1 Trouxe-me o ano passado
A última e linda prova:
Pois completei dez janeiros
À luz da existência nova.
2 Sou enfermeiro de jovens,
Que foram “pinta travessa”, n
Com muita preocupação
E muita dor-de-cabeça.
3 Surgiram, porém, amigos
Com bonita tentação:
Desejam voltar ao mundo
Em nova reencarnação;
4 E convidaram-me, atentos,
De modo claro e gentil,
A partilhar-lhes a empresa,
Marcada para o “dois mil”.
5 Formarão equipe nobre
De paz, amor e união,
Doando ao progresso humano
Mais luz e renovação.
6 Não lhes dei pronta resposta,
Deixei o assunto no ar…
Para um pedido a mentores
Era justo meditar.
7 Não queria decisão
Apressada ou discutida;
Precisava ver a Terra
Em novo padrão de vida.
8 Desci pelo fio forte
De minha grande saudade
Para a terra generosa,
Que é sempre “minha cidade”,
9 Vaguei por ruas e praças…
Tudo beleza seleta…
Mas vendo a lista de preços,
Fiquei um tanto pateta.
10 Apartamento pequeno,
Mais de cem mil no aluguel,
Quantia de mês, contada
Em compromisso e papel.
11 Gasolina, cada litro,
Quase quatro mil cruzeiros;
Cafezinho, uma fortuna,
Se tivermos companheiros.
12 Seis mil o preço do arroz,
Preço do óleo enlatado;
Três mil, o preço do açúcar,
Que se mostre refinado.
13 O leite, sempre subindo,
Parecia tal “barato” n
Que se a vaquinha soubesse,
Fugiria para o mato.
14 Vendo tanta carestia,
Concluí, pensando mais:
O que seria de mim?
Que seria de meus pais?
15 Busquei os caros amigos,
Falando-lhes sem alarme
Que, em vista da carestia,
Não queria reencarnar-me.
16 — “Que é isto, Jair?” — disseram.
“Preços mudam cada hora,
Com tempo, tudo evolui,
No tempo, tudo melhora.”
17 — “Nosso grupo de trabalho
Completa-se com você…”
Falou Vitório, um amigo,
— “Agora, fazer o quê?”
18 — “Então” — respondi tranquilo
A meu amigo Vitório:
— “Vocês voltam para a Terra,
Eu fico no Purgatório.”
Jair Presente
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