O célebre médium brasileiro, nascido em 2 de abril de 1910, na pequena cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, é filho de um operário pobre e inculto que viveu 90 anos e faleceu em 6 de dezembro de 1960, chamado João Cândido Xavier, e de uma lavadeira chamada Maria João de Deus, morta em 29 de setembro de 1915, quando o filhinho contava apenas cinco anos de idade. Como órfão de mãe em tenra idade, o menino sofreu muito em casa de pessoas de coração duro.
Aos nove anos de idade o pai o empregou como aprendiz numa indústria de fiação e tecelagem. De manhã, até às 11 horas, o menino frequentava a escola pública elementar e das 11 em diante trabalhava na fábrica de cotonifícios, até às 2 horas da madrugada. Aprendeu mal a ler, escrever e calcular. Quando concluiu o pequeno curso da escola pública, seu padrinho, José Felizardo Sobrinho, tomou-o como auxiliar de vendedor em sua pequena loja. Depois de algum tempo, porém, o lojista encontrou um vendedor mais hábil para auxiliá-lo e demitiu o afilhado, que então foi trabalhar como servente e ajudante de cozinheiro no café de um Sr. Claudovino Rocha.
Em 1933 o administrador da Fazenda Modelo do Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo, Dr. Rômulo Joviano, deu ao jovem Xavier uma modesta função na fazenda e lá se tornou ele pequeno funcionário público e trabalhou até 17 de janeiro de 1961, quando foi afastado como inválido por sofrer uma doença incurável nos olhos; aposentado, vive até hoje da pensão de aposentadoria, como amblíope.
Sua mediunidade manifestou-se, quando ele estava com quatro anos de idade, pela clariaudiência e clarividência, pois que ele via e ouvia os Espíritos e conversava com eles sem a mínima suspeita de que não fossem homens normais do nosso mundo.
O pai então o supôs louco, porque ele conversava inteiramente sozinho, na aparência, e mostrava pessoas invisíveis para todos os outros.
Quando tinha 17 anos, fundou-se o grupinho espírita “Luiz Gonzaga”, em Pedro Leopoldo, e então se lhe desenvolveu rapidamente a psicografia, isto é, a faculdade de escrever mensagens espíritas. Como psicógrafo começou logo a receber poemas notáveis de famosos poetas mortos, num nível literário algumas vezes mais alto do que ele próprio e os outros componentes do seu grupinho podiam compreender. Uma coleção desses poemas formou o célebre livro “Parnaso de Além-Túmulo”, editado em 1932, quando o médium era um jovem inculto de 21 anos de idade.
Esse livro, com poemas de 56 poetas mortos, abalou profundamente as convicções materialistas dos literatos do País todo, porque o estilo de cada poeta revelava claramente sua identidade, e todos os literatos sabiam que em Pedro Leopoldo não existia biblioteca alguma para consulta nem pessoas cultas que conhecessem todos aqueles estilos para imitá-los tão perfeitamente. O livro já foi reimpresso sete vezes, n em grandes tiragens. É um volume de 420 páginas que tem conquistado muitos eruditos para o estudo do Espiritismo.
Logo depois do ‘Parnaso de Além-Túmulo’; o médium recebeu volumosos romances históricos muito belos e fiéis. Essa série de romances históricos, escritos em uma cidadezinha inculta, pela mão de um jovem sem nenhuma cultura histórica, despertou grande interesse em pessoas eruditas que se lançaram ao estudo do Espiritismo, tentando compreender aquele mistério. Muitos jornalistas de cidades grandes estiveram em Pedro Leopoldo a fim de pesquisarem lá a solução do mistério.
Outros poetas mortos, por intermédio dele, escreveram outros livros que foram depois aparecendo. Até agora, escreve ele sem cessar. Setenta livros n já foram editados, muitos dos quais tiveram diversas e grandes edições. O mais novo desses livros é “Antologia dos Imortais”, no qual aparecem poemas de 110 poetas mortos, escritos por Francisco Cândido Xavier e outro médium, o jovem médico Dr. Waldo Vieira, que atualmente n trabalha juntamente com ele na mesma sociedade espírita, na cidade de Uberaba, Minas Gerais, onde ambos agora residem.
Além de escreverem livros, ambos trabalham para auxiliar os pobres e os enfermos. Trabalham dia e noite em assistência social aos sofredores e já conquistaram muitos colaboradores para esses serviços.
Não só a “Antologia dos Imortais” foi escrita por esses dois médiuns; já receberam vários outros livros em parceria: — o mesmo Espírito escreve um capítulo por um médium e o seguinte pelo segundo e, por fim, reúnem-se os capítulos e verifica-se a perfeita uniformidade do estilo do Autor invisível e a unidade da obra. Nenhum leitor poderia distinguir o que foi escrito por um médium, do que foi escrito pelo outro; a uniformidade é perfeita. Já foram publicados vários livros assim recebidos e demonstram que o Autor é sempre o mesmo, apesar das diferenças pessoais dos médiuns. Outros livros produzidos em parceria se acham em preparação tipográfica.
O Dr. Waldo Vieira nasceu em 12 de abril de 1932, logo depois do aparecimento do “Parnaso de Além-Túmulo”: Ele é médico, mas só para servir gratuitamente aos pobres. É também diplomado em Odontologia.
Ambos consomem seu tempo e seu dinheiro no auxílio a órfãos, viúvas, enfermos e pobres, e, como todos os outros médiuns brasileiros, nenhum direito autoral recebem pelos seus livros.
Todos os grandes médiuns do País trabalham gratuitamente e ainda contribuem para serviços sociais prestados aos infelizes. Alguns deles têm orfanatos, asilos para a velhice desamparada, hospitais, escolas para pobres, instituições estas que são numerosas no País.
A mediunidade de Francisco Cândido Xavier rapidamente transformou a mentalidade do povo brasileiro a favor do Espiritismo e agora o nosso movimento espírita é grande e presta relevantes serviços.
Também o Esperanto recebeu muito auxílio desses grandes médiuns, porque em muitos livros e poemas o estudo da língua é aconselhado aos crentes. Graças a esses conselhos, os espíritas brasileiros trabalham ativamente pelo Esperanto, a Federação Espírita Brasileira publica ótimos livros didáticos, alguns dos quais já com muitas edições.
I.G.B. n
(Traduzido da revista “OOMOTO”, de Kameoka, Kioto-hu, Japão, nº julho/agosto de 1963).
Elias Barbosa
[1] Reformador, 1963, págs. 243-244.
[2] Em 1972, saiu a 9ª edição, estilisticamente estudada, comemorativa dos 40 anos de lançamento da primeira edição. E, em 1978, a 10ª edição.
[3] Até 31 de dezembro de 1969, a bibliografia mediúnica de Chico Xavier alcançou a cifra respeitável de 100 obras. Em março de 1979, o número de livros recebidos pelo médium Xavier, era, exatamente, cento e setenta e um.
[4] Em 1963.
[5] Professor Ismael Gomes Braga