Almir Guimarães pediu a Chico Xavier, em seu nome e em nome do auditório e dos telespectadores após 2 horas e 45 minutos de programa, que tentasse psicografar “uma mensagem dos seus Guias.”
Chico Xavier respondeu: “Vamos tentar.” Almir pediu silêncio. No auditório repleto o silêncio foi absoluto. Chico pediu: “Um pouquinho de música para ajudar.” Ouviu-se uma suave melodia e o médium se pôs a psicografar com extrema rapidez.
Terminada a recepção, Almir anunciou que Chico Xavier ia ler. Nem ele mesmo parecia ter percebido o que psicografara. Leu em tom de prosa, com certa dificuldade. E era um soneto, um primoroso alexandrino de Ciro Costa, no estilo e no espírito do saudoso poeta de “Pai João” e “Mãe Preta”.
Surpresa geral. A maioria dos presentes não conhecia o poeta. Ninguém pensara nesse nome. E o soneto era um improviso inegável, porque verdadeira síntese poética dos assuntos ali tratados. E a surpresa maior foi na casa dos familiares do poeta, que assistiam o programa pela televisão. As filhas de Ciro Costa receberam com lágrimas de emoção, à distância, longe do auditório emocionado, o soneto do pai, que assim lhes demonstrava estar participando com elas da noite inesquecível.
O milagre da mediunidade estreitava, através do milagre da televisão, na madrugada paulista, os corações que a morte parecia haver separado para sempre. Ciro Costa, o poeta altissonante de “Terra Prometida”, disse presente à sua querida São Paulo; como se o tempo não existisse.
Segundo milênio
1 Apaga-se o milênio. A sombra deblatera.
Vejo a noite avançar, do anseio em que me agito.
Guerra e sonho de paz estadeiam conflito.
De pólo a pólo a dor reclama em longa espera.
2 Explode a transição no ápice irrestrito.
A cultura perquire; a crença se oblitera.
A forma antiga, em luta, aguarda a nova era.
Roga-se tempo novo ao tempo amargo e aflito.
3 A civilização atônita, insegura,
Lembra um tesouro ao mar que a treva desfigura.
Vagando aos turbilhões de maré desvairada.
4 Entretanto, no mundo a nau que estala e treme,
A luz prossegue e brilha. O Cristo está no leme
Preparando na Terra a nova madrugada.
Ciro Costa
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Uma nota curiosa: o verbo estadear, tão bem aplicado pelo poeta, revelou-se geralmente desconhecido. Por toda a parte foi publicado de maneira errada até mesmo nos órgãos oficiais dos legislativos do país. O soneto impecável foi publicado com erros que o poeta não cometera. Damo-lo acima na sua forma certa, na primorosa forma dos alexandrinos de Ciro Costa. [Vide: Cyro Costa errou?]