1 Meu querido pai, querida mamãe, minha querida Edna.
2 Trazido por amigos estou aqui para um bilhete de confiança.
3 Encontrei a vida real assim como náufrago alcança a margem com que não contava.
4 Esfumaram-se as ilusões do materialismo, abandonei a poeira da negação.
5 Estou vivo, eu que acreditei na morte como sendo essência do nada.
6 Sinto falta da fé agora que encontrei a certeza. Isso parecerá um paradoxo, mas, não é.
7 A confiança em Deus e na vida espiritual ter-me-ia levantado para a compreensão e, agora entendo que a compreensão é semelhante à luz ofuscante que cega os olhos ao em vez de ajudá-los.
8 Rogo a vocês todos, mas especialmente a vocês três que me amparem.
9 Querida Edna, doze anos de confiança e felicidade, união e paz, não são doze horas. Confie.
Não procure morrer e nem faça intimação à Providência Divina.
10 Somos criaturas insignificantes que as verdades da vida arrasam quando encontramos com a vida real.
11 Faça uma pausa em nossas ideias de negação. Medite. 12 Meditemos e, se você cometer uma falta, qual seja o momento de vir antes do momento adequado, não me perdoarei.
13 Você foi e é minha esposa. Sou responsável por você tanto quanto você é por mim.
14 Não me procure nas cousas inanimadas.
Não me busque em retratos mortos.
Observe com mamãe que fotos de um homem dão notícia dele, apenas de tempo para tempo.
15 A criança que fui antigamente e, o rapaz que eu era ontem já haviam desaparecido quando nos achávamos ainda juntos.
Veja-me em nossas lembranças, no espelho de nossas memórias, no livro do coração.
16 E, quando você puder, reajuste as nossas ideias.
17 Rogo-lhe, não apenas rogo a você, mas, suplico ao seu coração querido para que se interesse pelos conhecimentos espíritas-cristãos.
18 Nesse sentido, peça a meu pai orientação. Papai se vê abatido ou aparentemente derrotado porque você e mamãe não cogitam de outra coisa senão de angústia, como se a vida houvesse terminado para nós todos.
Reerguimento, peço a todos um reerguimento geral.
19 Amaury, rogo ao nosso Amaury calma, paciência. Auxiliem-me vocês todos.
20 Desde a partida do tio Joaquim, reconheci que as horas do meu corpo estavam contadas.
É verdade que poderia ter permanecido em casa, desfrutando descanso terapêutico, entretanto, vocês não ignoram que me havia habituado ao trabalho.
21 O compromisso era minha segunda natureza, quando se tratasse de atendê-lo, fossem quais fossem as circunstâncias.
Em vista disso, parti sem o conforto da presença de vocês, mas, creiam que, se estava fora do lar, atendi a deveres que me chamavam ao desempenho da solidariedade humana.
22 O homem não pode ser julgado pelo lugar que foi surpreendido pela morte e, sim pela sua própria consciência.
23 Jesus deixou a Terra entre dois malfeitores e, a um deles prestou serviço imediato, na condição de advogado do Bem Eterno, prometendo amparar-lhe o ingresso na vida superior.
24 Não faço confronto por vaidade. Conheço a minha própria pequenez.
Falo nisso porque, à distância dos entes amados, um homem qualquer e, sobretudo um homem do povo qual fui, é passível de todas as reprimendas, quando circunstâncias desfavoráveis lhe patrocinam momentos menos felizes.
Ajudem-me conservando serenidade e confiança.
25 Mãezinha, sustente-me com suas preces.
26 Edna, veja a vida lá fora — lá fora do nosso pequeno paraíso doméstico. Abra a janela da sua inteligência e anote as dores maiores que as nossas.
Eu sei que você é minha fonte de bondade e será para os que sofrem o que nós dois juntos não conseguimos ser.
27 Trabalhemos agora noutros campos. Você concordará em que estivemos felizes numa concha dourada, vagando no oceano de nossos próprios sonhos.
28 Agora, minha querida, estamos golpeados, agoniados, feridos, confundidos, mas é possível regenerar as nossas chagas, transfigurando-as em pérolas de carícias e esperança.
29 Chore, mas não desfaleça, lute, mas não desespere.
Deus virá sobre nós dois como o Sol que, em cada dia novo vem sobre as trevas.
30 Temos filhos, mas, os filhos da penúria para os quais trabalharemos doravante e com mais amor, os filhos de ninguém que se nos aninharão nos braços, desde que você queira viver e me auxiliar.
31 Não me procure mais.
Encontre-me. Isso pode ser feito em você mesma.
32 Mãezinha, meu pai, não posso estender-me.
33 Vovó Glória e nosso amigo Dr. Bezerra de Menezes estão sustentando os meus braços e guiando meu lápis.
34 Escrevo porque é preciso. Escrevo para que não venham, para que respeitem a morte, porque, atrás da morte, está a luz da vida.
35 Abençoem-me.
Recebam todo o coração do filho, do esposo, do amigo, do companheiro.
Luiz n
Elias Barbosa
[1] De uma reportagem de Antônio Fonseca de Abreu, publicada em “O Triângulo Espírita”, de Uberaba, Minas, Ano I, nº 12, 1-11-1967. Mensagem psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, na noite de 21-7-1967, após a recepção habitual da página de Emmanuel. Dr. Orlando de Almeida Cardoso, pai do comunicante, juntamente com sua esposa e nora, assistiram à psicografia da mensagem.
[2] Dr. Luiz Orlando Rodrigues Cardoso, advogado, que residia no Rio, e era Procurador do então Estado da Guanabara. No dia 17 de julho de 1967, completaria 40 anos de idade, mas desencarnou no dia 8 de julho.
(Nota do Autor).