O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Presença de Chico Xavier — Depoimentos diversos / Mensagens familiares


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Precioso depoimento do Prof. Dr. J. Melo Teixeira n

A certa altura da entrevista que concedeu ao “Diário da Tarde”, eis o que disse Melo Teixeira:

Por pura especulação, intelectual, desde muito me preocupo com a fenomenologia supranormal ou metapsíquica, como lhe chama o grande Richet.

Sou, pois, um investigador curioso do assunto e não de hoje. Possuo um acervo de observações bem interessantes que me têm feito refletir e julgar tais fatos com a precisa circunspecção intelectual.

O próprio Chico Xavier foi; por certo tempo, objeto de minhas pesquisas.

Posso, pois, depor com certo conhecimento de causa e com isenção plena de espírito.


AUTÊNTICO FENÔMENO

Mais adiante, o Prof. Melo Teixeira afirma:

— Chico Xavier é em suas atividades supranormais um “fenômeno”; integralmente um “fenômeno” real, inegável, absoluto, que cumpre estudar, compreender e, se possível, explicar.

Negar, por em dúvida, deformar o fato; “sorrir superiormente”, desdenhar e concluir de oitiva, pode ser uma atitude muito cômoda, mas que a ninguém convence nem instrui.

O homem de pensamento, de ciência, diante de um fenômeno “novo” ou “anormal”, não pode, mais, negá-lo, aprioristicamente. Já vai longe o dogmatismo científico. Deve, sim, observá-lo, e aconselhava Magendie — “observé comme une bête”. Só então estará em situação de estudá-lo, entendê-lo e explicá-lo.


PASTICHE INADMISSÍVEL

— No caso vertente não se pode admitir, como explicação o “pastiche” literário; uma maravilhosa capacidade de imitação de estilo. Tampouco sumarizar a interpretação em simples caso de fraude ou mistificação, por prévia elaboração de composições literárias simuladamente escritas de momento como se então recebidas, ou simples reprodução por memória, de trabalhos alheios adrede e meditadamente redigidos.

Tais argumentos são por demais elementares e insubsistentes e só podem ser esposados por quem jamais viu como Chico Xavier os elabora e em que condições os escreve.

São um “pis aller” que só viria complicar e confundir ainda mais a questão, já de si tão intrincada.

Só quem nunca presenciou, em circunstâncias diferentes de observação, Chico Xavier produzir seus trabalhos; só quem nunca, de propósito preconcebido, lhe falou e com ele trocou ideias, para poder seguramente avaliar-lhe as possibilidades intelectuais e o ínfimo acervo de seus conhecimentos; só quem não conhece o meio em que ele vive e os recursos de cultura que oferece; e só quem nunca lhe leu e analisou a multifária obra escrita é que poderá ingenuamente, falar em mistificação e sobretudo em “pasticherie” e contrafação de estilo e de autores.

Fazer “pastiche”; imitar o estilo de prosadores e poetas “à la manière de” — depende de pendor e jeito especiais, exige prévia e diuturna leitura dos autores a imitar; paciente esforço de elaboração, de retoques, de policiamento da produção conseguida e isto em tentativas que demandam tempo.

Fazê-lo, como Chico Xavier o costuma, de improviso, numa elaboração e redação instantâneas, sem segundos sequer de meditação para coordenar ideias, passando em sucessão ininterrupta da prosa ao verso, da página de ficção para a de filosofia, ou moral; trasladando a composição para o papel em escrita manual vertiginosa que qualquer não consegue em trabalho de cópia ou quando reproduz um assunto que tenha de cor — é alguma coisa de inexplicável, que não está ao alcance de qualquer imitador de estilos ou amadores de contrafação literária.


NÃO EXISTE CIÊNCIA INFUSA

— Mas, vá que tal maravilha seja admissível: imita-se o estilo; a técnica do verso; o rimário preferido; o meneio da frase; a escolha do vocabulário; a feição e natureza das imagens. Mas, e as manifestações de cultura, de erudição, nos mais diversos assuntos, que o contexto revela?

Também isso se pode imitar, improvisar?

Como explicar, dentro da imitação do estilo, as citações certas e adequadas de datas e fatos históricos; de acontecimentos e personalidades; os apropósitos elucidativos do tema; as referências, comparações e conceitos científicos, críticos, filosóficos, literários, que somente um lastro de conhecimentos variados, sedimentados e sistematizados no tempo permitem e só dominados por leituras e estudos pregressos, devidamente meditados? Tudo isso é passível de imitação, de improvisação?

Improvisar cultura, erudição, conhecimentos, é crer em “ciência infusa”; é admitir sabedoria de “geração espontânea”; é conceber erudição congênita ou hereditária.

Não. O subconsciente recebe, regista, acumula e reproduz, fiel ou deformado, mas somente o que passou pela porta crítica da consciência. Não cria do nada.

Conhecimento não se improvisa; adquire-se.

É precisamente o aspecto da erudição, a evidenciação de conhecimentos, o que mais ressalta, muito acima do estilo, e nos moldes culturais do autor, na obra póstuma do glorioso maranhense, como em outras páginas de prosa e particularmente nas poesias de Junqueiro, de Antero de Quental, de Hermes Fontes e mesmo de Augusto dos Anjos e vários outros.

Para tal explicação teríamos de conceber Chico Xavier como uma cerebração incomum, dotado de capacidade de ideação e improvisação fora de todos os cânones da Psicologia normal. Ou, então, admitir que outra cerebração excepcional, anônima, desconhecida, exista em Pedro Leopoldo, capaz de escrever no gabinete essa multivariedade de páginas de ficção, de filosofia, de crítica, de religião e de moral, em prosa e verso, em estilo imitativo perfeito e que, por pilhéria, se ocultasse e impersonalizasse, somente para “embelecar os pacaus” e fazer-nos crer em almas do outro mundo.

Não verdade, seria “trop fort”.


ONDE RESIDE O FENÔMENO

— Não é preciso julgar-se Chico Xavier um analfabeto, “de pai e mãe”, para só então admitir que ele seja incapaz de “pastiches” ou de imitação de estilos.

Disponha ele até de alentada cultura científica e literária, ele ou mesmo algum membro de academias de letras, e, ainda assim, seriam absolutamente incapazes de produzir obra literária, em prosa e verso, na profusão em que o tem feito e sobretudo nas “condições” em que ele perpetra as páginas, que tem divulgado.

O modo, a maneira de produzi-las é que é insólita e refoge a todo mecanismo normal psicológico.

Nisso é que reside o fenômeno que urge elucidar.

Uma ou duas das páginas maravilhosas, atribuídas a Humberto de Campos, atribuídas à luz forte de lâmpadas elétricas, Chico Xavier escreveu em laudas corridas, sem se interromper um segundo para concentrar o pensamento.

Fronte amparada na mão esquerda, em ponto de apoio sobre a mesa, a mão direita célere deslizava no papel, em movimento puramente automático, mecânico, enquanto ele, Chico Xavier, em lucidez perfeita, podia responder a uma ou outra interpelação acidental sem interromper a redação do que elaborava.

Assim, igualmente na produção de dois maravilhosos sonetos: um à Antero de Quental, e outro magnífico de inspiração, de forma e de verdade, à Hermes Fontes, improvisado este em condições tão especiais e singulares, que valeu por uma experiência perfeita.


O PROBLEMA A INVESTIGAR E RESOLVER

— Esses são os fatos reais, que precisam ser vistos e devidamente analisados.

Por que mecanismo se processam eles?
Esse é o problema a investigar e resolver.

Mistificação, grande embuste, no caso, são palavras sem significação que não merecem conjeturas decentes. É a saída fácil dos que não conhecem ou temem enfrentar a questão.

Capacidade intelectual simplesmente dotada de processos psicológicos específicos, individuais? Então é Chico Xavier um supranormal fora dos limites do físio-psiquismo humano. É portanto uma exceção à regra, que precisa ser estudado.

Será uma organização psíquica capaz de polarizar forças e emanações mentais ambientes e dinamizá-las voluntariamente?

Outro fenômeno de Parapsicologia que cumpre interpretar.

Ou, como o admitem os espíritas, será ele um mero e passivo agente, sobre o qual, no caso em apreço, teria atuado o Espírito do próprio Humberto de Campos, sobrevivo ao perecimento da matéria corpórea?

Outro angustioso fenômeno a demandar decisivas elucidações, mais complexo e obsidiante ainda, por nos equacionar o misterioso problema do ser ou do não-ser.”


E atentemos para a conclusão do Prof. Melo Teixeira:

— O fenômeno aí está: é real. Cumpre estudá-lo e interpretá-lo, dando-lhe uma solução satisfatória.
Poderá ser dada?
Dicant Paduani.


Elias Barbosa



[1] “Diário da Tarde”, de Belo Horizonte, 28-7-1944. Dr. J. Melo Teixeira, distinto Catedrático de Psiquiatria da Universidade de Minas Gerais, Belo Horizonte.


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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