1 Alma humana, alma humana, tu que dormes
Entre os grandes colossos desconformes
Da carne, essa voraz liberticida,
Desse teu escafandro de albuminas,
Em tua mesquinhez não imaginas
A intensidade esplêndida da Vida!
2 Inda não vês e eu vejo panoramas
De luz em gigantescos amalgamas
De sóis, nas regiões imensuráveis,
Auscultando os espaços mais profundos
Na sinfonia harmônica dos mundos,
Singrando a luz de céus incomparáveis.
3 Do teu laboratório de arterites,
De gangliomas, úlceras, nevrites
Ao lado de humaníssimas vaidades,
Não podes perceber as ressonâncias,
Quinta-essências de todas as substâncias
Na fluidez das eletricidades.
4 Aqui não há vertigens de nevróticos,
Nem bisonhos aspectos de cloróticos
Nas estradas de eternos otimismos!
A vida imensa é coro de grandezas,
Submersão nas fluídicas belezas,
Envergando os etéreos organismos.
5 Ante a minhalma fulgem ideogramas,
Pensamentos radiosos como chamas,
Combinações no Mundo das Imagens;
São vibrações das almas evolvidas
E que, concretizadas e reunidas,
Formam luminosíssimas paisagens…
6 Em pleno espaço — Imensidade de ânsias,
Sem aritmologias das distâncias,
Sem limites, sem número, sem fim!
Deus e Pai, ó Artista Inimitável,
Deixai meu ser esdrúxulo, execrável,
No prolongado e edênico festim!
Augusto dos Anjos
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