Há vinte e cinco anos atrás, D. Esmeralda Bittencourt, dinâmica irmã nossa que muito contribuiu na faixa assistencial espírita, na Guanabara e fora dela, residia na Rua Itapiru, Rio, em companhia de filha menor, e, na mencionada rua, relacionaram-se cordialmente com um açougueiro português, de nome Manuel, tipo de estatura média, epiderme avermelhada. Entre um quilo e outro de carne vendida, surgiram naturalmente conversas em torno de aparições e casas mal-assombradas, manifestações de fantasmas em vilarejos e províncias portuguesas. Um dia, Manuel Açougueiro disse à D. Esmeralda Bittencourt que estava desejoso de integrar ordem espiritualista secreta que funcionava no bairro de Lins. D. Esmeralda, criatura experimentada, redarguiu:
— Mas, seu Manuel, nada melhor do que Doutrina Espírita com seus postulados cristalinos e suas diretas consequências aplicáveis na vida de relação humana. Ademais, devemos ter sempre muita cautela no trato com essas sociedades espiritualistas, secretas, cheias de símbolos e condicionamentos que desviam o sentido da unidade espiritual, fragmentando-nos a mente em fenômenos e manifestações ilógicos, extravagantes.
O certo, porém, é que o açougueiro lusitano acariciava o propósito de se matricular na ordem, isto fazendo e obtendo o primeiro grau de iniciação, denominado “templário”. Meses depois, a filhinha de D. Esmeralda Bittencourt penetrou impressionada o reduto doméstico, e disse à genitora:
— Mamãe, a senhora sabe quem foi que desencarnou? — E ante o espanto dela:
— O senhor Manuel Templário.
Denominaram as duas assim ao açougueiro, após o seu ingresso na Ordem do Lins.
A família do lusitano vendeu o açougue, incontinenti, e retornou a Portugal. D. Esmeralda e a filha, meses após, se transferiram para o Meyer, residindo na Rua Caxambi. Passaram-se alguns anos e nossa prestimosa irmã foi a Pedro Leopoldo travar contato com Chico Xavier. Durante aquela tarde, enquanto ela e D. Maria Xavier conversavam na cozinha desta última, Chico Xavier, em sala ao lado, extraía receituário mediúnico para as pessoas humildes das adjacências; parou, rapidamente, a psicografia e falou à D. Esmeralda:
— Estou vendo ao lado da senhora uma entidade espiritual, de estatura média, de pele meio avermelhada, abraçando-a carinhosamente e perguntando se se lembra dele: dá o nome de Manuel Templário.
Dona Esmeralda embargou-se até às lágrimas e Chico concluiu, de maneira peremptória:
— O nosso Manuel pede-me lhe diga que a senhora tinha razão no caso da organização secreta. Aquilo não lhe auxiliou a libertação espiritual de maneira decisiva. Nada melhor do que a Doutrina Espírita para simplificar nossas vidas.
Elias Barbosa
[1] Depoimento prestado na residência do Autor, em Uberaba, na tarde de 20 de fevereiro de 1968.