1 Na primeira noite em que seu concurso n foi conduzido àquele lar desprotegido de cultura evangélica mais substanciosa, sentíamos na doente, uma irmã em perfeito estado pré-agônico por exaustão quase total das energias. 2 Acima da cabeceira, enorme grupo de entidades-vampiros se acotovelavam, disputando a presa, porque a mente encarnada, quando em posição de descontrole, pode ser comparada a uma grande taça transbordante de recursos vitais sem dono certo. 3 E nos casos de obsessão, sem as defesas espirituais desejáveis, são sempre numerosas as mentes desencarnadas que se acercam do enfermo, famintas de semelhantes recursos fluídicos para se sentirem mais fortemente imantadas à experiência física, que buscam reter dentro de si próprias.
4 Alguns perseguidores violentos, ligados à vítima, desde o pretérito, lá se encontravam. Entretanto, como na lei divina tudo funciona em favor do bem, convertiam-se eles em advogados da agonizante, não por espírito de caridade e, sim, na condição de inimigos que combatem outra espécie de adversários, preservando os despojos para si mesmos.
5 O quadro era inquietante, contudo, impunha-se a interferência. Vários amigos do nosso Plano, previamente notificados, trouxeram vasta cobertura de material sutil da nossa Esfera de ação, sob a qual toda a câmara foi revestida. Era a primeira providência contra o vampirismo, de vez que esse material vibra em elevado teor elétrico e as entidades de vida indigna comumente não se atrevem a enfrentar os choques naturais.
6 Efetuada a medida, passamos à intervenção no centro de desequilíbrio. Com esforço, retiramos do quarto os elementos erradios, sem sintonia direta com o caso, e que ali se mantinham inspirados em simples objetivo de exploração inconfessável. Restavam, porém, os algozes da jovem senhora e da sua corte familiar, em processo de imantação psíquica muito avançado.
7 A obsidiada polarizava-nos, agora, toda a atenção. Os centros cerebrais de relevo, quais os da fala, da memória, da visão, da audição e outros jaziam “ocupados” pelas influências perturbadoras, guardando-se, regularmente intactos, para uso da enferma, somente alguns centros de atividade vegetativa, que são sempre os últimos a ser destruídos em qualquer serviço desencarnatório. 8 Com a sua contribuição magnética, porém, contribuição estruturada em fluidos terrestres, iguais, na origem, aos que sustentam o organismo que pretendíamos recuperar, guiamos o seu potencial de energia para a sede do pensamento, no cérebro enfermiço e semidestroçado, e o passe, ou emissão de recursos curativos, funcionou tecnicamente com a nossa cooperação espiritual sobre certa classe de neurônios, chamando o Espírito da agonizante ao necessário retorno. 9 A nossa insistência, através de sua contribuição humana, era grande e expressiva. Em razão disso, a doente começou a voltar, muito vagarosamente, à moradia física.
10 Os perseguidores haviam violentado diversas zonas delicadas do cerebelo e da fossa romboidal, procurando apressar-lhe a morte. No entanto, em seguida à sua interferência fraterna, n dois amigos nossos trouxeram aparelhos para emissões radioativas de auxílio, iniciando-se o processo de cicatrização das partes dilaceradas, imperceptivelmente aos olhos de vocês. 11 Todas as noites essas emissões acompanhavam, de perto, as suas operações magnéticas de passe, nas quais tomávamos saliente atuação, desintegrando partículas de matéria prejudicial ou inútil à restauração que levávamos a efeito, ou reintegrando partículas outras a benefício do contingente cerebral comum.
12 Depois de uma semana, com a ajuda de doutrinadores que vieram especialmente ao quarto da enferma em tarefa de cooperação conosco, deslocávamos os derradeiros remanescentes dos verdugos que haviam operado longa intromissão no mundo biológico da vítima. 13 Surgiu a convalescença psíquica com o regresso do perispírito às funções normais e passamos, então, a mobilizar, no trabalho socorrista, apenas os doadores de recursos radioativos e dos guardas vulgares, mantendo-se, porém, o assunto sob nossa responsabilidade e vigilância.
14 Somente quando se iniciou a fase de convalescença física é que nos afastamos da enferma, retirando o velário fluídico protetor, tecido em nosso Plano comum, restituindo a doente ao clima natural da experiência que lhe é atualmente peculiar, após haver movimentado quase uma centena de trabalhadores espirituais no processo regenerativo.
15 Como se vê, não há milagre. Em qualquer obra do bem, o serviço é sempre intenso. 16 E apreciando a contribuição amorosa que você nos trouxe, comparamos o médium passista, de sua condição, a uma chave magnética, vigorosa e imprescindível na missão de socorro, destinada a ligar os potenciais de auxílio entre os dois Planos em que envolvemos presentemente. 17 Nesse sentido, encarecemos a necessidade do Cristianismo em todas as tarefas do Espiritismo. Todo cooperador humano emite raios vitais próprios e somente o Cristianismo sentido e vivido melhora e ilumina as manifestações de nossa alma. 18 O mediador-chave precisa trazer ao nosso concurso substância pura para ser usada em serviço de restauração de perispíritos necessitados, substância essa que procede do sentimento com que vai interferir, sem a qual o êxito possível é sempre improvável.
19 Observando as edificações de assistência nesse aspecto, somos obrigados a considerar que há muita gente detendo avançado cabedal de forças mediúnicas de transmissão, de cura, de revelação, mas se o Evangelho não as disciplina e beneficia, assemelham-se a cachoeiras selvagens, cujas possibilidades são realmente enormes a se perderem, durante vasto tempo, por falta de organização e domínio para o bem.
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É incalculável a extensão das necessidades de essência cristã nos trabalhos espíritas de todos os matizes. A contribuição individual do lidador é de importância primordial. Qualquer violino pode ser usado, todavia, num concerto de projeção no campo da arte é interessante que o violino não seja qualquer um. É indispensável aproveitar a lição da especialidade e da qualidade, sempre que a nossa tarefa de auxílio fraterno se dirige a determinados fins.
Que Jesus nos abençoe! n
Neio Lúcio
Reformador — Janeiro de 1950.
[1] [“Seu concurso”: O da cooperação do médium.]
[2] [Efetuada pelo médium.]
[3] Segundo consta do original, a mensagem foi recebida em reunião pública do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, na noite de 28 de setembro de 1949, a qual foi dirigida a um tarefeiro responsável pelo serviço de passe daquela casa espírita. elucidando, inclusive, o processo do passe em “um caso complexo de assistência”.