O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Nas despedidas

(Sumário)

1. Depois doutras atividades espirituais numerosas, findou a semana de serviço a que Aniceto nos admitira em sua companhia.

2 Seguíramos o nobre instrutor, através de tarefas variadas e complexas. Sediados no templo acolhedor de Isabel, atendêramos a considerável número de doentes, bem como a irmãos outros perturbados, abatidos, transviados e moribundos. Nosso orientador tinha, para todos os casos, maravilhosos recursos de improvisação, sempre atencioso e otimista.

3 Aqueles poucos dias de trabalho novo encheram-me o cérebro de raciocínios novos e o coração de sentimentos que até então desconhecera.

4 Ao contato das revelações de Aniceto, nos domínios da eletricidade e do magnetismo, reformara todos os meus antigos conhecimentos de medicina. 5 A ascendência mental no equilíbrio orgânico, as forças radioativas, o campo das bactérias, a visão mais ampla da matéria organizada, compeliam-me a nova conceituação científica na arte de curar os corpos enfermos.

6 Alargara-se, sobretudo, em minhalma, o entendimento acerca do Médico Divino que restabelece a saúde do Espírito imortal. A claridade extensa, que me felicitava agora o espírito, fornecia mais largo conhecimento de Jesus. 7 Compreendi, então, que a fé não constitui uma afirmativa de lábios, nem uma adesão de ordem estatística. Procurá-la-ia, em vão, na esfera sectária, nas disputas vulgares, nos cultos exteriores alteráveis todos os dias. 8 Era, sim, uma fonte d’água viva, nascendo espontaneamente em minha alma. Traduzia-se em reverência profunda, aliada ao mais alto conceito de serviço e responsabilidade, diante das sublimes concessões do Eterno Pai. Encontrara um tesouro inacessível à destruição e um bem intransferível, por nascido e consolidado em mim mesmo.

9 Quando o instrutor nos convidou a regressar, sentia-me positivamente outro. Guardava a impressão de haver encontrado as notícias diretas do Senhor Jesus, na descoberta do meu próprio mundo interior.

10 Como poderia pagar ao generoso Aniceto semelhante capitalização de bens imortais?

Havia terminado o serviço de orações, na última reunião semanal da residência de Isidoro e Isabel.

Os trabalhos, sempre ativos, haviam representado esfera de observações e experiências sempre novas.

11 Grande número de amigos de Aniceto acercaram-se do instrutor, ansiosos por partilharem a luz da conversação de despedidas.

O devotado orientador oferecia a todos a sua palavra de bom ânimo, otimismo, alegria e confiança no Senhor, como um príncipe de legenda, cuja boca fosse fonte inesgotável de ouro espiritual.

12 Vicente e eu tínhamos os olhos úmidos, desejosos de externar-lhe verbalmente nosso reconhecimento pelas bênçãos recolhidas; mas, ao nos aproximarmos, o abnegado orientador sorriu e antecipou:

— Agradeçam a Jesus pelo muito que nos tem dado.


2. E tomando a Bíblia, como interessado em fixar o assunto geral no amor às coisas santificadas, leu em voz alta, no capítulo segundo dos Provérbios de Salomão: ( † )

— “Filho meu, se aceitares as minhas palavras e guardares contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o teu coração ao entendimento; e se clamares por entendimento, e por inteligência alçares a tua voz, se como a prata a buscares e como a tesouros ocultos a procurares, então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus.” n

2 Deixou em seguida o livro sagrado sobre a mesa, e sentenciou:

— Lembremo-nos do Senhor em nossas despedidas. Ratifiquemos, irmãos, nossos compromissos de trabalho e testemunho. Em tão pequeno trecho dos Provérbios encontramos muitos verbos que interessam os espíritos cristãos. 3 Aceitar os mandamentos divinos e guardá-los, tornar o ouvido atento e o coração esclarecido, pedir entendimento e inteligência alçando a voz acima dos objetivos inferiores, buscar os tesouros do Cristo e procurar-lhe o programa de serviços, representa o esforço nobre daquele que, de fato, deseja a Divina Sabedoria. Não esqueçamos esses deveres.

4 Como a pausa se fizesse mais longa, um irmão rogou ao generoso amigo prosseguisse na interpretação do texto, mas Aniceto replicou em tom fraternal:

— Por agora, meu irmão, não é mais possível. Outras obrigações nos chamam de longe.


3. E, dirigindo-se particularmente a Vicente e a mim, acentuou:

— Já que voltaremos pela estrada comum, poderemos esperar por nossa amiga Isabel, para apresentar-lhe nossos agradecimentos e despedidas.

2 Daí a momentos, a nobre companheira de Isidoro, abandonando o corpo ao repouso do sono, veio até nós, junto do esposo espiritual, atendendo ao convite mental do nosso dedicado orientador. Aniceto exprimiu-lhe profundo reconhecimento, falou-lhe da nossa alegria, das oportunidades santas do serviço que a bondade divina nos havia proporcionado.

3 Dona Isabel agradeceu, comovidamente, deixando transparecer as lágrimas da gratidão que lhe dominava o espírito.

— Nobre Aniceto, — disse enxugando os olhos, — se for possível, voltai sempre ao nosso modesto lar. 4 Ensinai-me a paciência e a coragem, generoso amigo! Quando puderdes, não me deixeis transviar nos deveres de mãe, tão difíceis de cumprir na carne, onde os interesses menos dignos se entrechocam com violência. 5 Amparai-me as obrigações de serva do Evangelho de nosso Senhor! Por vezes, profundas saudades da família espiritual me dilaceram o coração… desejaria arrebatar meus filhos à Esfera superior, incliná-los ao bem, para que a nossa união divina não tarde nos Planos mais altos da vida. 6 E essas saudades de “Nosso Lar” me pungem a alma, ameaçando, por vezes, minha tarefa humilde na Terra. Nobre Aniceto, não vos esqueçais desta amiga pobre e imperfeita. Sei que Isidoro me segue passo a passo, mas ele e eu precisamos de amigos fortes na fé, como vós, que nos reavivem o bom ânimo na jornada dos deveres cristãos!…

7 A irmã Isabel não pôde continuar, porque o pranto lhe embargara a voz. Aniceto, de olhos brilhantes e serenos, enlaçou-a como pai e falou, brandamente:

— Isabel, segue em teus testemunhos e não temas. Estaremos contigo, agora e sempre. Muitas criaturas admiráveis tiveram a tarefa, mas não esqueçamos, filha, que Jesus teve a tarefa e o sacrifício no mundo. Não nos faltará no caminho redentor o terno cuidado do Guia Vigilante. Tem bom ânimo e caminha!


4. Em seguida, olhando-nos a todos, de frente, o nobre amigo exclamou:

— Agora, irmãos, auxiliem-me a orar!

E conservando Isabel e Isidoro, unidos ao seu coração, Aniceto fixou os olhos no alto e falou com sublime beleza:

2 “Senhor, ensina-nos a receber as bênçãos do serviço! Ainda não sabemos, Amado Jesus, compreender a extensão do trabalho que nos confiaste! Permite, Senhor, possamos formar em nossa alma a convicção de que a Obra do Mundo te pertence, a fim de que a vaidade não se insinue em nossos corações com as aparências do bem!

Dá-nos, Mestre, o espírito de consagração aos nossos deveres e desapego aos resultados que pertencem ao teu amor!

Ensina-nos a agir sem as algemas das paixões, para que reconheçamos os teus santos objetivos!

Senhor Amorável, ajuda-nos a ser teus leais servidores,
Mestre Amoroso, concede-nos, ainda, as tuas lições,
Juiz Reto, conduze-nos aos caminhos direitos,
Médico Sublime, restaura-nos a saúde,
Pastor Compassivo, guia-nos à frente das águas vivas,
Engenheiro Sábio, dá-nos teu roteiro,
Administrador Generoso, inspira-nos a tarefa,
Semeador do Bem, ensina-nos a cultivar o campo de nossas almas,
Carpinteiro Divino, auxilia-nos a construir nossa casa eterna,
Oleiro Cuidadoso, corrige-nos o vaso do coração,
Amigo Desvelado, sê indulgente, ainda, para com as nossas fraquezas,
Príncipe da Paz, compadece-te de nosso espírito frágil, abre nossos olhos e mostra-nos a estrada de teu Reino!”

3 Aniceto calou-se comovido, e, de olhos úmidos, contendo a custo as lágrimas do meu reconhecimento, incorporei-me à nobre caravana que seguiria conosco de regresso a “Nosso Lar”.


André Luiz



[1] Provérbios, 2.1-5. — Nota do autor espiritual.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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