1 Algema tenebrosa é a carne louca,
Onde o espírito, em lágrimas, se prende,
Perambulando como um triste duende,
Bebendo o pus das fístulas da boca.
2 Viver entre os sentidos incompletos,
Na existência das cousas fragmentárias,
Começando nas dores solitárias,
Da vida melancólica dos fetos.
3 Vaso de tegumentos e de humores
É o corpo, imagem viva do defunto,
O miserabilíssimo transunto
Das condições mais tristes e inferiores.
4 Desprezar toda a luz, radiosa e viva
Para viver na carne é descer quase
Da consciência divina à horrenda fase
Da irracionalidade primitiva.
5 Carne!… Nossa amargura original,
Antes, sobre o planeta nunca houvesse
O princípio ancestral da tua espécie,
Nos mistérios da Vida Universal!…
Augusto dos Anjos
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