I
1 Primavera, verão, outono e… quando
Veio o inverno, nevando-me os cabelos,
Ah, meus dias! Quisera revertê-los
À meninice que passei sonhando.
2 Lá fora sussurrava o vento brando
Embalando-me os últimos desvelos…
Em minh’alma, torturas e atropelos
Das dúvidas cruéis correndo em bando!
3 Faz-se no coração a noite escura,
Cresce o quadro da angústia, o frio investe…
É a romagem de fel à sepultura!
4 Depois, sob a folhagem do cipreste,
Surge a voz da verdade, clara e pura,
Indagando, serena: — Que fizeste?
II
1 E eu que negava a Deus, e eu que não cria
Houvesse vida além dos meus clamores,
Fui jogado a tufões arrasadores,
Cactos da dor em charcos da agonia!
2 Desventurado náufrago sem guia,
Debati-me entre monstros e pavores!
Ó poderoso Pai dos pecadores,
Salva os filhos da dúvida sombria!
3 Perambulei pelos infernos torvos,
De coração gemente e alma intranquila,
Corvo a grasnar entre sinistros corvos…
4 Até que um dia, ó paz, o céu se anila!
É a luz de Deus que eu bebo a longos sorvos,
Rastejante e feliz para servi-la!
João Batista da Silva n
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