1 Quando o Senhor nos recomendou sacudíssemos o pó das sandálias, ( † ) ao nos retirarmos dos lugares em que a nossa cooperação fraternal ainda não se mostrasse suscetível de ambientação e reconhecimento, não nos induziu à indiferença, ao relaxamento ou à dureza espiritual.
2 É que o amor-próprio, quando destrutivo em nossa personalidade, nos compele a resoluções e atitudes negativas que, de nenhum modo, se coadunam com o programa cristão que fomos chamados a desenvolver.
3 O pó das sandálias é a preocupação doentia de recebermos o incenso das considerações sociais, a tristeza improdutiva, diante da calúnia ou da perversidade, a dilaceração inútil perante a ignorância dos outros, o anseio por resultados das nossas ações mais elogiáveis, no campo imediatista da vida, a revolta contraproducente junto às sombras do mal, a indisciplina, ante as ordenações transitórias do mundo, o desânimo à frente das dificuldades, o desalento entre os obstáculos naturais do caminho, a exigência de compreensão alheia, no capítulo de nossas manifestações pessoais, os melindres da suposta superioridade em que, muitas vezes, nos enganamos no próprio íntimo, a desistência da boa luta ou a deserção perante a dor.
4 Semelhantes estados espirituais simbolizam o pó das sandálias que nos cabe alijar, sem delonga, nos mínimos desequilíbrios entre a vida e nós outros.
5 Esqueçamos tudo o que nos incline ao resvaladouro da inutilidade e marchemos para diante.
6 Grande é o campo da Terra e até que a ventania e a tempestade possam remover os tropeços de muita paisagem empedrada e escura na gleba do planeta, prossigamos semeando o bem, cultivando-o e defendendo-o, em todos os setores de nossa tarefa, convictos de que a plantação da luz produzirá os resultados da felicidade e da perfeição para a Vida Imortal.
Emmanuel
(Reformador, setembro de 1952, p. 228.)