Reale Jr. — A Igreja Católica cada dia tem aumentado mais sua atuação no sentido de que haja mais justiça social no mundo, melhor distribuição de renda. Aqui mesmo no Brasil, a participação da Igreja, na área social, tem sido muito grande, o que aliás, lhe tem causado até alguns problemas. O que o Espiritismo no Brasil tem feito nesse sentido; ou por acaso prega o conformismo na vida material?
Chico Xavier — O Espiritismo não prega o conformismo do ponto de vista em que o conformismo é interpretado. O Espiritismo nos pede paciência para esperar os processos da evolução e as realizações dos homens dignos que presidem os governos, cooperando de nossa parte, tanto quanto possível, para que as leis desses mesmos governos sejam executadas. De modo que, se estamos subordinados ao critério de Nosso Senhor Jesus Cristo que estabelece aquele princípio “dê a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, ( † ) isto é, aquilo que pertence ao mundo superior da nossa mente, as realizações com Deus, que constituem o progresso e o aprimoramento de nossa alma e aquilo que nós devemos aos poderes constituídos do mundo que nos orientam e que administram os nossos interesses, então o Espiritismo evangélico não se sente absolutamente inclinado a qualquer participação no partidarismo de ordem política para solucionar os problemas da vida material, conquanto reconheça que todos devemos trabalhar. O Espiritismo nos ensina que se existe fome não é por culpa da Terra, assim como o rio não tem culpa quando passamos por cima dele uma ponte cometendo um delito contra a higiene. As leis são magnânimas, mas a vacina contra a ignorância é a instrução e a vacina contra a penúria é o trabalho. Ao invés de pedir melhoria de rendas, vamos pensar assim conquanto precisemos de dinheiro, todos necessitamos do dinheiro como o sangue de nossas realizações materiais e seiva da nossa civilização. Nós todos precisamos do dinheiro, seja ele apresentado de que forma for, em qualquer regime, porque o dinheiro é um documento daqueles que nos governam e que nos credenciam para o serviço aquisitivo onde estejamos.
Conquanto precisemos todos do dinheiro, vamos pensar, por exemplo, em trabalhar todos e em organizar vamos dizer, a questão do trabalho com o aproveitamento das nossas energias integrais.
Então, cremos que o problema seria quase que imediatamente resolvido. Vamos dizer que na atualidade déssemos ou que venhamos a dar a liderança das empresas, a chefia das equipes às inteligências juvenis, como vem acontecendo quase em todos os países de vanguarda. Mas, sem valorizarmos a madureza que começa de 40 a 45, 50 anos, colocando a madureza com seu discernimento a serviço da coletividade, proporcionando aos homens e às mulheres que já amadureceram na experiência física, trabalho e mais trabalho, desde que eles tenham condições orgânicas compatíveis com essa necessidade, mas prestigiando a personalidade humana em sua condição de pessoa amadurecida no trabalho remunerado ou tão altamente remunerado quanto possível, nós resolveríamos o problema, sem entrarmos em atrito com a autoridade legal.
Francisco C. Xavier
Emmanuel