1 Querida mamãe, meu caro papai, com a bênção de Jesus, rogo para que me auxiliem sempre.
2 Estou aqui com alguns amigos. Supliquei permissão para falar-lhes qualquer cousa e consegui.
3 Creio, mamãe, que isso acontece por seu amor, por seu carinho. Dizem que o coração quando ama, vence a morte e vence mesmo. Estou ouvindo as suas palavras.
4 Se eu não pudesse dizer aqui que sou um Espírito ainda fraco e endividado, muitos julgariam que seu Dráusio foi um santo. Mas todos os nossos irmãos presentes sabem que para as mães os filhos são sempre anjos. 5 Acredite, porém, que embora não as mereçamos, nem Diógenes e nem eu, as suas palavras caem sobre nós como orvalho divino. Elas penetram nossas almas e afirmam que a senhora e papai confiam em nós.
6 Que felicidade pode existir maior do que esta, mãezinha, a de poder debruçar-me com o auxílio de muitos amigos espirituais sobre o papel e escrever-lhe, extravasando o meu coração? 7 Que alegria existirá mais alta do que esta — a de poder dizer que estamos vivos, que o acidente não nos consumiu a personalidade e que as cinzas do túmulo cobriram apenas a roupa estragada que não nos servia mais?
8 Estamos bem, recuperando o nosso equilíbrio a pouco e pouco.
9 A princípio, confesso que a minha impressão foi indescritível. Compreendi que o fim chegara, quando o impacto do caminhão sobre nós como que nos reduzira a farrapos de carne sanguinolenta.
10 Vi tudo, qual se poderosa força me conservasse em vigília. O medo apossou-se de mim e orei — orei como a senhora pode imaginar, esmagado de angústia e gritando de dor.
11 Pensei na senhora, no papai, em todos os nossos entes amados, sem esquecer a nossa querida Cristina. Entretanto, minha primeira ideia foi tentar agir em auxílio ao Diógenes, mas debalde. Ele, Ademar e Carlinhos, eles todos jaziam inertes.
12 Alguém aproximou-se de mim. Era a vovó Maria Philomena que eu não conhecia. Recebeu-me nos braços e disse-me que o vovô Rosin estava em preces para nós. Não entendia nada do que ouvia, mas aceitei-lhe os braços carinhosos, com a certeza de que ela vinha por bênção de Jesus, em nosso socorro.
13 Em seguida, outros amigos espirituais chegaram às pressas. O próprio Dom Romualdo de Seixas comandava as providências iniciais e vi que ele e os outros nos davam passes que compreendi como sendo um bálsamo para nós.
14 Não sei o que Diógenes, Carlinhos e Ademar terão sentido de pronto, mas quanto a mim, conquanto ligado ao corpo abatido, senti sono e repousei…
15 Despertando na Casa de Saúde Espiritual, onde a senhora nos viu, procurei por Diógenes e pelos outros… Gradativamente, com o correr dos dias, fui sendo atendido e revi os três, um a um…
16 Meu primeiro problema veio ao receber os pensamentos angustiantes de papai que desejava morrer conosco. 17 Ah! mamãe, quanto devemos à sua fé… 18 Por dentro de mim eu via tudo o que nos chegava de casa e a visão de papai desesperado me enlouquecia; 19 as preces da senhora me auxiliavam, os pensamentos tristes do papai Sampaio me afligiam e as lágrimas de Cristina caíam sobre mim parecendo gotas de fogo no coração. 20 Somente a poder de resignação e de prece, consegui sustentar-me!
21 Agora, tudo vai clareando para mim e para o Diógenes. 22 A senhora nos visitou, sim, naquela abençoada Instituição dedicada aos que chegam aqui mais cedo. 23 Mas cedo, mamãe, não quer dizer fora da hora. Diógenes e eu devíamos vir para cá no momento em que se verificou o desastre e naturalmente pelo desastre e não noutras condições. É o passado, mãezinha, que exigia isso de nós. 24 Não houve culpa do motorista do caminhão que a senhora fez muito bem de desculpar e nem se pode afirmar que o Carlinhos estivesse guiando com abuso do trânsito, apesar dele estar inquieto, com a preocupação de retornar ao ambiente doméstico. 25 Resgatamos nossos débitos, a Lei da reencarnação absolveu-nos. Realmente, mamãe, quem poderá dizer que provação é felicidade? Mas não será uma bênção cumprir a Lei de Deus? Estejamos assim conformados.
26 Rogo ao papai não mais pensar em desânimo ou violência consigo mesmo.
27 Papai, há milhares de crianças e rapazes na penúria, necessitando de pais e mães, tão carinhosos e tão bons quanto o senhor e mamãe. Trabalhemos pelo bem deles. 28 Aqui, estamos aprendendo que a maior felicidade é fazer a felicidade dos outros. E só pela caridade bem compreendida, a felicidade verdadeira pode nascer. 29 Caridade, meu pai! Caridade com os outros para que nós sejamos felizes e possamos merecer a ventura do reencontro mais tarde.
30 Rogo à senhora, mamãe, confortar Cristina e dizer-lhe que estamos juntos. Os noivos que se amam com o amor de Jesus podem ser bons irmãos. Serei para ela um companheiro espiritual e estou pedindo a Deus para que ela encontre um jovem amigo e leal que ampare a ela doando-lhe a felicidade que não pude dar. Isso não é esquecer, é compreender-nos uns aos outros.
31 Agradeço a todos os nossos Sampaio as orações com que me ajudam. A senhora continue firme na fé viva. 32 Esteja certa de que nos tem visto, quando se encontra fora do corpo. As visões e os encontros com vovó Rosa, tia Nena, Sérgio, Cristina e Odorica são todos verdadeiros. 33 Todas as pessoas têm vida fora do corpo físico, mas vejo presentemente que a lembrança não é habitualmente permitida para que os nossos amigos encarnados não se desviem e nem esqueçam as suas obrigações no mundo.
34 Diga à família de Ademar que ele está muito bem amparado e creio que em breve já conseguirá trabalhar mediunicamente no grupo a que se encontra ligado desde as reuniões que frequentava; 35 Carlinhos ainda sofre e muito porque de nós todos é aquele que mais precisava estar ao lado da família, mas esperamos que os entes queridos dele o auxiliem com a paciência e a oração; 36 Diógenes vai bem, no entanto é o coração juvenil que todos nós conhecemos; 37 quanto a mim tenho recebido de nosso irmão Belilo e de vovó Maria Philomena e por intermédio deles o auxilio de muitos benfeitores espirituais, o apoio de que ainda me sinto necessitado.
38 Quero restaurar-me, mamãe, quero trabalhar, preciso levantar minhas forças e servir: Ajudem-me a senhora e papai.
39 Não posso prosseguir escrevendo porque o tempo aqui é também medido e respeitado como aí. A todos os nossos, especialmente ao tio Roberto, a nossa gratidão. 40 E reunindo a senhora e o papai no meu abraço de muito carinho, a pedir para que não chorem mais, sou, com todo o coração, o filho reconhecido,
Dráusio
Elias Barbosa
[1] Zilda Giunchetti Rosin, “Perda de Entes Queridos”, Edição Calvário, São Paulo, 1968, págs. 67-70.
(Mensagem recebida em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de segunda-feira, dia 17 de outubro de 1966, pelo médium Francisco Cândido Xavier, dirigida aos pais do comunicante Sr. Amílcar Rosin e Sra. D. Zilda Giunchetti Rosin, residentes na capital de São Paulo.)