O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Páginas de gratidão.

Títulos de Cidadania concedidos a Francisco Cândido Xavier.

Título de Cidadão Sambernardense

(São Bernardo do Campo - SP. 29 de abril de 1972.)

Digníssimas autoridades presentes, civis, militares, religiosas, que tomamos a liberdade de personalizar na presença do Ex.mo Sr. Dr. Aldino Pinotti, M.D. n Prefeito Municipal de São Bernardo do Campo e na presença do Ex.mo Sr. Américo de Moraes, M.D. Presidente da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo; Excelentíssimas senhoras e excelentíssimos senhores, caros amigos de São Bernardo do Campo, a vós outros a quem especialmente me dirijo.

Desde quando me inteirei dos termos do Decreto legislativo nº 45, de 12 de novembro de 1971, promulgado pelo Ex.mo Sr. Américo de Moraes, M.D. Presidente da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo, atendendo à propositura do Ex.mo Sr. Álvaro Domingues, honrado e distinto legislador do Município, a quem sou imensamente reconhecido, concedendo-me a honrosa cidadania sambernardense, venho procurando meios de agradecer-vos a generosidade.

Confesso-vos, porém, que nada encontrei em mim capaz de erguer-me à altura de vossa concessão.

Por isso mesmo, em minha pequenez, no momento justo de externar-vos a gratidão que me possui o espírito, a profunda emoção que me anima nesta hora, compreendo, com mais força de convicção, a ternura e o apreço com que homenageais a Doutrina Espírita, à Luz do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, já que para comparecer ao vosso festival de bondade não disponho de outro atributo, a não ser aquele de apagado instrumento dos Benfeitores Espirituais, que se valem deste vosso pequenino servidor para falarem da imortalidade da alma e dos inesquecíveis ensinamentos do Cristo de Deus.

À maneira de artistas eméritos, eles procedem assim, valendo-se de mim à maneira igualmente de um violino estragado e rústico, através do qual tentam arrancar melodias que se caracterizam pelo imenso amor e pelo infinito respeito a Deus.

Entendendo deste modo a minha desvalia manifesta, peço-vos permissão para converter o meu reconhecimento em preces ardentes ao Todo Misericordioso, ao nosso Pai de Infinita Bondade, rogando aos Céus vos acrescentem os tesouros de paz e segurança, trabalho e felicidade, com que vos engrandeceis cada vez mais diante do futuro. Rogo mais ainda, peço vênia para transfigurar este mesmo reconhecimento em saudação ao vosso admirável destino histórico das crônicas referentes à colonização do País.

Sabemos que a expedição de Martim Afonso de Souza, ( † ) determinada por D. João III ( † ) para avaliação das novas terras, alcançou o antigo porto de Cananeia, na chamada Ilha do Bom Abrigo, ( † ) a 12 de agosto de 1531, aí encontrando João Ramalho, ( † ) o valoroso sertanista que chegara há tempos antes ao Brasil, com sede de progresso.

Conta-se nas tradições orais de vossa e nossa Cidade que, depois de algum refazimento, muitos dos amigos portugueses recém-chegados solicitaram a Ramalho lhes fizesse ver pelo menos ligeira amostra da gleba imensa que se lhes desdobrava maravilhosamente à vista.

O genro do Cacique Tibiriçá ( † ) aquiesceu, e a viagem começou. Entretanto, desdobrou-se difícil para aquém do mar litorâneo: obstáculos, veredas escabrosas, chuvas inesperadas, alimárias em fadiga.

Atingindo a borda do campo, o grande sertanista foi tomado de profunda tristeza por encontrar centenas de crianças guaianases nas aldeias tomadas de enfermidade e de penúria.

A garoa batia nas aldeias ao impacto do vento forte, a enfermidade alastrava-se, o sofrimento prosseguia; entretanto a caravana precisava continuar.

Ao entardecer de 19 de agosto daquele mesmo ano de 1531, a expedição acampou justamente no ponto em que se vos ergue por relíquia inestimável a Capela da Boa Viagem, ( † ) e, na manhã seguinte, no dia 20 de agosto, consagrado a São Bernardo de Claraval, ( † ) houve ofício religioso, celebrado por um dos sacerdotes da comissão.

Ao ensejo, o religioso amigo se referiu à biografia do ilustre abade que não desdenhava descer da grandeza de sua cultura e de sua autoridade para socorrer os menos felizes, as crianças doentes, os transviados da noite, os viajantes em luta na terra, então inóspita, de Clairvaux. ( † )

João Ramalho, cristão novo, ardente na fé, escutou a preleção e, ajoelhado, depondo as suas armas sobre a terra, rogou a São Bernardo para que se fizesse o benfeitor do povo da Terra de Santa Cruz, ( † ) então nascente, e rogou para que ele abençoasse as crianças do campo imenso, que auxiliasse a população a se livrar da penúria, do frio, da enfermidade e da morte.

E, depois de algum tempo, ele mesmo promoveu a fundação da primeira capela primitiva, antecipando-se a Antonio Pinheiro da Costa, que em 1728 ratificou o nome de São Bernardo para a Sesmaria que lhe fora confiada pela coroa portuguesa. Espírita-cristão que sou, guardo a certeza de que o Espírito sublimado de São Bernardo de Claraval aceitou a prece de João Ramalho e vos abraçou os 413 quilômetros quadrados de território.

Dizemos assim porque nós cremos, pela nossa formação cristã no Brasil, que os grandes heróis do Cristianismo não estão mortos; eles continuam orientando o nosso progresso, são os baluartes de sustentação da cristandade e, portanto, da civilização, no mundo inteiro.

Eles continuam conosco, abençoando-nos em nossas dificuldades e nos auxiliando a ser cada vez mais irmãos uns dos outros, sem necessidade de recurso à violência.

Eles prosseguem na condição de apoio para todos aqueles que amadureceram e que amadurecem nas experiências da vida, amparando-nos em nossa peregrinação de Espíritos eternos.

Em João Ramalho, elegestes São Bernardo por patrono espiritual da vossa vocação de servir, e São Bernardo ter-vos-á escolhido para instrumento de vossa missão histórica.

Por essa razão, nós cremos que a legenda do vosso brasão, muito antes que descesse das Esferas superiores ao pensamento do nosso ilustre historiador Affonso D’Escragnolle Taunay, ( † ) essa mesma legenda brilhava tanto quanto brilha e brilhará sempre no coração daquele que se erigiu em nosso benfeitor e patrono de vossas realizações.

“Paulistarum Terra Mater”, Terra-Mãe dos paulistas! São Bernardo vos abençoou para que esperassem 400 anos, auxiliando a formação das cidades vizinhas, amparando a todas elas com vosso desprendimento.

Quatro séculos de trabalho!

Mas, quando surgiu na Terra o alvorecer da Era do Espírito, ei-lo que vos convocou para a missão histórica, para a admirável missão histórica que vos assinala a destinação.

Sois hoje a comunidade econômica e industrial que se colocou à frente do País inteiro, sem ofensa às outras cidades que são para nós todos padrões de grandeza e de sublimação espiritual.

Conscientes da vossa missão, sob o influxo de São Bernardo de Claraval, puseste-vos em campo para libertar-nos a nós outros, os brasileiros de outras terras, do frio, do subdesenvolvimento, e calçastes o País inteiro de rodas possantes, para que a nação se atirasse a caminho das vanguardas da civilização, trabalho esse pelo qual nós todos vos louvamos e vos abençoamos, no sentido de rogarmos a Deus para que vos abençoe de modo permanente.

Organizastes frentes de trabalho em que a ordem é um atributo indiscutível dos vossos milhares de técnicos e trabalhadores especializados. Formastes chefes dignos, cujo comportamento se nos ergue em exemplo dentro da nação inteira e, sobretudo, concedestes à criança prioridade em todos os vossos trabalhos e em todas as vossas realizações.

O ideal do Espírito sublimado de São Bernardo de Claraval se estampa em vossa cidade, em vossa comunidade, em vossos ideais, em vossas realizações, unindo-nos a todos na mesma fé cristã, na mesma fé cristã que, com a bênção de Deus, nos auxiliará a todos e a cada um na realização dos nossos propósitos de caminhar em harmonia, sem ódio, sem violência, sem vingança, sem egoísmo no caminho do futuro milênio.

Terminando, e referindo-nos à vossa missão sublime junto à criança que encontra, em São Bernardo do Campo, clima de assistência em padrão talvez ainda impraticável nas outras comunidades do País, em nos referindo ao vosso ideal e ao vosso trabalho, rogamos a vossa permissão para repartir as alegrias, as gentilezas que me concedestes, sem nenhum mérito de minha parte, nesta noite, com um grande paulista e brasileiro, que se vos associou ao trabalho gigantesco no levantamento do Brasil e do futuro.

Há 12 anos consecutivos, acompanho-lhe a tarefa no sentido de se integrar convosco em vossa missão histórica.

Posso dizer com o coração nas palavras que, desde o momento em que esse grande paulista e brasileiro vos conheceu, ele se associou convosco na mesma empresa, fascinado por vossa bondade, tanto quanto nos encontramos fascinados neste instante.

E empobreceu-se de recursos materiais para transplantar toda uma instituição, ansioso de ver as suas dezenas de crianças tuteladas nesta mesma cidade, onde as crianças do Brasil e do mundo encontram um clima talvez tão acolhedor e tão seguro como em nenhuma parte da Terra.

Desembolsou-se de recursos materiais, conquanto haja erguido em cada filho um tesouro de cultura e de bondade, enriquecido que ele se encontra ao contato de vosso imenso calor humano, feliz com a felicidade que sabeis distribuir com todos nós.

Para esse paulista e brasileiro, de dimensões gigantescas no coração e na inteligência, rogo a vossa permissão para dividir com ele os louros que pertencem a vós outros, que passam por minhas mãos sem que eu os mereça, mas que assumirão nas mãos dele a riqueza que estes mesmos louros podem criar e engrandecer.

Este amigo, que nos desculpará semelhante lembrança, em mais de 12 anos, já espalhou de São Bernardo do Campo para o Brasil inteiro, de Norte a Sul, e de Leste a Oeste, incluindo países diversos do exterior, mais de vinte milhões de páginas de Doutrina Espírita-Cristã, lembrando a cada um de nós a lição permanente do Cristo de Deus interpretada à luz dos princípios de Allan Kardec.

Este homem, fascinado por vosso progresso, deu-vos e deu-nos a nós uma Editora florescente ( † ) que honra o nome de São Bernardo do Campo na América do Norte, na América Central, em diversos países da Europa, da Ásia, da Austrália, da Oceania.

Este homem é o nosso caro amigo Rolando Mário Ramacciotti. ( † )

Eu não tenho expressões para agradecer. Falo de mim, perdoem-me o pronome pessoal, e dos amigos de Pedro Leopoldo, incluindo os queridos familiares meus, presentes na Assembleia, dos amigos de Uberaba, dos amigos de Ribeirão Preto, outra cidade metropolitana do Estado de São Paulo que me adotou por filho.

Eu não tenho palavras para expressar o nosso agradecimento; a memória turvou-se pela emoção, porque muitas vezes as lágrimas provocam uma invasão de todos os nossos sentidos. E, diante de vossa bondade, elas nasceram e nascem de meu coração, não apenas para os olhos, mas também para o meu raciocínio.

Agradeço a todos, a todos aqueles que se fizeram ouvir. Não pronunciarei nomes, porque posso incorrer, numa hora assim de turvação dos meus sentidos pela alegria e pelo reconhecimento, posso cometer o delito da ingratidão. Agradeço assim a São Bernardo do Campo, agradecendo a vós todos, a todos vós amigos queridos.

Esta é uma noite inesquecível para minha memória e para o meu coração e, para terminar, abraçando a nossa Assembleia, abraçando a todos os caros amigos sambernardenses, na pessoa do nosso muito digno Prefeito Municipal Dr. Aldino Pinotti e na pessoa do nosso M.D. Presidente da Câmara Municipal, Sr. Américo de Moraes, nós terminamos, repetindo a nossa saudação:
— PAULISTARUM TERRA MATER!

Nós vos saudamos, São Bernardo do Campo, Terra-Mãe dos paulistas e consequentemente terra maternal de todos nós, terra maternal de todos os brasileiros!
(Milhares de pessoas aplaudem em pé, demoradamente.)


(Revista Comunicação ( † ) — Edição de 04/1972)


Caio Ramacciotti

Organizador   



[1] M.D. = Mui(to) Digno.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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