1 O Coronel Arquimino,
Abastado fazendeiro,
Dispunha de muitas glebas,
De dinheiro e mais dinheiro.
2 Era, porém, avarento
Em tão extensa medida,
Que conservava em sacolas
Qualquer resto de comida.
3 Fizera-se conhecido
Por homem mau e seguro,
Sempre citado no povo
Por “Arquimino Pão Duro”.
4 Quatro fazendas no campo,
Bela mansão na cidade,
Detestava dar esmolas,
Criticava a caridade.
5 Certo dia, na varanda,
Alegrava-se entre amigos,
Dizendo quanto odiava
Os pedinchões e os mendigos.
6 Nisso, estaca junto à escada
Que dava acesso à varanda,
O aleijado Joaquim Bola,
Que se arrasta e diz que anda…
7 — “Seu” Coronel Arquimino
Falou Joaquim com respeito:
— Peço ao senhor algum pão,
Minha fome não tem jeito…
8 Já procurei na cidade
As casas, uma por uma,
Rogando auxílio e socorro,
Não achei comida alguma…
9 Arquimino, enraivecido,
De cima, disse a Joaquim:
— Saia já de minha porta
Ou eu mesmo lhe dou fim.
10 Você se faz de aleijado
Pedindo dinheiro e pão,
No entanto, você não passa
De vagabundo e ladrão.
11 — Ah! Coronel, não me afronte,
Clamou o pobre Joaquim
Não minto… sou aleijado,
Desde o berço, eu sou assim…
12 — Você inda me responde?
— Gritou o dono da casa
Meu pontapé dá lições…
Você vai ver minha brasa.
13 Em fúria, espantando a todos,
Passou a descer a escada,
Mas logo, ao segundo lance,
Caiu, de perna quebrada.
14 Abeiraram-se os amigos…
As cenas ficaram feias;
Toda a perna estava em sangue,
No rompimento de veias.
15 Carregado, em altos gritos,
Foi levado a um hospital,
Sofreu longa operação
E anestesia geral.
16 Foi assim que o Coronel
Que negou alguns tostões,
Sarou e voltou à casa,
Mas pagou trinta milhões.
Jair Presente
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