto, aqui não nos faltam recursos para isso e desejo dedicar-me ao amparo dos doentes no mundo, por muito tempo, especialmente para estar mais perto de sua presença, de meu pai e dos meus irmãos.

18 É justo que assim faça e conto com o seu apoio. Seu apoio e a assistência de meu pai, nesse sentido, se constituem da paz e da conformação com que aceitem comigo os fatos consumados.

19 Meu avô Moszek já me esclareceu que meu tempo deveria ser curto e estou satisfeito. Mais tarde, cogitarei de saber o porquê dessa duração assim ligeira. 20 E descobriremos as razões de toda a ocorrência, porque DEUS é o Senhor Eterno e ao pronunciar, escrevendo o Santo Nome, tenho o meu coração repleto de confiança na Lei.

21 Mãezinha, auxilie-me com a sua paciência e considere-me vivo porque a verdade é que prossigo na mesma personalidade de filho agradecido, sem que fenômeno algum me desfigurasse o amor e o devotamento aos pais queridos e ao abençoado lar de que nasci.

22 Muitas lembranças a todos, com grande abraço a meu pai. Se conseguirmos instalar no formoso coração dele, pelo menos, um pouco de esperança e certeza em minha sobrevivência, estou satisfeito.

23 E com o carinho da vovó Rachel que me auxilia a escrever, entrego-lhe todo o coração de seu filho.


Roberto Muszkat

10 de agosto de 1979.    


NOTAS


1) Otorrinolaringologista que operara o Roberto. Aliás, não houve qualquer vínculo causal entre a cirurgia e o inusitado incidente.

2) Roberto faleceu, como já dissemos, vitimado por choque anafilático, após instilação de tópico nasal, três dias depois da cirurgia a que se submetera, quando já se encontrava em casa.

3) Rachel Golcman, avó materna, falecida em 16 de dezembro de 1957.

4) Moszek Aron Muszkat, avô paterno, cujo falecimento ocorreu a 28 de janeiro de 1966.


David Muszkat


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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