1. O Senhor livrar-nos-á do mal; entretanto, é preciso que desejemos não errar.
Que dizer de um homem que pedisse socorro contra o incêndio, lançando gasolina à fogueira?
O reino da vida, com todas as suas notas de grandeza, pertence a Deus.
Todo o poder e toda a glória do Universo, todos os recursos e todas as possibilidades da existência são da Providência Divina, mas, em nosso círculo de ação, a vontade é nossa.
Se não ligamos nossos desejos à Lei do Bem, que procede do Céu, representando para nós a Vontade Perfeita do Nosso Pai Celeste, não podemos aguardar harmonia e contentamento para o nosso coração.
Nas sombras do egoísmo, estaremos sozinhos, aflitos, perturbados e desalentados, porque egoísmo quer dizer felicidade somente para nós, contra a felicidade dos outros.
Deus permitiu que a vontade seja um patrimônio propriamente nosso, a fim de que possamos adquirir a liberdade e a grandeza, o amor e a sabedoria, por nós mesmos, como filhos de sua infinita bondade.
Por isso, se somos escravos das nossas criações que, por vezes, gastamos muito tempo a retificar, continuamos sempre livres para desejar e imaginar.
E sabemos que qualquer serviço ou realização começa em nossos sentimentos e pensamentos.
Saibamos, desse modo, conservar a nossa vontade à luz da consciência reta, porque, rogando a Deus nos liberte do mal, é preciso, por nossa vez, procurar o caminho do bem.
2. O exemplo da fonte
Um estudante da sabedoria, rogando ao seu instrutor lhe explicasse qual a melhor maneira de livrar-se do mal, foi por ele conduzido a uma fonte que deslizava, calma e cristalina, e, seguindo-lhe o curso, observou:
— Veja o exemplo da fonte, que auxilia a todos, sem perguntar, e que nunca se detém até alcançar a grande comunhão com o oceano. Junto dela crescem as plantas de toda a sorte, e em suas águas dessedentam-se animais de todos os tipos e feitios.
Enquanto caminhavam, um pequeno atirou duas pedras à corrente e as águas as engoliram em silêncio, prosseguindo para diante.
— Reparou? — Disse o mentor amigo, — a fonte não se insurgiu contra as pedradas. Recebeu-as com paciência e seguiu trabalhando.
Mais à frente, viram grosso canal de esgoto arremessando detritos no corpo alvo das águas, mas a corrente absorvia o lodo escuro, sem reclamações, e avançava sempre.
O professor comentou para o aprendiz:
— A fonte não se revolta contra a lama que lhe atiram à face. Recolhe-a sem gritos e transforma-a em benefícios para a terra necessitada de adubo.
Adiante ainda, notaram que, enquanto andorinhas se banhavam, lépidas, feios sapos penetravam também a corrente e pareciam felizes em alegres mergulhos.
As águas amparavam a todos sem a mínima queixa.
O bondoso mentor indicou o lindo quadro ao discípulo e terminou:
— Assinalemos o exemplo da fonte e aprenderemos a libertar-nos de qualquer cativeiro, porque, em verdade, só aqueles que marcham para diante, com o trabalho que Deus lhes confia, sem se ligarem às sugestões do mal, conseguem vencer dignamente na vida, garantindo, em favor de todos, as alegrias do Bem Eterno.
3. A história do livro
O mundo vivia em grandes perturbações.
As criaturas andavam empenhadas em conflitos constantes, assemelhando-se aos animais ferozes, quando em luta violenta.
Os ensinamentos dos homens bons, prudentes e sábios eram rapidamente esquecidos, porque, depois da morte deles, ninguém mais lhes lembrava a palavra orientadora e conselheira.
A Ciência começava com o esforço de algumas pessoas dedicadas à inteligência; entretanto, rapidamente desaparecia porque lhe faltava continuidade. Era impraticável o prosseguimento das pesquisas louváveis, sem a presença dos iniciadores.
Por isso, o povo, como que sem luz, recaía sempre nos grandes erros, dominado pela ignorância e pela miséria.
Foi então que o Senhor, compadecendo-se dos homens, lhes enviou um tesouro de inapreciável importância, com o qual se dirigissem para o verdadeiro progresso.
Esse tesouro é o livro. Com ele, apareceu a escola, com a escola, a educação foi consolidada na Terra e, com a educação, o povo começou a livrar-se do mal, conscientemente.
Muitos homens de cérebro transviado escrevem maus livros, inclinando a alma do mundo ao desespero e à ironia, ao desânimo e à crueldade, mas, as páginas dessa natureza são apressadamente esquecidas, porque o livro é realmente uma dádiva de Deus à Humanidade para que os grandes instrutores possam clarear o nosso caminho, conversando conosco, acima dos séculos e das civilizações.
É pelo livro que recebemos o ensinamento e a orientação, o reajuste mental e a renovação interior.
Dificilmente poderíamos conquistar a felicidade sem a boa leitura. O próprio Jesus, a fim de permanecer conosco, legou-nos o Evangelho do Amor, que é, sem dúvida, o Livro Divino em cujas lições podemos encontrar a libertação de todo o mal.
4. A salvação inesperada
Num país europeu, certa tarde, muito chuvosa, um maquinista, cheio de fé em Deus, começando a acionar a locomotiva com o trem repleto de passageiros para longa viagem, fixou o céu escuro e repetiu, com muito sentimento, a oração dominical.
O comboio percorreu léguas e léguas, dentro das trevas densas, quando, alta noite, ele viu, à luz do farol aceso, alguns sinais que lhe pareceram feitos pela sombra de dois braços angustiados a lhe pedirem atenção e socorro.
Emocionado, fez o trem parar, de repente, e, seguido de muitos viajantes, correu pelos trilhos de ferro, tentando verificar se estavam ameaçados de algum perigo.
Depois de alguns passos, foram surpreendidos por gigantesca inundação que, invadindo a terra com violência, destruíra a ponte que o comboio deveria atravessar.
O trem fora salvo, milagrosamente.
Tomados de infinita alegria, o maquinista e os viajores procuraram a pessoa que lhes fornecera o aviso salvador, mas ninguém aparecia. Intrigados, continuaram na busca, quando encontraram no chão um grande morcego agonizante. O enorme voador batera as asas, à frente do farol, em forma de dois braços agitados, e caíra sob as engrenagens. O maquinista retirou-o com cuidado e carinho, mostrou-o aos passageiros assombrados e contou como orara, ardentemente, invocando a proteção de Deus, antes de partir. E, ali mesmo, ajoelhou-se, ante o morcego que acabava de morrer, exclamando em alta voz:
— Pai Nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje, perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores, não nos deixes cair em tentação e livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Assim seja.
Quando acabou de orar, grande quietude reinava na paisagem.
Todos os passageiros, crentes e descrentes, estavam também ajoelhados, repetindo a prece com amoroso respeito. Alguns choravam de emoção e reconhecimento, agradecendo ao Pai Celestial, que lhes salvara a vida, por intermédio de um animal que infunde tanto pavor às criaturas humanas. E até a chuva parara de cair, como se o céu silencioso estivesse igualmente acompanhando a sublime oração.
5. Prece
Senhor, ensina-nos a oferecer-te o coração puro e o pensamento elevado na oração.
Ajuda-nos a pedir, em Teu Nome, para que a força de nossos desejos não perturbe a execução de teus desígnios.
Ampara-nos, a fim de que o nosso sentimento se harmonize com a tua vontade e que possamos, cada dia, ser instrumentos vivos e operosos da paz e do amor, do aperfeiçoamento e da alegria, de acordo com a tua Lei.
Assim seja.
Meimei
FIM