1 É uma estória de ficção,
Que atiro hoje no ar,
Um simples caso de peixes
E uma lição de pensar.
2 Traíra bastante idosa
Nadava forte e serena,
Fazendo-se acompanhar
Por uma filha pequena.
3 A mãe-traíra dissera
Para a traíra-menina:
— “Filha, é preciso aprender
As lições que a vida ensina.
4 Hoje, vamos rio abaixo,
Evite lixo e barrela,
Siga sempre junto a mim,
No máximo de cautela.”
5 Depois, falou das lembranças
De queridas companheiras,
De excursões em dias claros,
De flores e cachoeiras.
6 O passeio ia tranquilo
E eis que a dupla se apoquenta,
Vendo um pedaço vermelho
De carne sanguinolenta.
7 A traíra mais idosa
Mostrou-se muito assustada,
Pedindo, porém, à filha
Que ficasse acomodada.
8 Em seguida, lhe falou:
— “Ouça, calma e fique arisca!…
A carne que estamos vendo
Tem nome: chama-se isca.
9 “Dentro dela, existe um chuço
Que tem o nome de anzol.
Um punhal curvo e cruel
Que se vê, à luz do sol.
10 “Atrás dele fica um homem
Que o governa com mão forte,
Espalhando em nossas águas
Terríveis quadros da morte.
11 “Já vi muitos companheiros
Pelo anzol, sendo arrancados
E há quem diga que depois
São eles estraçalhados.
12 “Agora, fuja, filhinha,
Cheiro de carne extravasa…
Seja traíra correta,
Vivendo dentro de casa.”
13 Em seguida, foi à isca…
Disse à filha: “Saiba disto:
Esta carne em sangue é linda!…
Sou traíra e não resisto.”
14 Passou a comer a isca,
Bocada para bocada,
Mas quando caiu no anzol
Logo, logo, foi pescada.
15 A filha voltou a sós,
A recordar mãe-traíra,
Pensando no que escutara
E meditando o que vira.
Jair Presente
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