1 Querida mãezinha Conceição e meu querido papai Indalécio, peço para que me abençoem.
2 Estou presente nesta carta com as dificuldades em que me vejo para me retratar fielmente.
3 Já que escrevo por outra mão, noto que a letra não pode assemelhar-se, de todo, à minha própria letra, mas escrevo com a alegria de quem achou um canal para afirmar-lhes que a morte não é senão certa mudança de lugar sem transformação para nós mesmos.
4 Agradeço à tia Cleide e a todos que os encorajaram a vir.
5 A vovó Salvina e o meu avô José Ruiz me conduziram até aqui de modo a lhes pedir coragem e fé em Deus.
6 Rogo especialmente ao irmão, ao nosso querido Indalécio, o Júnior, para que não se mortifique em razão do sucedido. Não foi porque houvesse conduzido o irmão para os estudos que o desastre se verificou. O meu tempo estava marcado.
7 Os meus avós, que me abrigaram com amorosa solicitude, me reconfortaram na hora justa, e venho pedir à mamãe para chorarmos somente de gratidão e de alegria.
8 De começo, a minha surpresa foi muito grande, mas acordando da inconsciência a que fui arrojado, pelo choque, pude revisar com a calma possível a ocorrência e aceitar a realidade de que a Divina Providência faz sempre o melhor, em nosso benefício.
9 Não ficarei inerte. Estou promovendo recursos de habilitar-me em conhecimentos novos, a fim de auxiliar aos pais queridos, e confio em que os Poderes Maiores da Vida me protegerão.
10 Mãezinha, peço-lhe concordar com as Leis Divinas que nos comandam as experiências. A sua fortaleza será um centro de energias para nós todos, porque o papai, o irmão e eu dependemos de suas emoções para equilibrar as nossas.
11 A vovó Salvina tem-me auxiliado com infatigável dedicação, e de meu pensamento os quadros de doze de abril já se foram definitivamente retirados. Agora, penso em renovação e futuro melhor.
12 Pai querido, não suponha haver perdido o seu filho. Estaremos sempre mais ligados um ao outro para trabalhar com fé em nosso próprio esforço perante a Infinita Bondade que nos sustenta.
13 Agradeço as preces e as flores que me ofertam, e agradecerei também a coragem e a tranquilidade que me possam endereçar através das orações. Estou melhorando sempre.
14 Um abraço a todos os nossos, na pessoa da tia Cleide.
15 E colocando a mãezinha, o papai e o irmão nos meus próprios braços, agradece-lhes por todas as bênçãos de proteção e amor com que me enfeitaram a existência na Terra, o filho e irmão sempre muito grato, que pede a Deus por nossa paz e felicidade, para hoje, amanhã e sempre,
Edilson n
Graças à gentileza do confrade Sr. Antônio Borges da Silva, foi-nos possível incluir neste livro a mensagem de Edilson Carlos Nogueira, recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, a 12 de julho de 1980, às 3:30 horas, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas, que constitui o capítulo anterior — “Coragem e Fé em Deus”.
Sem nenhum comentário de nossa parte, procuremos transcrever parte da primeira carta que a Sra. Conceição Carini Nogueira escreveu ao Sr. Antônio, e o relatório que nos enviou, por seu intermédio:
“São Paulo, 4 de setembro de 1980.
Sr. Antônio,
Espero que ao receber esta, esteja o senhor gozando de perfeita saúde, junto de seus familiares.
Por motivo de doença, não pude me comunicar com o senhor, mas não me esqueci de tudo o que o Amigo fez para que eu conversasse com o Chico Xavier.
Junto desta, estou-lhe enviando uma cópia da mensagem que eu recebi do meu filho.
O senhor me disse que tinha um amigo que publicava em livro as mensagens recebidas pelo Chico Xavier; peço-lhe para que fale com esse seu amigo para publicar a mensagem do meu filho, e se ele precisar de mais dados sobre meu filho, eu darei, bastando o senhor me escrever.
(….) O que o senhor precisar aqui em São Paulo, e eu puder fazer, estarei pronta para ajudá-lo, como fui ajudada pelo senhor.
Quero lhe pedir, por favor: se o senhor arranjar um jeito de seu amigo publicar a mensagem de meu filho, queira me dizer qual é o livro para que eu possa comprá-lo, e se precisar de mais detalhes, por gentileza, escreva-me.
Termino esta, desejando-lhe muitas felicidades e a todos os seus, e que Deus os proteja, sempre e sempre.
Conceição.”
“Relatório
Edilson Carlos Nogueira nasceu em São Paulo, Capital, a 19 de janeiro de 1966, tinha 14 anos de idade quando desencarnou em acidente de moto, na mesma cidade, a 12 de abril de 1980.
Estava ele na 8ª série ginasial, iria se formar este ano; sua profissão: estudante; religião: católica; tinha muitos amigos e era bem relacionado com os colegas; o que podia fazer para os amigos, ele não media sacrifícios e fazia sempre.
Tinha muita saúde, quase nunca ficava doente, gostava muito da vida, adorava motos, carros esportes, gostava de se vestir bem, era muito vaidoso, fazia planos para seu futuro, e queria se formar em Engenharia Mecânica.
Sempre foi um jovem muito educado, adorava fazer negócios com o pai, seu companheiro inseparável; quando o pai ia comprar um carro, ele estava sempre junto dele dando palpites, tratava a todos com muito carinho, adorava seu gato — Chininho —, quase sempre brincando com ele, quando estava em casa.
Até a casa onde estamos morando, ele participou do negócio com o pai.
Sempre teve tudo que queria, seu pai não medindo sacrifícios para comprar o que ele desejava, inclusive ele pedia assim: “Compra, vai, Papi.” — e seu pai não podia negar aquele pedido tão carinhoso.
Uma semana, porém, antes do acidente, ele andava muito triste, e ninguém sabia o que era, nem ele mesmo sabia explicar o porquê de sua tristeza.
Três dias antes do acidente, meu marido teve um sonho. Ele sonhou que havia acontecido um desastre com um carro, e via três corpos no chão; ele correu, e o último corpo reconheceu como sendo do seu filho mais velho — Indalécio —; ele se abaixou e, abraçando o corpo e virando-o, viu que não era o Indalécio e sim o Edilson, que dizia:
— Pai, estou todo machucado na cabeça.
Acordando assustado, ele me contou o sonho, e eu disse: não se impressione, quando a gente sonha com a morte, é vida.
Depois de três dias, sábado, ele se levantou cedo, foi dar um passeio até a casa de sua avó, e voltou logo, dizendo para seu irmão: — Vou lavar e dar um brilho na sua moto (esta era de seu mano Indalécio; ele tinha uma Mobilette).
Assim fez, a moto ficou bonita, e ele pediu para o irmão (ele só chamava o Indalécio por Irmão, nunca pelo nome): — Bem que você podia me deixar a chave da moto para eu dar algumas voltas.
O irmão, vendo que ele passou a manhã toda limpando a moto, resolveu ir para o Colégio e deixar a chave com ele — Edilson —, coisa que ele nunca fazia, pois tinha ciúmes de deixar qualquer pessoa andar em sua moto.
O Indalécio estava no ponto de ônibus para ir para o Colégio, quando Edilson passou e disse: — Suba, que eu lhe dou uma carona até lá. O Indalécio disse: — Só se eu for dirigindo. Ele concordou, é foram os dois para o Colégio.
Na volta, ele vinha vindo em sua mão, quando um carro, em uma travessa, não parou e avançou uns dois metros da faixa de pedestres, e foi pegar o meu filho que vinha vindo com a moto, o choque foi fatal, com traumatismo craniano, meu filho veio a falecer, quase sem receber os primeiros socorros.
Eu e meu marido ficamos muito doentes com o choque da notícia.
E eu não me conformava de ele ter falecido sem eu conversar pela última vez com ele.
Comecei a percorrer vários centros espíritas, aqui em São Paulo, mas nada dava certo, o pessoal dos centros alegava que era muito cedo e que meu filho estava em tratamento espiritual, e não teria condições de se comunicar comigo.
Eu precisava muito saber como estava ele, para ver se eu tinha um pouco de paz, senão eu e meu marido iríamos parar num hospício, de tanta dor e saudades que ele deixou aqui para nós.
Minha irmã Cleide, vendo nosso sofrimento, disse:
— Por que todos nós não vamos falar com o Chico Xavier?
Conversando com uma conhecida — D. Maria — que eu queria ir a Uberaba, disse ela que tinha uns parentes que moravam lá, e que seria mais fácil falar com o abençoado médium.
Por intermédio de sua parente, em Uberaba, vim a conhecer o Sr. Antônio Borges da Silva, que disse que conseguiria que eu falasse com o Chico Xavier, mas ele — Sr. Antônio — não sabia o meu problema, só sabia que eu precisava falar urgentemente com o Chico.
Ao chegar à porta da casa de Chico Xavier, Sr. Antônio falou para um senhor que lá se encontrava, que o casal de São Paulo, já havia chegado para falar com o Chico.
Minutos depois, o mesmo senhor chegou no portão, e disse: — O Casal que perdeu o filho em acidente de moto, pode entrar.
O Sr. Antônio ficou quieto, pensando que fosse outra pessoa que estava sendo chamada; minha Cleide, porém, disse: — Esse casal é minha irmã e meu cunhado, e o Sr. Antônio disse: — Então, vamos entrar; eu não sabia o assunto.
Eu não havia contado para ninguém o motivo pelo qual eu queria falar com o Chico Xavier, mas quando cheguei perto dele, ele já estava sabendo do sucedido.
Havia várias pessoas falando com o Chico. Logo que ele me viu, disse:
— Filha, por que vocês choram e dizem que ficaram sozinhos, vocês que têm o Júnior (ele se referia ao meu filho mais velho — o Indalécio) e também têm o José Ruiz, que está ajudando vocês? Quem é o José Ruiz?
Meu marido respondeu: — É meu avô, Chico.
— Pois é ele quem está ajudando vocês, e vovó Salvina também (minha avó materna).
Pediu ele o nome do menino, o dia que ele desencarnou, o dia que ele nasceu e perguntou se ele era estudante, perguntando:
— Vocês vão para o Centro comigo? pois eu já estou atrasado.
Chegando ao Grupo Espírita da Prece, havia uma fila enorme, mas nós entramos junto com o Chico Xavier.
Dentro do Centro, ele começou a atender um por um, e, de vez em quando, olhava para nós, que estávamos sentados num banco.
Eu não estava passando bem, e por isso minha irmã Cleide pediu para que eu e meu marido fôssemos descansar, que ela ficaria guardando o lugar, e esperaria até o começo da reunião, que se daria lá pelas 22:00 horas, e ainda eram 15:00 horas.
Eu e meu marido saímos um pouco, e minha irmã ficou observando o Chico Xavier atender todo aquele pessoal. De repente, ele parou, e olhando para minha irmã, falou:
— Você tem alguma fotografia do rapaz?
Minha irmã falou que tinha, e mostrou-lhe a foto. Ele voltou a dizer:
— É um belo rapaz, e está sendo protegido pela vovó Salvina (como poderia ele — Chico Xavier — saber da existência de minha avó, falecida há quase 15 anos?).
E pediu para que ficássemos até o fim da reunião, porque talvez o menino se comunicasse com a gente.
Voltando para o Grupo Espírita da Prece, às 19:30 horas, o Chico Xavier estava quase terminando a primeira parte de seu trabalho.
Nunca vi tantas mães desesperadas como eu, à espera de uma comunicação de seus filhos!
Eu não estava me sentindo bem, e meus pés estavam inchados. No centro da mesa, Chico Xavier continuava escrevendo psicografando as mensagens — sem parar. Foi a coisa mais maravilhosa que já pude ver.
Falei para minha irmã e minha mãe que iria com o meu marido lá fora, um pouco. De lá, ficamos espiando de vez em quando, e Chico Xavier continuava escrevendo sem parar.
Eu já estava desesperada e perguntava: será que conseguirei uma mensagem do meu filho? Conversando com várias mães presentes, e lhes contando o meu caso, elas falavam que era muito cedo, pois justamente naquele dia — 12 de julho — fazia três meses que ele havia desencarnado.
Minha irmã, lá dentro, se aproximou do Chico Xavier, e viu que ele estava recebendo a mensagem do meu filho. Ela correu para fora, e me disse: — O Edilson está se comunicando com o Chico Xavier!
Eu quase não acreditava; talvez minha irmã quisesse me conformar, dizendo aquilo.
Terminando o trabalho, Chico Xavier começou a ler as mensagens recebidas, e chamava os pais para irem receber de suas mãos as laudas de papel.
Ele já havia lido 6 mensagens, e eu, no desespero, aguardando e pedindo a Deus que me ajudasse a receber a minha.
Às 3:30 horas da madrugada, a última mensagem nas mãos abençoadas de Chico Xavier, e ele nos chamando para perto dele. Ao ler a mensagem recebida — a mensagem do meu filho —, Deus meu, que felicidade eu senti naquela hora!
Voltei de Uberaba, e durante as 8 horas de viagem, continuei abraçada com aquela mensagem em meu coração.
Chegando em São Paulo, dei a mensagem para meu filho ler, e ele me disse:
— Eu só vou acreditar no que está escrito aí, se ele me chamar de Irmão, como costumava me chamar.
E ele começou a chorar, ao ler a mensagem, pois nela meu filho Edilson o chamava, não pelo nome, mas sim por Irmão.
Na mensagem, ele agradece as flores que eu lhe ofertei. n Depois que aconteceu o acidente, eu não conseguia ir ao cemitério, pois eu me sentia muito mal. Um dia, eu falei ao meu marido: — Eu vou ao cemitério, mesmo me sentindo mal, e fui, levando muitas flores para pôr em seu túmulo, e na mensagem, ele agradece as flores.
Voltando de Uberaba, com a mensagem, continuava, em São Paulo, a me sentir mal de saúde, até que foi preciso eu consultar um médico.
O médico mandou que eu fizesse vários exames, e o resultado foi gravidez.
Depois de 14 anos sem ter filhos, Deus me tirou um e ao mesmo tempo está me dando outro, pois estou grávida de 4 meses, e é isso que está me dando uma luz para eu continuar vivendo, com todo sofrimento que estou passando, pois não me esqueço do meu Filhote (era como eu o chamava), nem um minuto da minha existência, rezo por ele, e que Deus o ilumine e o ampare.
Pai — Indalécio Nogueira Ruiz; profissão: comerciante; religião: católico; nascido em São Paulo, Capital, a 11 de novembro de 1940.
Mãe — Conceição Carini Nogueira; profissão: prendas domésticas; religião: católica; nascida em São Paulo, Capital, a 17 de fevereiro de 1944; endereço: Rua Bacairis, 70 — Vila Formosa Cep 03357 — Fone: 216-3596.
Tia: Cleide Carini; profissão: prendas domésticas; religião: católica; nascida em São Paulo, Capital, a 7 de julho de 1950; solteira; endereço: Rua Pedro Pires, 70 — Vila Carrão — São Paulo -SP.
Bisavó — Salvina Bete Lameira; nasceu em Bragança, Portugal, a 2 de outubro de 1892, e desencarnou em São Paulo, Capital, a 8 de agosto de 1965; avó materna;religião: espírita.
Bisavô — José Ruiz Saes; nascido em Almeria, Espanha, a 16 de maio de 1895, e desencarnado em São Paulo, Capital, a 18 de setembro de 1977; avô paterno; religião:católico; profissão: comerciante.
Irmão — Indalécio Nogueira; nascido em São Paulo, Capital, a 26 de setembro de 1964, mais velho um ano e três meses que o Edilson, está atualmente no 2º ano de Engenharia Eletrônica; estuda no Colégio São Judas Tadeu, em São Paulo; não estava com Edilson, quando ocorreu o acidente; ele estava só; profissão: estudante.
Quero agradecer ao Dr. Elias Barbosa pela oportunidade oferecida para publicar a mensagem do meu filho.
Com muita dor no coração, eu lhe escrevi o que aconteceu com o meu filho, talvez não usando as palavras certas, mas o fato em si é todo verdadeiro.
Acredito que este livro com a mensagem do meu filho traga a paz a muitas mães desesperadas como eu, antes da mensagem.
O de que o senhor precisar, e se estiver faltando alguma coisa e eu puder ajudar, me telefone 216-3596 — ligação a pagar. Tudo que puder fazer para reverenciar a memória do meu filho, eu farei, pois ele, em vida, tudo o que ele quis, eu dei, e continuarei dando, aqui sempre ficando às suas ordens.
Estou-lhe enviando uma cópia xerox dos originais da mensagem, e 3 fotos do meu filho.
Obs.: As duas fotos 3/4 foram refeitas da foto 2/2, que era a mais recente que eu tinha (a original é a 2/2).
Sem mais, um abraço desta mãe ex-desesperada,
Conceição Carini Nogueira.”
Elias Barbosa
[12] Sobre o assunto, remetemos o leitor ao item 6 do Cap. 18 da obra Claramente Vivos (Francisco Cândido Xavier, Elias Barbosa e Espíritos Diversos, IDE, Araras (SP), 2ª edição, outubro/1980, p. 100). (Elias B.)