O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Pontos e contos — Irmão X


13

A surpresa do crente

1 O devoto feliz experimentava a doce comoção do espetáculo celeste. Mais que a perspectiva do plano divino, porém, via, extasiado, o Senhor à frente dele.

2 Chorava, ébrio de júbilo. Sim, era o Mestre que se erguia, ali, inundando-lhe o espírito de alegria e de luz.

3 Sentia-se compensado de todos os tormentos da vida humana. Esquecera espinhos e pedras, dificuldades e dores.

4 Não vivia, agora, o instante supremo da realização? Não esperara, impacientemente, aquele minuto divino? Suspirara, muitos anos, por repousar na bem-aventurança. Recolhera-se em si próprio, no mundo, aguardando aquela hora de imortalidade e beleza.  5 Fugira aos homens, renunciara aos mais singelos prazeres, distanciara-se das contradições da existência terrestre, afastara-se de todos os companheiros de humanidade, que se mantinham possuídos pela ilusão ou pelo mal. 6 Assombrado com as perturbações sociais de seu tempo e receoso de complicar-se, no domínio das responsabilidades, asilara-se no místico santuário da adoração e aguardara o Senhor que resplandecia glorificado, ali diante dos seus olhos.

7 Jesus aproximou-se e saudou-o.

Oh! Semelhante manifestação de carinho embriagava-o de ventura. Sentia-se mais poderoso e mais feliz que todos os príncipes do mundo, reunidos!…

8 O Divino Mestre sorriu e perguntou-lhe:

— Dize-me, discípulo querido, onde puseste os ensinamentos que te dei?

9 O crente levou a destra ao tórax opresso de alegria e respondeu:

— No coração.

10 — Onde guardaste, — tornou o Amigo Sublime, — minhas continuadas bênçãos de paz e misericórdia?

— No coração, — retrucou o interpelado.

11 — E as luzes que acendi, em torno de teus passos?

— Tenho-as no coração, — repetiu o devoto, possuído de intenso júbilo.

12 O Mestre silenciou por instantes e indagou novamente:

— E os dons que te ministrei?

— Permanecem comigo, — informou o aprendiz, — no recôndito da alma.

13 Interrompeu-se o Cristo e, depois de longo intervalo, inquiriu, ainda:

— Ouve! Onde arquivaste a fé, as dádivas, as oportunidades de santificação, as esperanças e os bens infinitos que te foram entregues em meu nome?

14 Reafirmou o discípulo, reverente e humilde:

— Depositei-os no coração, Senhor!…

15 A essa altura, interrompeu-se o diálogo comovente. Jesus calou-se num véu de melancolia sublime, que lhe transparecia do rosto.

16 O devoto perdeu a expressão de beatitude inicial e, reparando que o Mestre se mantinha em silêncio, indagou:

— Benfeitor Divino, poderei doravante abrigar-me na paz inalterável de tua graça? Já que fiz o depósito sagrado de tuas bênçãos em meu coração, gozarei o descanso eterno em teu jardim de infinito amor?

17 O Mestre meneou tristemente a cabeça e redarguiu:

— Ainda não!… O trabalho é a única ferramenta que pode construir o palácio do repouso legítimo. Por enquanto, serias aqui um poço admirável e valioso pelo conteúdo, mas incomunicável e inútil… Volta, pois, à Terra! Convive com os bons e os maus, justos e injustos, ignorantes e sábios, ricos e pobres, distribuindo os bens que represaste! Regressa, meu amigo, regressa ao mundo de onde vieste e passa todos os tesouros que guardaste no santuário do coração para a oficina de tuas mãos!…

18 Nesse momento, o devoto, em lágrimas, notou que o Senhor se lhe subtraía ao olhar angustiado. Antes, porém, observou que o Cristo, embora estivesse totalmente nimbado de intensa luz, trazia nas mãos formosas e compassivas os profundos sinais dos cravos da cruz.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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