Autoridades presentes, nomeadas por Francisco Cândido Xavier:
- Dr. Paschoal Cittadino, muito digno Chefe do Poder Legislativo do Estado da Guanabara;
- Deputados Dr. Átila Nunes Filho e Dr. Rubem Dourado;
- Almirante Silvio Heck;
- General Aldir Haley;
- Representante da Aliança Renovadora Nacional, Deputado João Xavier;
- Sr. Geraldo de Aquino, muito digno Presidente da Organização Umbandista Paulo de Tarso;
- Digníssimas Autoridades, Ex.mas Senhoras e Senhores. Caros Amigos da Guanabara.
Quisera, em verdade, formular uma oração que vos desse a medida do meu respeito e reconhecimento nesta hora. Entretanto, dois motivos me impedem semelhante realização:
Primeiro, falta-me cultura suficiente para tanto.
E, em segundo plano, reconheço que a emoção que me toma todos os domínios do espírito não encontrou palavras que conseguissem definir o meu jubiloso agradecimento e o meu profundo apreço.
Escutei emocionadamente as palavras pronunciadas, neste augusto recinto, a meu respeito.
Desde a publicação da Resolução nº 735, em 5 de junho deste ano, assinada pelo Ex.mo Sr. Dr. Paschoal Cittadino, nosso digníssimo Chefe do Poder Legislativo do Estado da Guanabara, e desde o momento em que tomei a informação devida com respeito à propositura do Ex.mo Sr. Deputado Átila Nunes Filho, que solicitava para este vosso pequenino servidor a honra da cidadania guanabarina, venho pensando em agradecer-vos por tudo, dentro de minha fala.
Será debalde, todavia, meu esforço nesse agradecimento, de vez que qualquer conceito verbal seria insuficiente, precário mesmo, para corresponder aos meus anseios de dizer-vos toda a alegria e toda a veneração que me tomam a alma, diante de tão profunda e inexcedível bondade.
Não tenho qualidades para receber semelhantes honrarias.
Ante a palavra do Ex.mo Sr. Deputado Átila Nunes Filho, a palavra do Ex.mo Sr. Deputado Dr. Rubem Dourado, a palavra do Ex.mo Sr. Deputado Dr. João Xavier, sinto-me na obrigação de explicar-vos que compareci a esta Egrégia Casa do Poder Legislativo do Estado da Guanabara cumprindo um dever.
Estou despojado de quaisquer recursos para corresponder-vos à imensa bondade.
Os livros que elogiaram, talvez por simpatia e generosidade vossas e por nenhum merecimento de minha parte, pertencem aos Amigos Espirituais que os escreveram no curso de mais de 40 anos de trabalho sucessivo.
A obra assistencial a que vos referis, seja em Uberaba ou em Pedro Leopoldo, pertence àqueles companheiros que ali mourejam de sol a sol.
Sinto-me como se fosse uma parede pobre, sobre a qual se pregasse um cartaz anunciando os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. O merecimento será da mensagem que atravessou vinte séculos e continua conosco, como sendo a nossa maior esperança.
Oxalá possa eu, como parede arruinada, permanecer de pé por mais algum tempo para servir sempre a Ele. Reporto-me às condições de precariedade espiritual, moral e cultural com que compareço diante de vós todos para guardar fidelidade à minha consciência, conquanto deva dizer de público o meu profundo reconhecimento à propositura do nosso grande e abnegado amigo, o jovem deputado Dr. Átila Nunes Filho.
Dizer-vos do meu reconhecimento à grandeza de coração, à suprema altura de espírito com que esta augusta Casa é dirigida, em nome de todos aqueles que merecem a honraria desta hora, é difícil. Eu vos digo: muito obrigado, se uma parede arruinada pode ter voz diante de Plenário tão venerável e tão distinto.
Peço mesmo o vosso perdão se assim me expresso, porque não desejo trair a verdade e venho até vós outros muito mais com o meu coração.
Rogo a vossa tolerância até mesmo porque o aspecto de distinção com que pude comparecer foi cuidado por amigos nossos, para que na verdade pudesse, de algum modo, minha presença corresponder à dignidade de vosso recinto.
Conto com as vossas desculpas, tanto quanto estou recebendo o testemunho de vossa generosidade.
Lembro-me, nesta hora, dos dias de Pedro Leopoldo, quando sonhava conhecer a Cidade Maravilhosa, que construístes e sustentais com as bênçãos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Lembro-me que um amigo inesquecível, um benfeitor guardado para sempre na memória, grande cidadão do Rio de Janeiro, em conhecendo o meu ideal, prontificou-se a trazer-me até aqui:
— Nosso grande companheiro Manuel Justiniano Quintão, que me descerrou a visão do Rio de Janeiro pela primeira vez.
Ele, que não mais se encontra entre nós na Vida Física, naturalmente se orgulhará de vossa bondade para comigo, já que não tenho mérito algum para compartilhar a honrosa cidadania que me concedestes.
Lembro-me de Uberaba, quando tantas vezes nos referimos à grandeza e ao progresso do Estado da Guanabara e desejaria, com essas lembranças, entretecer um hino de reconhecimento em que vos pudesse comunicar minha emoção, minha alegria, meu respeito, meu apreço sem limites.
Mas, aqui estou, pequeno criado vosso, para responder presente, em nome da Doutrina Espírita. (Palmas)
Quis a respeitada Organização Umbandista do Rio de Janeiro, por seu muito digno intérprete nesta Egrégia Assembleia, o nosso muito respeitável e digno Deputado Dr. Átila Nunes Filho, homenagear decerto a Confederação kardequiana.
E para tal, com uma honrosa aprovação do Poder Legislativo deste Estado, os nossos caros irmãos umbandistas escolheram a mim, o menor, o último dos espíritas-cristãos, para recolher semelhante testemunho de acatamento, seja pelo brilho de vossa bondade ou pela tessitura das circunstâncias que culminaram com o vosso gesto, acolhendo-me neste recinto.
Reconheço-me, junto de vós todos, na condição de humilde servidor, ignorando como testemunhar reconhecimento à cidadania honrosa que me outorgais.
Rogo vosso consentimento para sentar-me, deste modo, à maneira de um criado obscuro desta Casa, na ponte de vossa magnanimidade. De um lado encontro os doutores beneméritos e de outro lado vejo os felizes contemplados pela honrosa concessão que nos fizestes.
Rogo, deste modo, a permissão vossa para considerar que esta honra pertence à comunidade espírita evangélica e não a mim, que nada fiz até hoje por merecê-la.
Por isto mesmo, rogo delongar minha pobre palavra ainda por alguns momentos, de vez que desejo venhais a aprovar nossos anseios de transferir a honrosa homenagem desta hora à nossa venerável Federação Espírita Brasileira, nascida aqui mesmo, nesta Capital, em 1883, e que, há quase um século, vem dirigindo com segurança e grandeza os destinos do Espiritismo Evangélico em nosso País.
E o faz desde os dias de seus inesquecíveis pioneiros que foram, entre outros, o Dr. Adolpho Bezerra de Menezes, o Marechal Ewerton Quadros, o Sr. Augusto Elias da Silva, o Dr. Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, o Sr. Antônio Luiz Sayão.
Resumindo as nossas lembranças, para não nos alongar com a nossa palavra inexpressiva, desde os primeiros dias de seu pioneirismo, a Federação Espírita Brasileira tem sido um sustentáculo de sabedoria, de amor, de paz e de concórdia para todos os espíritas, para todos os cristãos de outras confissões religiosas no Brasil, à metrópole da bondade e da cultura, a todos vós que significais a comunidade do Estado da Guanabara, que já nasceu cidade em 1565.
Do Estado da Guanabara que guardou os destinos do nosso País com segurança, lealdade, grandeza e equilíbrio, durante quase 200 anos.
Do Estado da Guanabara que refulge entre os Estados do nosso País como sendo o espelho de todas as virtudes e de todas as qualidades excelentes de nosso País diante do mundo.
Aos legisladores desta augusta Assembleia, o meu muito obrigado e os meus votos a Nosso Senhor Jesus Cristo para que todos nós, honrando o nome de cristãos que ostentamos, possamos viver, diante uns dos outros, num respeito recíproco sem violência, com o amor com que devemos, uns aos outros, a felicidade a que cada um tem direito pelo rendimento de seu próprio trabalho.
Os nossos votos para que todos nós, sejamos católicos, evangélicos, umbandistas ou espíritas, todos nós possamos viver com a bênção de Jesus Cristo, amando-nos e respeitando-nos uns aos outros, buscando em nosso próprio trabalho a motivação do nosso progresso, a fim de continuarmos, diante do mundo, sendo aquele povo destinado a doar ao nosso mesmo mundo a bênção generosa, a bênção imperecível de Deus.
(Palmas)
Caio Ramacciotti
Organizador