1 O templo da morte tem portas incontáveis,
Como incontáveis são as almas humanas,
E infinitos seus estados de consciência.
2 Pela porta escura do remorso,
Um dia penetrou os seus umbrais
Uma alma que regressava da Terra.
Lá dentro,
Em nome do Senhor de todos os latifúndios do Universo,
Pontificava o Anjo da Justiça.
3 «Anjo Bom! — disse-lhe a alma súplice —
Eu tenho a minhalma coberta de feridas cancerosas!
Cura-me as chagas purulentas do remorso…
Tenho os meus olhos vendados
E uma treva incomensurável na consciência!
Apaga os meus atrozes padeceres!…»
4 «Filha — respondeu compassivo —,
Para sanar tão estranhas feridas,
Tão amargos pesares,
Só há um recurso:
Volta à Terra!
Lá existe o Regato das Lágrimas,
5 Banha-te nas suas águas cristalinas;
Elas serão o teu bálsamo consolador
E curarão a tua cegueira…
Estás na escuridão absoluta
Pela ausência da luz, do bem na tua alma!
Mas o Anjo da Dor irá contigo;
Ele há-de te guiar através das sirtes do mar encapelado dos sofrimentos,
E te conduzirá ao lugar bendito onde existem as lágrimas salvadoras!…»
E a pobre regressou…
Conduzida pela Dor,
Banhou-se na água lustral dos tormentos,
Submergiu-se no regato encantado, de cuja fonte límpida promana a Salvação.
6 E depois de haver percorrido
Tão tortuosos caminhos,
Inçados de perigos
E de dores amargas,
Reconheceu o luminoso Anjo da Dor…
E nos seus braços magnânimos e compassivos,
Penetrou no templo misterioso da morte
Pela porta maravilhosa da Redenção.
Martha
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