1 Disse o homem à cruz que o constrangia:
— Detestável prisão ingrata e feia,
Atormentas minh’alma que te odeia,
Escarneces meus sonhos de alegria!
2 Que fogo pavoroso te incendeia?
Que te fez para o inferno da agonia?
Por que me prendes, pedra horrenda e fria,
Ao teu corpo que lágrimas ateia?
3 A cruz, porém, clamou serena e certa:
— Sou a chave de dor que te liberta
Do abismo que estendeste a toda parte!
4 Não me percas na sombra de teus dias.
Sem meus braços, jamais alcançarias
O Senhor que me fez para salvar-te! n
Antero de Quental
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